“Ouvi dizer que Coca-Cola® (e todos os refrigerantes de cola) tem um pouco de cocaína na receita. Isso é verdade?” (Deivison Almeida)
Deivison,
sua pergunta faz algum sentido e será importante a tentarmos
desmistificar. Embora atualmente esta afirmação não seja verdadeira, no
passado, no início da fabricação da Coca-Cola®, seria mais provável
considerá-la.
A Coca-Cola® é um
refrigerante gaseificado, doce e saboroso para a maior parte das
pessoas, e que contém, além de outras substâncias, cafeína. Foi
desenvolvida em 1886 pelo farmacêutico John Pemberton que baseou-se um
refresco francês muito popular na época, o Vinho de Coca, produzido a
partir da mistura entre o extrato da folha de Coca com o vinho Bordeaux.
Ele misturou este extrato a açúcar ao invés de vinho e também
acrescentou extrato de noz-de-cola africana. “Cola” é o nome dado a
várias árvores da família das esterculiáceas com alta concentração de
alcaloides, dando à Coca-Cola® a segunda metade de seu nome.
Mas o que levou as pessoas a pensarem que, pelo menos, no passado a cocaína estava presente na receita da Coca-Cola®?
O
que acontece, é que a Coca-Cola® leva na sua composição extrato de
folha de Coca e a Coca é a planta de onde se obtém a cocaína. É uma
planta da família Erythroxylaceae e o seu nome científico é Erythroxylum coca que possui em suas folhas 14 tipos de alcaloides, dentre eles a cocaína.
Enquanto
a ideia do refrigerante mais consumido do mundo conter cocaína em sua
composição pode parecer absurda a vocês, as bebidas com esta substância
eram bastante comuns no final do século XIX. Na verdade, a cocaína era
legalizada nos Estados Unidos até 1914, quando era amplamente usada
pelos médicos. Acreditava-se que cocaína em pó, pílulas e tônicos de
cocaína tinham o poder de curar uma muitas doenças, desde dores de
cabeça e fadiga a constipação, náusea, asma e até impotência. No
entanto, alguns anos mais tarde (1903), a opinião pública voltou-se
contra esta droga, e segundo relatos da época, levou o então gerente da
Coca-Cola®, a remover quase todo o percentual de cocaína que
supostamente era até então utilizada nas bebidas da empresa. Porém, a
Coca-Cola não se tornaria completamente livre da cocaína até 1929,
quando os cientistas aperfeiçoaram o processo de remoção de todos os
elementos psicoativos do extrato da folha de coca.
O
uso da planta da Coca sofreu muitas restrições legais, até ser
finalmente proibida no mundo inteiro em 1961. Estipulou-se que plantas
de coca deveriam ser destruídas, a não ser aquelas que seriam usadas
pela indústria. Hoje a Coca-Cola®, tem um acordo com a Drug Enforcement Administration, e continua até hoje a comprar folhas de coca à Colômbia e ao Perú e que passam por um processo para retirar a cocaína destas.
Como
a fórmula da Coca-Cola® é um segredo “guardado a sete chaves”, é
difícil dizer com toda a certeza que atualmente não existe, ou alguma
vez existiu, algum vestígio de cocaína nesta bebida. Apesar disso, é
muito improvável existir, pois atualmente há grande controle de regras
de segurança e normas rigorosas para a indústria alimentar. A Coca-Cola
também nega que alguma vez a cocaína tenha servido de ingrediente à
fabricação da sua bebida, mesmo na altura em que esta substância
psicoativa era legal.
Mesmo
na época em que a cocaína não era completamente retirada das folhas de
coca, que são usadas desde sempre na obtenção da Coca-Cola, a quantidade
de seu princípio ativo nestas folhas é mínimo e nada comparado com a
cocaína que é utilizada por toxicodependentes, que é um produto que
passa por uma série de transformações e refinamentos depois da extração
da folha da Coca, sendo por isso muito mais forte.
Resumindo:
Não há provas científicas de que alguma vez foi usada cocaína na
Coca-Cola. O boato surgiu devido ao extrato de Coca que é usado na
bebida derivar da mesma planta de onde se sintetiza a cocaína, e é
extremamente improvável que a bebida tenha esta substância hoje, onde a
comercialização da cocaína está proibida a nível mundial. E como em
ciência as respostas são baseadas em evidências testadas e provadas, não
se pode afirmar que existe ou já existiu cocaína na Coca-Cola. Se
existiu foi há muito tempo antes de esta substância ter sido
expressamente proibida.
Fontes: hypescience, super, esquadraodoconhecimento e clubedaquimica