Ainda não se
sabe se os pesquisadores são calvinistas (risos), mas a matéria pra lá
de interessante foi originalmente publicada no The Independent e reforça as conclusões de outra pesquisa de 2008 que já foi divulgada no Brasil pela Superinteressante:
O jornal britânico The Independent,
por sua vez, publicou no último sábado, 21 de junho de 2014, a
informação de que cientistas da Universidade da California, em Davis,
concluíram que as decisões que as pessoas tomam corriqueiramente podem
ser preditas com base em certos padrões de atividade cerebral.
Desta maneira, o
conceito de livre-arbítrio deveria deixar a esfera filosófica (e
teológica) e se reduzir a uma espécie de "barulho de fundo" do cérebro.
Não é nova a
ideia de que o livre-arbítrio é uma ilusão, conforme você poderá ver
pela matéria da Superinteressante (de 2008) mais abaixo, mas o Centro de
Mente e Cérebro da Universidade da California decidiu aprofundar o
trabalho nessa área.
O resultado da pesquisa foi publicado no Journal of Cognitive Neuroscience
("Jornal de Neurociência Cognitiva") e o experimento consistiu em fazer
com que voluntários se sentassem na frente de uma tela de computador,
com sensores eletroencelafográficos devidamente acoplados, para observar
um sinal gráfico que - aleatoriamente - os impelia a decidir entre a
direita ou esquerda, conforme você pode ver no vídeo abaixo:
A conclusão da
pesquisa é que o cérebro tem uma espécie de ruído neural de fundo, com
base no qual seria possível prever as decisões que os voluntários
tomariam antes que eles tivessem consciência disso.
Os cientistas
alertam, entretanto, que a, digamos, "batucada de retaguarda" do cérebro
não deve ser considerada isoladamente, mas em conjunto com os
mecanismos de metas, desejos e causalidade que compõem o método até
agora tido como "natural" de tomada de decisões por parte dos seres
humanos.
A matéria da Superinteressante de 2008, relatando experiência feita por outra equipe e com método diferente, é a seguinte:
O livre-arbítrio não existe
A ciência comprova: você é escravo do seu cérebro
Você
se interessou pelo tema desta reportagem e, por isso, resolveu dar uma
lida. Certo? Errado! Muito antes de você tomar essa decisão, a sua mente
já havia resolvido tudo sozinha – e sem lhe avisar. Uma experiência
feita no Centro Bernstein de Neurociência Computacional, em Berlim,
colocou em xeque o que costumamos chamar de livre-arbítrio: a capacidade
que o homem tem de tomar decisões por conta própria.
As
escolhas que fazemos na vida são mesmo nossas. Mas não são conscientes.
Voluntários foram colocados em frente a uma tela na qual era exibida
uma seqüência aleatória de letras. Eles deveriam escolher uma letra e
apertar um botão quando ela aparecesse.
Simples,
não? Acontece que, monitorando o cérebro dos voluntários via
ressonância magnética, os cientistas chegaram a uma descoberta
impressionante. Dez segundos antes de os voluntários resolverem apertar o
botão, sinais elétricos correspondentes a essa decisão apareciam nos
córtices frontopolar e medial, as regiões do cérebro que controlam a
tomada de decisões.
“Nos
casos em que as pessoas podem tomar decisões em seu próprio ritmo e
tempo, o cérebro parece decidir antes da consciência”, afirma o
cientista John Dylan-Haynes. Isso porque a consciência é apenas uma
“parte” do cérebro – e, como a experiência provou, outros processos
cerebrais que tomam decisões antes dela.
Agora
os cientistas querem aumentar a complexidade do teste, para saber se,
em situações mais complexas, o cérebro também manda nas pessoas. “Não se
sabe em que grau isso se mantém para todos os tipos de escolha e de
ação”, diz Haynes. “Ainda temos muito mais pesquisas para fazer.” Se o
cérebro deles deixar, é claro.
A pessoa decide
O
voluntário precisa tomar uma decisão bem simples: escolher uma letra.
Enquanto ele faz isso, seu cérebro é monitorado pelos cientistas
1. Observa a tela...
O voluntário olha para uma seqüência de letras, que vai passando em ordem aleatória numa tela e muda a cada meio segundo.
2. Escolhe uma letra...
Na
mesa, existem dois botões: um do lado esquerdo e outro do lado direito.
O voluntário deve escolher uma letra – e, quando ela passar na tela,
apertar um desses dois botões.
3. E aperta o botão.
Pronto.
A experiência terminou. O voluntário diz aos pesquisadores qual foi a
letra que escolheu e em que momento tomou a decisão.
Mas o cérebro já resolveu
Bem antes de a pessoa apertar o botão, ele toma as decisões sozinho
10 segundos antes
Os
córtices medial e frontopolar, que controlam a tomada de decisões, já
estão acesos – isso indica que o cérebro está escolhendo a letra.
5 segundos antes
Os
córtices motores, que controlam os movimentos do corpo, estão ativos.
Olhando a atividade deles, é possível prever se a pessoa vai apertar o
botão direito ou o esquerdo.
E já é possível prever pensamentos
Além
de provar que o livre-arbítrio não existe, a neurociência acaba de
fazer outro enorme avanço: pesquisadores da Universidade Carnegie
Mellon, nos EUA, construíram um computador capaz de ler pensamentos. Ou
quase isso.
Cada
voluntário recebeu uma lista de palavras sobre as quais deveria pensar.
Enquanto ele fazia isso, um computador analisava sua atividade cerebral
(por meio de um aparelho de ressonância magnética). O software aprendeu
a associar os termos aos padrões de atividade cerebral – e, depois de
algum tempo, conseguia adivinhar em quais palavras as pessoas estavam
pensando.
O
sistema ainda tem uma grande limitação – ele só consegue ler a mente de
uma pessoa se ela estiver totalmente concentrada. O que nem sempre é
fácil. “Às vezes, no meio da experiência, o estômago de um voluntário
roncava, ele pensava ‘estou com fome’”, e isso embaralhava o computador,
conta o cientista americano Tom Mitchell, responsável pelo estudo.
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