A transferência em espécie ocorreu no dia seguinte ao desastre que matou o então candidato. Coordenador afirma que foi legal
Brasília - No dia seguinte ao
desastre que matou o presidenciável Eduardo Campos, sem que seus restos
mortais tivessem sido recolhidos do local onde caiu o avião, seus
partidários transferiram em espécie R$ 2,5 milhões de sua conta de
campanha para o Comitê Financeiro Nacional, administrado pelo PSB, que,
dias depois, anunciaria Marina Silva como substituta.
Segundo o coordenador financeiro da
campanha, Basileu Margarido — homem de confiança de Marina — tudo está
dentro da legalidade. “O escritório de Direito que nos atende consultou o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fazer a operação. Segundo eles,
não há nada de errado”, garantiu. O TSE informou que ainda vai analisar
as prestações de contas.
A operação de transferência ocorreu
no dia 14 de agosto, foi em dinheiro vivo e seu registro está na segunda
prestação de contas dos candidatos, divulgada no sábado pelo TSE. O PSB
também não fez nenhuma menção ao jato Cessna, usado por Campos, e que é
alvo de investigação da Procuradoria Geral da República por crime
eleitoral e suspeita de caixa 2.
Para dois advogados especialistas em direito
eleitoral ouvidos pelo DIA em condição de anonimato, a transferência não
poderia ocorrer, já que, ao morrer, o CNPJ da candidatura de Campos
deveria ser extinguido, e o dinheiro retido. Segundo eles, só no final
da campanha o partido teria acesso à doação, como sobra de arrecadação.
“Provavelmente, eles não quiseram deixar parada a quantia, que é razoável, e antes mesmo de comunicarem oficialmente a morte do ex-governador retiraram o dinheiro”, interpretou um deles.
“Não deixa de ser estranho que uma campanha que se propõe a fazer a nova política, se valha de artifícios da velha”, opina outro.
Os dois concordam que, neste caso, o pior que poderá ocorrer é a aprovação das contas pelo TSE, mas com ressalvas, “além, é claro, do constrangimento, já que é um subterfúgio contábil que criticariam se fosse outro partido”.
Marina Silva virá ao Rio na próxima quinta-feira. Seus coordenadores de campanha se reunirão hoje para decidir qual será a agenda. Uma das ideias é que ela participe de um ato em favor dos royalties de petróleo e do pré-sal para tentar afastar qualquer dúvida quanto às suas posições sobre os temas.
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