A hipocrisia dá nome à crônica porque é a mais calhorda, a mais cínica, a mais pretensiosamente disfarçada de todas essas “qualidades” agora expostas na epiderme de parte dos brasileiros. O manto, na verdade, sob o qual todas as demais se escondem (até, naturalmente, vez por outra descobrirem-se).
Tornou-se mais evidente esse perfil desgraçado, que ora traço, a partir da eleição do ex-presidente Lula, encontrando seu ápice agora, no governo Dilma. E só por isto, para desnudar esse extrato do nosso povo, tão triste quanto verdadeiro, esses governos já teriam valido. Mesmo não fossem os melhores que este país já teve, e tem (e terá).
Assim, esse pessoal é veementemente contra — mais das vezes agressivamente, até com requintes de crueldade, além de racista, xenofóbico e preconceituoso — o “Mais Médicos”, o “Bolsa Família”, o “PROUNI”, o “Sistema de Quotas”, mas não o é contra o “Ciência sem Fronteiras”, CNPq, CAPES, FAPESP. Por quê? Será porque beneficiária é a classe média a que pertencem?
Alardeiam indignação, revolta, desprezo e fúria com o chamado “Mensalão do PT” e respectivos “mensaleiros” (tema para outra crônica), mas não se insurgem, tampouco exigem apuração, nem antes — com o “Mensalão da Reeleição” do ex-presidente FHC, suas privatizações a preço beirando o vil (…) —, nem agora, com o “Mensalão do PSDB”, com o “TRENSALÃO do Metrô”, tampouco com o HeliPÓptero. Moralismo seletivo é com eles.
É certo, não se há de negar, que a chamada “grande imprensa” do Brasil contribui fortemente para formar esse exército de hipocrisia, afinal é manipuladora, parcial, cínica, deturpadora. Uma imprensa lixo, enfim. Mas isto não exime esses “pensadores” de sua vileza.
Dizem-se democratas, cristãos (ai, Jesus…), justos e honestos, e defendem (pasmem, de novo) que os beneficiários do Bolsa Família sejam impedidos de votar, mas não assim os banqueiros “socorridos” pelo governo anterior, tampouco os beneficiários (eles) daqueles programas voltados à classe média.
Vão à igreja, rezam, dão esmolas, mas são veementemente contra qualquer dos programas de governo que buscam reduzir (e estão reduzindo, “como nunca antes”), nossa tão grande e histórica quanto desumana desigualdade social.
Pois é… A hipocrisia mora aqui. Em parte do Brasil. Mas mora.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político