Tumor é o segundo tipo mais comum de câncer de mama.
Na Inglaterra, cientista conseguiu impedir seu crescimento.
Células desse tipo de tumor se multiplicam lentamente
Um dos tipos de câncer de mama mais comuns e mais difíceis de se
tratar -- que se origina no local onde o leite materno é produzido
-- poderá ser curado, no futuro, com um medicamento que impede a ação de
um gene. O feito, obtido em laboratório, é de um brasileiro, Jorge
Reis-Filho, que trabalha em um instituto de pesquisas da Inglaterra.
Há
cinco anos no país, Reis-Filho lidera o Laboratório de Patologia
Molecular do Centro de Pesquisas de Ponta sobre o Câncer de Mama, em
Londres. Sua missão é encontrar alvos de tratamento específicos nos
tumores, para que os médicos possam dispensar, futuramente, o uso da
quimioterapia.
“A quimioterapia tem seus benefícios, mas também
tem muitos efeitos colaterais. O câncer mata, mas a quimio também. Com
alvos específicos, poderemos deixar isso de lado e tratar o câncer com
poucos remédios -- que também não serão tão fortes como os usados hoje”,
afirmou o cientista ao G1.
Para fazer isso,
Reis-Filho e sua equipe analisam a genética das moléculas que compõem os
tumores. “Nós identificamos o genoma completo do tumor, para conhecer
quais genes são importantes para o surgimento e o desenvolvimento do
câncer”, explica. “Com isso, sabemos exatamente quais são as alterações
genéticas causadas pela doença.”
Com a técnica, o grupo do
brasileiro estudou carcinomas lobulares, o segundo tipo de câncer de
mama mais comum -- que atinge cerca de um em cada dez pacientes com a
doença. Esse tipo de tumor é especialmente complicado porque suas
células se dividem muito lentamente, e por terem altas taxas de
hormônios. Com isso, a quimioterapia não funciona.
“Para tratar
os carcinomas lobulares, os pacientes passam por uma cirurgia e depois
tomam remédios, que controlam os níveis de hormônios”, conta Reis-Filho.
“Normalmente, o tumor regride. Mas em apenas 10 anos, 30% das pacientes
voltam a apresentar a doença. E aí o remédio não funciona mais. Não há o
que fazer”, afirma.
Estudando esse tipo de câncer, em um trabalho publicado no americano “Jornal de Pesquisa do Câncer”,
os cientistas encontraram um gene, o FGFR1 em quantidades muito acima
do normal. E concluíram que tinham encontrado seu alvo. “Nossa hipótese é
que o FGFR1 seja o suprimento de energia das células cancerosas nesse
tipo de tumor. É ele que garante sua sobrevivência”, afirma o
pesquisador.
Para testar isso, a equipe utilizou duas
abordagens, em laboratório. A primeira “desligava” o gene. A segunda
usava um remédio para bloquear sua ação. Em ambos os casos, mas
principalmente no segundo, os pesquisadores encontraram sua resposta: o
crescimento dos tumores desacelerou. “É um resultado bastante
promissor”, diz o cientista.
Segundo Reis-Filho a mesma técnica
poderá ser usada também em outros tipos de tumores, tanto de mama quanto
outros. “Essa droga específica ataca o gene FGFR1. E sabemos de outros
tumores que tem esse gene em quantidades acima do normal. Acreditamos
que o tratamento também deve funcionar nesses casos”, afirma.
“Atualmente,
todos os diferentes tipos de câncer de mama são tratados da mesma
forma. Nós acreditamos que, com nosso trabalho, poderemos ter linhas de
ação específicas para cada um deles. Com isso, os tratamentos serão mais
eficientes”, diz o cientista.
O resultado do brasileiro é a
segunda boa notícia para pacientes com câncer de mama em menos de uma
semana. Na edição passada da revista americana “Science”, cientistas
anunciaram que um componente de uma pílula abortiva pode ajudar no tratamento da enfermidade.
http://g1.globo.com