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Imagem: Reuters |
O avião que
transportava o candidato à presidência Eduardo Campos e seis outras
pessoas pode ter voado "invertido", ou seja, "com a barriga para cima"
antes de sofrer a queda, segundo alguns especialistas ouvidos pela BBC
Brasil na França e nos Estados Unidos.
O avião Cessna
Citation caiu em Santos, no litoral de São Paulo, no dia 13. A BBC
Brasil pediu a especialistas em aviação para analisar o vídeo que mostra
a aeronave ainda no céu, poucos segundos antes de sua queda.
O vídeo foi
divulgado nesta semana por uma afiliada da TV Globo. As imagens do
momento da queda foram filmadas por uma câmera instalada em um prédio em
construção.
O especialista
em aviação Jean Serrat, ex-piloto da Air France e ex-vice presidente do
Sindicato Nacional dos Pilotos de Linha (SNPL) da França, acha que o
avião estava invertido pouco antes da queda e ressalta que, se isso
ocorreu, foi erro de pilotagem.
"É possível
pensar que na hora de arremeter (procedimento em que o piloto, durante
um pouso que não pode ser efetuado, decide voltar a subir) o avião
estivesse a uma velocidade muito baixa em relação ao seu peso", diz
Serrat.
"Isso ainda é
mais acentuado se o piloto estiver fazendo uma curva para mudar a
trajetória", diz Serrat. "Uma asa do avião pode ter perdido a
sustentação, fazendo com que o avião virasse e ficasse em posição
invertida, caindo de costas em alta velocidade", afirma o especialista,
ressaltando que se trata de uma hipótese.
"Como a
altitude era muito baixa, o piloto não tinha mais tempo para retomar o
controle e fazer manobras para recuperar o voo", acrescenta o ex-piloto.
"Ou o piloto
não fez os procedimentos corretos com o flat da asa ou não estava na
velocidade adequada no momento de arremeter o avião. O avião caiu em
grande velocidade e com ângulo de descida muito superior ao normal",
acrescenta.
Para Gérard
Arnoux, ex-presidente do Sindicato dos Pilotos da Air France (SPAF), que
realizou investigações paralelas sobre o acidente com o voo Rio-Paris
da companhia aérea, em 2009, o piloto do Cessna que transportava Campos
"perdeu o controle" da aeronave.
"O avião caiu com uma inclinação muito forte e com velocidade muito elevada", diz Arnoux.
Mas
diferentemente de outros especialistas ouvidos pela BBC Brasil, Arnoux
diz não achar, ao observar as imagens do vídeo, que o avião estivesse
invertido no momento da queda.
'Fora de controle'
Após assistir
ao vídeo, o especialista americano Peter Goelz, ex-diretor da National
Transportation Safety Board (NTSB), agência responsável pela
investigação de acidentes aéreos nos EUA, também destacou o fato de o
avião parecer estar invertido.
"Parece que o piloto perdeu completamente o controle", disse Goelz à BBC Brasil.
Ao comentar a
hipótese de desorientação espacial do piloto, o americano diz que "é
possível ocorrer", mas salienta que, "em um avião como o Citation, que
tem sistemas de controle de voo muito sofisticados, é pouco provável que
seja apenas isso, deve haver algo mais".
Segundo especialistas, desastres aéreos costumam ser resultado de um conjunto de fatores.
Apesar de
ressaltar que é muito difícil, neste momento, determinar o que causou o
acidente, Goelz acredita que os investigadores também irão concentrar
sua atenção, entre outros fatores, sobre as condições meteorológicas na
hora do desastre.
Pressão
O americano
destaca que um dos fatores observados nesse tipo de acidente é a
possível pressão sobre a tripulação para voar mesmo com mau tempo. Goelz
lembra que houve nos EUA vários casos de acidentes aéreos com políticos
eleitos ou candidatos em condições semelhantes.
Em 2000, o
governador do Estado do Missouri, Mel Carnahan, morreu em um desastre
aéreo durante sua campanha para o Senado. O avião, um Cessna pilotado
pelo filho do candidato, caiu em uma área de floresta durante uma
tempestade, matando as três pessoas a bordo.
Em 2002, o
senador Paul Wellstone, de Minnesota, que buscava a reeleição, morreu 11
dias antes do pleito, em um acidente que matou outras sete pessoas,
entre elas sua mulher e sua filha, também durante mau tempo.
"Como há um
candidato ou autoridade eleita a bordo, e ele tem um compromisso, há
maior pressão sobre a tripulação para completar o voo, completar a
missão", afirma Goelz.
"Tenho certeza
de que as pessoas (investigando o acidente no Brasil) estão preocupadas
com isso. Que esta tripulação queria completar sua missão para o
candidato. E com o tempo ruim. Em circunstâncias normais, sem o
candidato no avião, talvez não o tivessem feito."
Técnicos
americanos da NTSB, da Federal Aviation Administration (FAA), autoridade
da aviação civil dos EUA e da Cessna, fabricante da aeronave, com sede
nos EUA, foram enviados ao Brasil para auxiliar nas investigações.
Também foram enviados técnicos do Canadá, país da fabricante do motor, a
Pratt & Whitney Canada.
Daniela Fernandes e Alessandra Correa
BBC Brasil
Editado por Folha Política