"Estou morto socialmente", diz juiz federal que publicou fotos polêmicas na internet. Marcelo Cesca "agradeceu" pelo Facebook os mais de 2 anos que está parado recebendo salário integral
“Estou morto socialmente”, diz juiz que publicou fotos polêmicas na rede (Reprodução / Facebook)
“Eu agradeço ao Conselho Nacional de Justiça por estar há 2 anos e 3 meses recebendo salário integral sem trabalhar, por ter 106 dias de férias mais 60 dias pra tirar a partir de 23/03/14, e por comemorar e bebemorar tudo isso numa quinta-feira à tarde do lado de minha amada gata de 19 anos!”, escreveu em uma imagem publicada no último dia 13, que gerou reações diversas nas redes sociais.
Morto socialmente
O juiz garantiu que nunca teve a intenção de esbanjar a suposta “vida mansa” de uma tarde de quinta-feira na praia, ao contrário da interpretação de muitos. Ele quis, sim, reivindicar seus direitos. “Em nenhum momento foi um deboche ou ironia com o contribuinte que paga meu salário ou com o cidadão. É, sim, um protesto contra o CNJ, que teria de agir com celeridade de 60 dias no meu processo de retorno ao trabalho após meu tempo de licença por invalidez mental”.Em novembro de 2011, Cesca foi afastado do cargo por conta de uma depressão que o teria levado a sofrer surtos psicóticos. “Mas era um caso de quatro ou cinco meses de licença. Em agosto de 2012 eu já deveria retornar ao trabalho. Eu havia sido liberado por diferentes corpos médicos. Mas, quase dois anos depois, estou eu aqui, querendo trabalhar num cenário em que faltam juízes”, esbravejou.
Cesca prosseguiu. “Me sinto morto socialmente pelo CNJ, pelo TRF… Não tenho apoio nem da minha representação de classe, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe)”.
Esse sentimento de inutilidade perante a sociedade é o que mais incomoda Cesca. Ele explica que, mesmo estando afastado, a profissão de juiz o impossibilita de exercer qualquer outro cargo. “O único posto que eu poderia ocupar é o de professor. Eu poderia ser professor universitário, como já fui, mas com que cara eu chegaria para meus alunos para defender a Justiça quando não posso sequer fazer o que amo e faço bem, que é julgar, pela arbitrariedade de um órgão”.
Persona non grata
“Por que você acha que não julgam meu retorno? Porque sabem que se eu voltar, vou denunciar todos os juízes corruptos. Eu sou capaz de tolerar tudo, menos juízes corruptos”, disparou sem dar maiores explicações.Outros dois motivos que Cesca citou durante entrevista para ser considerado “persona non grata” são uma antiga investigação da qual era suspeito de suborno policial e e-mails furiosos que afirma ter enviado para pessoas do judiciário no auge dos supostos surtos psicóticos.
Na noite da última segunda-feira, o CNJ publicou uma nota à imprensa. “Não há, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), procedimento pendente de análise em que o magistrado Marcelo Antônio Cesca conste como parte. O afastamento do magistrado não decorreu de atuação deste Conselho, mas sim de decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), em processo que avalia a sua higidez laboral. Diante das matérias divulgadas pela imprensa, o corregedor nacional de Justiça, ministro Francisco Falcão, oficiou, nesta segunda-feira (17/2), o presidente do TRF1 para que se manifeste, com urgência, no prazo de 24 horas, sobre as conclusões do Procedimento Administrativo 8.132/2011, que trata do assunto, e indique a data de sua inclusão na pauta de julgamentos”.
Já o TRF1 publicou nota em seu site oficial no final da tarde desta terça-feira. “O Tribunal Regional Federal da 1.ª Região esclarece que o referido magistrado encontra-se regularmente afastado de suas funções, no interesse de processo de verificação de invalidez para fins de aposentadoria, o qual, apesar de tramitar sob segredo de justiça, teve sua existência trazida a público pelo próprio magistrado”.
O órgão afirmou ainda estar “empenhado na rápida solução do processo, mas, sobretudo, que essa solução seja justa e juridicamente válida. O processo encontra-se com vista à Curadora Especial do magistrado, para oferecimento de alegações finais”, concluiu.
Antes me ver na praia do que num caixão
Alegando não ter esperanças de voltar a julgar, Cesca garante não se arrepender das imagens que publicou, por mais que tenha recebido mensagens ofensivas e diferentes interpretações. Pelo contrário: “antes me ver na praia do que num caixão, como já me imaginei nas muitas vezes em que pensei em me matar”.Terra
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