COMPREENDA O MEDO
Osho, você disse que a pessoa que tem medo, não pode amar, nem pode chegar ao estado de deus.
Mas como a pessoa vai fazer para sair desse medo?
Mas como a pessoa vai fazer para sair desse medo?
Por
que você quer sair do medo? Ou você ficou com medo do medo? Se você tem
medo do medo, isto é um novo medo. É assim que a mente vai criando o
mesmo padrão sempre, repetidamente. Eu digo: “Não deseje e então você
chegará ao divino.”. Então, você pergunta: “Realmente, se não
desejarmos, então, chegaremos ao divino?” - você já começou a desejar o
divino.
Eu
lhe digo “se há medo, o amor não pode existir”, então, você fica com
medo do medo. Você pergunta: “Como a pessoa pode sair do medo?”. Isto é
novamente um medo, e mais perigoso do que o primeiro medo, porque o
primeiro era natural; o segundo é antinatural. E é tao sutil, que você
não percebe o que está perguntando – como sair do medo?
A
questão não é sair de nada: a questão é somente de compreensão.
Compreenda o medo, o que ele é, e não tente sair dele, porque, no
momento em que você começa a tentar sair de qualquer coisa, você não
está pronto para compreender aquilo – porque a mente que pensa sair, já
está fechada. Ela não está aberta para compreender, ela não é solidária.
Ela não pode contemplar quietamente; ela já decidiu. Agora o medo se
tornou o mal, o pecado, então saia dele.
Não tente sair de nada.
Tente
compreender o que o medo é. E, se você tem medo, então, aceite-o. Ele
existe. Não tente escondê-lo. Não tente criar o oposto. Se você tem
medo, então você tem medo. Aceito isso como parte do seu ser. Se você
puder aceitá-lo, ele já desapareceu. Através da aceitação, o medo
desaparece: através da negação, ele aumenta.
Você
chega a um ponto onde você sabe que tem medo, e você compreende o
seguinte: “Por causa deste medo, o amor não pode acontecer a mim. Então,
tudo bem, o que eu posso fazer? O medo existe, então, somente uma coisa
acontecerá – eu não fingirei amor. Ou, eu direi à minha amada ou ao meu
amado, que “é por causa do medo que eu me estou me agarrando a você”.
Lá no fundo estou com medo. Serei franco quanto a isso; não mais
enganarei ninguém, nem a mim mesmo. Eu não fingirei que isto é amor. Eu
direi que é simplesmente medo. Por causa do medo, eu me agarro a você.
Por causa do medo, eu vou ao templo, ou à igreja, e oro. Por causa do
medo, eu me lembro de Deus. Mas, então, eu sei que aquilo não é oração,
aquilo não é amor, aquilo é somente medo. Eu tenho medo, então, seja o
que for que eu faça, ele está presente. Aceitarei esta verdade.”.
Um
milagre acontece quando você aceita a verdade. A própria aceitação o
transforma. Quando você sabe que há medo em seu ser e você não pode
fazer nada sobre isso, o que você pode fazer? Tudo que você pode fazer é
fingir, e os fingimentos podem ir ao extremo, ao outro extremo.
Um
homem muito medroso pode ser tornar um homem muito bravo. Ele pode
criar uma armadura ao seu redor. Ele pode se tornar um atrevido
temerário, só para mostrar aos outros que ele não tem medo. E, se ele
puder enfrentar o perigo, ele pode se enganar que não tem medo. Mas até
um homem mais corajoso tem medo. Toda a sua bravura está apenas em
derredor; lá no fundo, ele treme. Para não ficar ciente disso, ele salta
para dentro do perigo. Ele se torna engajado com o perigo, de modo a
não ter consciência do medo, mas o medo está presente.
Você
pode criar o oposto, mas isso não vai mudar nada. Você pode fingir que
não tem medo – isso, novamente, não muda nada. A única transformação que
pode acontecer é você tornar-se simplesmente ciente de que: “Eu tenho
medo. Todo meu ser está tremendo e, seja o que for que eu faça, é devido
ao medo.”. Você se tornou verdadeiro para si mesmo.
Então,
você não tem medo do medo. Ele está presente, é uma parte sua; nada
pode ser feito sobre isso. Você tem de aceitá-lo. Agora você não finge,
agora você não engana ninguém, nem a si mesmo. A verdade está aí, e você
não tem medo dela. O medo começa a desaparecer, porque uma pessoa que
não tem medo de aceitar seu medo, tornou-se destemida – esse é o mais
profundo destemor que é possível. Ela não criou o oposto, então, não há
nenhuma dualidade nela. Ela aceitou o fato. Ela ficou humilde diante
disso. Ela não sabe o que fazer – ninguém sabe – e nada pode ser feito,
mas ela parou de fingir: parou de usar máscaras, faces. Ela se tornou
autêntica em seu medo.
Essa
autenticidade e esse destemor para aceitar a verdade, transforma-o. E,
quando você não finge, não cria um falso amor, não cria uma ilusão ao
seu redor, não se torna uma pessoa de mentira, você se tornou autêntico.
Nesta autenticidade, o amor surge: o medo desaparece, o amor surge.
Esta é a alquimia interna de como o amor surge.
Agora,
você pode amar. Agora, você pode ter compaixão, solidariedade. Agora,
você não depende de ninguém, porque não há nenhuma necessidade. Você
aceitou a verdade. Não há nenhuma necessidade de depender de ninguém;
não há necessidade de possuir e ser possuído. Não há nenhum anseio pelo
outro. Você se aceita – através desta aceitação, o amor surge. Ele
preenche seu ser. Você não tem medo do medo, você não está tentando se
livrar dele. Simplesmente ele desaparece quando aceito.
Aceite
seu ser autêntico e você será transformado. Lembre-se disto:
aceitabilidade, total aceitabilidade, é a chave mais secreta do tantra.
Não rejeite nada. Através da rejeição, você ficará aleijado. Aceite tudo
– seja o que for. Não condene isso, e não tente escapar disso.
Há
muitas coisas implicadas nisso. Se você tentar se livrar disso, você
terá de cortar seu ser em departamentos, em fragmentos, em partes. Você
ficará aleijado. Quando você joga fora uma coisa, alguma outra coisa
também é jogada fora com ela – a outra parte dela – e você fica
aleijado. Então, você não é total. E você não pode ser feliz, a menos
que seja total e íntegro. Ser íntegro é ser santo. Ser fragmentado é ser
incompleto e enfermo.
Assim,
eu direi: tente compreender o medo. A existência deu-o a você. Deve
haver algum significado profundo, e deve haver algum tesouro escondido,
então, não o jogue fora. Nada lhe é dado sem algum significado. Nada
existe dentro de você que não possa ser usado numa sinfonia mais
elevada, numa síntese mais elevada.
Tudo
o que existe em você, quer você compreenda ou não, pode se tornar um
degrau. Não pense nisso como uma barreira: permita que se torne um
degrau. Você pode tomá-lo como algo que impede a caminhada – não é
impedimento. Se você puder andar sobre isso, se você puder usá-lo,
firmar-se sobre isso, uma nova visão do caminho lhe será revelada num
nível mais elevado. Você será capaz de olhar fundo na possibilidade, no
futuro, na potencialidade.
(...)
Mas,
se você tentar esconder o medo, destruí-lo, criar o oposto dele, você
ficará divido e se tornará fragmentado, desintegrado. Aceite o medo e
use-o. E, no momento em que você sabe que você o aceitou, ele
desaparece. Tente pensar: se você aceita seu medo, onde ele está?
Um
homem veio a mim e disse: “Eu tenho muito medo da morte.”. Ele tinha
câncer, e a morte estava perto; a qualquer dia, ela podia acontecer. E
ele não podia adiá-la. Ele sabia que ela ia acontecer. Dentro de meses,
ela estaria ali – ou até mesmo dentro de semanas.
Ele
estava verdadeiramente, físicamente e literalmente tremendo. Ele disse:
“Me dê apenas uma coisa: como eu posso sair deste medo da morte? Me dê
um mantra, ou alguma coisa que possa me proteger e me dê coragem para
encarar a morte. Eu não quero morrer tremendo de medo.”. O homem disse:
“Eu já estive em muitos santos. Eles me deram muitas coisas. Eles foram
muito gentis. Um me deu um mantra, outro me deu umas cinzas sagradas,
outro me deu seu retrato, alguém me deu alguma outra coisa, mas nada
ajudou. Tudo em vão. Agora, eu vim até você como o último recurso. Agora
não irei a mais ninguém. Dê-me alguma coisa.
Então,
eu lhe disse: “Contudo, você não percebe. Por que você está pedindo
algo? – só para sair do medo? Nada ajudará. Eu não posso lhe dar nada.
Ademais, como os outros se provaram fracassos, eu também me provarei um
fracasso. E eles deram-lhe algo porque não sabiam o que estavam fazendo.
Eu só posso dizer uma coisa para você: aceite o fato. Trema, se tremer
estiver presente – o que fazer? A morte existe, e você sente um tremor;
então, trema. Não rejeite isso, não reprima. Não tente ser valente. Não
há nenhuma necessidade. A morte existe. Ela é natural. Fique totalmente
com medo.”.
Ele disse: “O que você está dizendo? Você não me deu nada. Ao invés, ao contrário, você diz para aceitar!”.
Eu disse: “Sim, aceite. Simplesmente vá e morra pacificamente com total aceitação.”.
Depois
de três ou quatro dias ele voltou novamente, e disse: “Funciona. Eu não
pude dormir por tantos dias, mas durante esses quatro dias eu dormi
profundamente, porque é isso mesmo, você está certo. Ele me disse: “Você
está certo. O medo existe, a morte existe, nada pode ser feito. Todos
os mantras são apenas truques – nada pode ser feito.”.
Nenhum
médico pode ajudar, nenhum santo pode ajudar. A morte existe, é um
fato, e você está tremendo. É natural. Uma tempestade chega e todas as
árvores tremem. Elas nunca vão a nenhum santo para perguntar como não
tremer quando a tempestade está passando por elas. Elas nunca vão pedir
um mantra para mudar isso, para protegê-las. Ela treme. É natural; é
assim.
E o homem disse: “Mas aconteceu um milagre. Agora, eu não estou com tanto medo.”.
Se
você aceita, o medo começa a desaparecer. Se você rejeita, resiste,
luta, você dá energia para o medo. Esse homem morreu pacificamente,
destemido, sem medo, porque ele pôde aceitar o medo. Aceite o medo e ele
desaparece.
Osho, The Book of the Secrets, V2, # 60
(via Osho Sukul )
(via Osho Sukul )