Imagem: Givaldo Barbosa / Agência O Globo |
O fato do
ex-ministro José Dirceu ter deixado a prisão para ir trabalhar no
escritório de advocacia do amigo José Gerardo Grossi a bordo de uma
perua Hilux, com motorista, ter duas horas de almoço, entre outras
benesses, foi duramente criticado por cientistas políticos ouvidos pelo
jornal O Globo, que classificaram as mordomias como "deboche" à
sociedade e ao sistema judiciário.
Para Bolivar Lamounier, nem nos tempos das prisões políticas, os presos tiveram regalias como as que estão tendo José Dirceu.
— É um deboche
claro. A maioria dos presos brasileiros vive em condições sub-humanas. O
próprio ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que as prisões
brasileiras mais parecem masmorras medievais, muito longe da situação
vivida por Dirceu. Não podemos esquecer que o ex-ministro foi condenado
por corrupção, o que é um crime grave e teria que estar recebendo a
punição de forma exemplar, sem privilégios — disse Lamounier.
Segundo o
cientista político, o "deboche" fica ainda mais completo quando sabe-se
que o ex-ministro está saindo da prisão para ir trabalhar no escritório
de um amigo influente.
— É óbvio que
ele vai continuar fazendo articulações políticas no escritório do amigo.
Mas considerando a atual composição do Supremo, esse quadro não deve
mudar tão cedo — disse Lamounier.
Depois de
destacar que o ex-ministro obteve o direito de trabalhar fora na
Justiça, Galdêncio Torquato acha que o próprio condenado tem que assumir
uma postura regrada pelo bom senso, sem ostentação.
— Ele não pode
ter regalias que outros condenados não têm. Afinal, isso pode prejudicar
ainda mais sua imagem, que já é execrada pela opinião pública. Ele não
pode ultrapassar os limites do bom senso — lembrou Torquato.
O especialista
disse que particularmente concorda com a decisão do Supremo de permitir
que trabalhe fora da prisão, mas destacou que a Justiça não pode lhe
conceder privilégios.
— A isonomia para os demais condenados tem que ser observada — recomendou Torquato.
Germano Oliveira
O Globo
Editado por Folha Política