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Imagem: Reprodução / Redes Sociais |
Ele ocupa toda uma quadra desta abundante megacidade: uma versão com 10 mil lugares do Templo de Salomão.
Elevando-se em
destaque contra os prédios próximos repletos de pichações, ele acena com
paredes monumentais de pedras importadas de Israel e as bandeiras das
dezenas de países onde sua proprietária, a Igreja Universal do Reino de
Deus, está nutrindo seu império cristão evangélico.
Um heliponto
permitirá a Edir Macedo, o magnata de mídia de 69 anos que fundou a
Igreja Universal em uma funerária do Rio de Janeiro, em 1977, vir para
os sermões. O vasto complexo de 11 andares conta com outros floreios,
como um oásis de oliveiras semelhante ao jardim do Getsêmani, perto de
Jerusalém, e mais de 30 colunas se erguendo aos céus.
"A Igreja
Universal não poupou gastos", disse Rogério Araújo, o arquiteto do
projeto, que deverá ser inaugurado na quinta-feira (31) no bairro do
Brás, em São Paulo (SP). Em uma visita ao local, acrescentou, "nós
buscamos construir um colosso, algo que faria as pessoas pararem e
observar, e foi o que entregamos".
A réplica do
Templo de Salomão, que levou quatro anos para ser construída a um custo
de cerca de US$ 305 milhões (R$ 680 milhões), mostra o grande
crescimento das seitas evangélicas no Brasil. Apesar deste país de 200
milhões de habitantes ainda ter mais católicos romanos do que qualquer
outro país, o número de evangélicos no Brasil saltou de 15% da
população, em 2000, para 22% em 2010, segundo números do censo.
Grandes igrejas
evangélicas, particularmente instituições pentecostais como a Igreja
Universal, também estão exercendo maior poder político por todo o
Brasil, refletido na considerável bancada evangélica no Congresso e nos
esforços de candidatos de todo o espectro político para atrair os
eleitores evangélicos na eleição presidencial deste ano.
A presidente
esquerdista do Brasil, Dilma Rousseff, deverá estar presente aqui na
inauguração do templo, ressaltando o apoio que sua coalizão de governo
recebe de um bloco de líderes evangélicos conservadores, incluindo o
sobrinho de Macedo, Marcelo Crivella, um pastor da Igreja Universal e
cantor gospel que, até recentemente, era ministro da Pesca.
Jato privado e passaporte diplomático
Ninguém mudou
tanto a paisagem religiosa do Brasil quanto Macedo. Um televangelista e
fundador da Igreja, Macedo agora viaja em jato privado com passaporte
diplomático especial (um privilégio também concedido no Brasil às altas
autoridades do Vaticano), expondo a teologia da prosperidade e elementos
pentecostais como exorcismo e cura pela fé.
Com uma fortuna
pessoal estimada em US$ 1,2 bilhão, Macedo saiu da obscuridade por meio
de seu controle da Rede Record, uma das maiores redes de televisão do
Brasil, e de sua expansão agressiva da Igreja Universal, durante a qual
enfrentou acusações de corrupção, incluindo evasão fiscal e lavagem de
dinheiro.
Macedo ficou
preso por 11 dias em 1992, sob acusação de charlatanismo e fraude. Ele
rechaçou com sucesso outras investigações criminais, incluindo alegações
dos promotores de que ele e outros líderes da Igreja desviaram doações
dos fiéis para enriquecerem a si mesmos. No ano passado, ele cultivou
uma aparência um tanto de mago, deixando crescer uma longa barba
grisalha, além de ocasionalmente vestir o que parece ser um solidéu,
semelhante aos usados por muitos judeus praticantes.
A réplica do
Templo de Salomão inclui várias menorás dentro da estrutura, onde os
sermões serão feitos, além de uma grande menorá perto da entrada, que
lembra o existente diante do Knesset, o Legislativo de Israel. A
bandeira de Israel também está hasteada nas proximidades, ao lado das da
Igreja Universal, Brasil e Estados Unidos, entre dezenas de outros
países.
"Há apenas uma
fé bíblica; é impossível dissociar o cristianismo de suas raízes
judaicas", disse Cássia Duarte, uma porta-voz da Igreja Universal. Ela
enfatizou que Macedo foi absolvido de uma série de alegações de
corrupção, fortalecendo a "pregação do evangelho" da Igreja.
Os estudiosos
dizem que a promoção do simbolismo judaico da Igreja Universal em sua
réplica do Templo de Salomão deriva de sua busca por legitimidade
histórica, em uma Igreja que tem apenas 37 anos. O Templo de Salomão
original teria sido construído na Jerusalém antiga pelo rei Salomão por
volta de 1000 a.C. e destruído cerca de quatro séculos depois, em um
sítio liderado por um rei babilônio.
"Macedo foi um
pioneiro na utilização dos símbolos e rituais ligados ao Velho
Testamento e judaísmo como elementos centrais na criação de uma Igreja
capaz de conquistar corações e mentes", disse Rodrigo Franklin de Souza,
um especialista em história bíblica da Universidade Mackenzie, em São
Paulo.
Cristo no Rio tem metade do tamanho
Até o momento,
os líderes da comunidade judaica do Brasil adotaram uma postura relaxada
diante do novo Templo de Salomão. "Por um lado, há a forma favorável
com a qual a cultura e história judaicas são tratadas na estrutura",
disse Nilton Bonder, um rabino brasileiro cujos textos com temas
espirituais são amplamente publicados. "Por outro lado, há o aspecto
bizarro das dimensões do projeto e do marketing agressivo."
O templo será
uma das maiores estruturas religiosas do Brasil, fazendo o famoso Cristo
Redentor do Rio de Janeiro, que tem apenas a metade do tamanho, parecer
um penduricalho em comparação.
"O templo
monumental será um símbolo poderoso tanto do Brasil, como epicentro do
pentecostalismo global, quanto da Igreja Universal, como principal
congregação desafiando a Igreja Católica no Brasil", disse R. Andrew
Chesnut, um especialista em religiões latino-americanas da Virginia
Commonwealth University.
O projeto já
conta com apoio entre alguns fiéis da Igreja Universal. "Eu fico
empolgada só de ver o templo em uma foto", disse Mauricea dos Santos
Ribeiro, 72 anos, uma bancária aposentada que frequenta uma das igrejas
da seita no Rio de Janeiro. Ela disse que um grupo de sua congregação
planeja viajar para cá para ver o templo. "Eu estou contando os dias até
nossa ida."
Se o novo Templo de Salomão visa atrair nova atenção para a Igreja Universal, a estratégia está funcionando.
Os transeuntes
param diante dele dia e noite. Alguns tiram fotos com seus celulares.
Muitos olham com espanto, expressando suas reações em uma calçada lotada
onde vigias, descritos como "Guardiões do Templo" em seus uniformes,
patrulham a entrada.
"O templo é
enorme, lindo, mas também ostentoso demais", disse Solange Barbosa de
Nascimento, uma costureira de 58 anos, que é fiel de outra Igreja
evangélica brasileira chamada Paz e Amor, em uma manhã recente. "Eu me
pergunto se não poderiam ter gasto todo esse dinheiro de outra forma,
como cuidando dos pobres."
Simon Romero
The New York Times
Editado por Folha Política