Aventuras médicas são inspiradas no amor, no desespero e na esperança e alimentadas pela coragem
NOVA YORK - E se você ou seu filho tivesse uma doença crônica que
limitasse seriamente ou ameaçasse sua vida ou a dele, e a medicina
moderna não oferecesse qualquer tratamento efetivo ou aceitável?
Imagine que você possui uma alergia alimentar severa, uma artrite
reumatoide, um transtorno de déficit de atenção com hiperatividade ou
uma epilepsia sem tratamento. Você estaria disposto a arregaçar as
mangas, ficaria desesperado ou seria corajoso o suficiente para sair do
âmbito da medicina estabelecida e procurar ajuda de um terapeuta não
convencional - mesmo que fosse alguém sem treinamento médico ou
científico?
E se você ouvisse falar
de outras pessoas em situações similares que experimentaram um suposto
remédio que pareceu funcionar ou um método que faz sentido
biologicamente?
Em seu novo livro, The Other Side of Impossible (O Outro Lado do Impossível), Susannah Meadows, de Nova York, antiga escritora da Newsweek,
reuniu histórias atraentes sobre pessoas que enfrentaram e conseguiram
superar desafios médicos assustadores. O livro foca em várias famílias,
incluindo a da própria autora, que sentiram que não tinham outra chance
se não entrar no mundo das terapias não comprovadas.
As aventuras familiares por um reino que alguns chamariam de
charlatanismo são normalmente inspiradas no amor, no desespero e na
esperança e são alimentadas por uma coragem e uma determinação
irrepreensíveis no sentido de encontrar soluções para problemas de saúde
debilitantes que desafiam o que a medicina convencional pode oferecer
de melhor.
As histórias impressionam pela persistência contra probabilidades
extraordinárias. Como demonstra a resposta de uma mãe quando perguntada
como consegue perseverar em meio a uma busca de cinco anos para
controlar as incessantes convulsões da filha: "Não podemos não tentar.
Ela ainda não está melhor".
Em sua análise dos casos díspares, mas de certa forma
relacionados, Meadows destaca pelo menos três influências importantes
sobre o bem-estar que ainda precisam receber a devida avaliação no
entendimento do que pode causar ou agravar alguns transtornos médicos
intratáveis.
Uma delas é uma característica chamada "intestino permeável", que
essencialmente são orifícios minúsculos nas paredes intestinais que
permitem que proteínas alcancem a corrente sanguínea, onde podem
desencadear um ataque brutal aos tecidos saudáveis.
Outra é um desequilíbrio dos micro-organismos no intestino e como
a comunicação entre o cérebro e o intestino pode afetar de maneira
adversa o comportamento e a estabilidade emocional. A terceira é a ainda
subestimada interação entre a mente e o corpo, principalmente o efeito
que a ansiedade e o medo têm na resposta do corpo a substâncias que de
outras maneiras seriam inofensivas.
Há talvez um quarto fator, disse Meadows em uma entrevista, que
parece promover a perseverança na busca pela recuperação de uma condição
incurável. "A experiência de lidar com adversidades logo cedo na vida
pode vacinar as pessoas contra a desesperança e levá-las a acreditar
que, se apenas continuarem tentando, podem ter sucesso."
Ou como diz o filho de uma paciente cuja história aparece no
livro. "Coragem é saber que você foi derrotado e fazer alguma coisa de
qualquer maneira."
Essa paciente era a doutora Terry Wahls, que superou uma forma
progressiva de esclerose múltipla para qual a medicina tinha pouco a
oferecer.
Confinada a uma cadeira de rodas reclinável apesar de tentar uma
série de tratamentos convencionais, Wahls pesquisou e depois adotou um
regime que eliminava os grãos, os laticínios e o açúcar, mas incluía 12
xícaras por dia de frutas vermelhas e vegetais, suplementados com carne
de vacas criadas no pasto e peixes gordos. Ela combinou a dieta com
estimulação elétrica neuromuscular e exercícios.
Em um ano, Wahls havia abandonado sua assistência motorizada e
começou a andar de bicicleta. Oito anos depois, ela não tem nem sinal da
doença. No verão passado, a Sociedade Nacional de Esclerose Múltipla,
que vem acompanhando pesquisas sobre alimentação e inflamação, ofereceu
mais de um milhão de dólares para o estudo dos efeitos de sua dieta
sobre a fadiga relacionada à doença.
Meadows resumiu a lição predominante derivada das pessoas que
aparecem em seu livro: "Você tem a escolha de seguir em frente quando os
outros dizem que não dá. Eles não tinham qualquer motivo para pensar
que poderiam ter sucesso, mas simplesmente não desistiram".
Meadows disse que essa perseverança não era algo que ela entendia
quando seu filho Shepherd foi diagnosticado aos três anos com artrite
juvenil poliarticular, uma condição incapacitante que afeta várias
articulações.
Ela e o marido foram informados de que seria improvável que o
menino superasse a doença. Ao ter que encarar a escolha entre não fazer
nada ou tratá-lo com um medicamento potente que "fazia com que se
sentisse mal e não resolvia a artrite", ela ficou sabendo de outra
criança com a mesma condição que melhorou ao evitar glúten e laticínios e
ao começar a tomar óleo de peixe, probióticos e consumir uma erva
chinesa.
"Não tínhamos nada a perder - se ajudou uma criança, talvez
ajudasse a nossa", explicou Meadows. "Em termos de esperança, um exemplo
é muito importante." E como ela relatou quatro anos atrás em um artigo
para o New York Times Magazine, Shepherd melhorou.
Eventualmente, com a ajuda de uma autoproclamada curandeira
chamada Amy Thieringer, que enfatiza a necessidade de acalmar os medos e
a ansiedade ao tentar combater sensibilidades alimentares, Shepherd
gradualmente reintroduziu o glúten e os laticínios em sua dieta e "agora
come de tudo sem problemas, sem articulações doloridas e inflamadas",
contou sua mãe.
Apesar de Amanda Hanson ter sido alertada pelo especialista de
seu filho Hayden que tentar o tratamento de Thieringer para o menino,
que tinha alergias fatais a 28 tipos de alimentos, seria jogar roleta
russa com a vida dele, ela sentiu que não tinha outra chance se não
tentar.
Inspirada pelo testemunho de outras mães com problemas parecidos e
sabendo que os médicos não tinham qualquer solução para as alergias de
Hayden, Hanson foi atrás do programa de Thieringer, conhecido como
técnica de liberação das alergias.
Pegando emprestadas ideias da terapia comportamental cognitiva,
Thieringer primeiro trabalhou para diminuir o medo que Hayden tinha de
certos alimentos antes de reintroduzi-los em pequenas quantidades até
que ele pudesse consumi-los em quantias normais sem nenhuma reação.
Hayden, que agora está com 16 anos, não sofre reações ruins a qualquer alimento desde que terminou o programa seis anos atrás.
Meadows não faz afirmações sobre curas. Seu livro não é
prescritivo, embora descreva a ciência que pode explicar essas
recuperações improváveis sobre as quais escreveu.
"Sou uma jornalista relatando o fato de que existem muitas
pessoas que estão procurando, e em alguns casos encontrando por conta
própria, respostas para problemas de saúde."
Há outra mensagem importante no livro que vale mencionar: os
enormes obstáculos para a produção de provas robustas a favor dos tipos
de abordagens que trouxeram alívio para as pessoas que Meadows
entrevistou.
Os tratamentos frequentemente envolveram uma combinação de
intervenções e poucos, se algum, produtos lucrativos. Assim, nenhuma
empresa pagaria os estudos necessários, que também provavelmente seriam
muito caros e muitos complicados para serem encampados por agências do
governo.