Sidney Silveira
PARA O HOMEM
BOM, os bens que lhe sobrevêm são prêmios, e os males, provas de
paciência, perseverança. PARA O HOMEM MAU, os males são castigo, e os
bens, usurpação de um mérito que não lhes é devido. Toda noção realista
de justiça consiste em dar um único vetor a esta relação: premiar os
bons, castigar os maus.
Esta é a base daquilo a que se convencionou chamar de civilização.
Sob qualquer pretexto — seja de classe social, seja de raça, seja de ideologia, seja de preferências sexuais, etc. —, atenuar o castigo dos maus é castigar os bons;
e castigar os bons acarreta a única desigualdade essencialmente
injusta: a que diz respeito à distribuição de méritos e deméritos.
As demais desigualdades podem ser boas ou más, em vista duma série de fatores.
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