Imagem: Reprodução/Diário de Pernambuco |
Em
entrevista ao Estadão, o ator Wagner Moura falou sobre sua carreira e
comentou a situação política brasileira contemporânea, fazendo rígidas
críticas e chegando a afirmar que está feliz em deixar o país. Leia
abaixo:
Wagner Moura nem estranha mais - é o preço que paga por ter feito um personagem tão forte quanto o Capitão Nascimento. Desde 2007 e, depois, 2011, quando Tropa de Elite 1 e 2 viraram fenômenos - e o segundo se transformou no recordista de público de todas a história do cinema brasileiro -, ele se acostumou a ver as pessoas, e a imprensa, perguntarem se o papel, qualquer que seja, é uma tentativa de se libertar do capitão do Bope. "Dessa vez, vão radicalizar", prevê. "Vão dizer que fiz um gay para acabar de vez com o Nascimento." Na verdade, Wagner Moura está muito feliz com Praia do Futuro, que estreia nesta quinta, 15, em um bom circuito. Não é um blockbuster, daqueles que entram arrebentando em centenas de salas. É um lançamento menor e ele confessa que está ansioso.
Wagner Moura nem estranha mais - é o preço que paga por ter feito um personagem tão forte quanto o Capitão Nascimento. Desde 2007 e, depois, 2011, quando Tropa de Elite 1 e 2 viraram fenômenos - e o segundo se transformou no recordista de público de todas a história do cinema brasileiro -, ele se acostumou a ver as pessoas, e a imprensa, perguntarem se o papel, qualquer que seja, é uma tentativa de se libertar do capitão do Bope. "Dessa vez, vão radicalizar", prevê. "Vão dizer que fiz um gay para acabar de vez com o Nascimento." Na verdade, Wagner Moura está muito feliz com Praia do Futuro, que estreia nesta quinta, 15, em um bom circuito. Não é um blockbuster, daqueles que entram arrebentando em centenas de salas. É um lançamento menor e ele confessa que está ansioso.
"Não tenho nada
contra as comédias que fazem sucesso, até já fiz uma (A Mulher
Invisível). Mas eu acho que é preciso diversificar. Minha bronca é
acharem que só comédia interessa ao público." Admirador de Karim Aïnouz,
ele confessa que assediou o diretor. "Queria filmar com ele.
Conversamos muito sobre um projeto que não se consolidou, e aí veio o
Donato." É o bombeiro gay de Praia do Futuro. Desde que o filme foi para
o Festival de Berlim, em fevereiro, a imprensa não fala outra coisa. O
personagem homossexual de Wagner - como se o próprio Capitão Nascimento
tivesse saído do armário. Ele não quer fazer de Praia do Futuro uma
bandeira. Diz que o personagem não é só gay. "É muito mais rico, e o
próprio filme é mais que simplesmente gay." Mas não foge da raia: "Se
ajudar a diminuir o preconceito, então é (gay)".
E revela, o que
pode surpreender: "Donato é o meu personagem mais próximo de
Nascimento. Não é um estereótipo. É viril". O próprio Karim Aïnouz teme
que o reducionismo prejudique seu melhor trabalho." É meu filme mais
maduro, sim. Fiz os outros no grito, no susto. São filmes de que me
orgulho. Mas esse é mais denso. Todo filme tem sempre muito da gente,
mas esse é mais pessoal, sem ser autobiográfico." Um filme que começa
com cata-ventos e está sempre em movimento, como o tempo. Um filme em
capítulos - O Abraço do Afogado, Um Herói Partido ao Meio e O Fantasma
que Fala Alemão. No primeiro movimento, Donato salva o alemão que está
se afogando na Praia do Futuro, mas perde o amigo dele. Tornam-se
amantes e, para viver sua história, Donato deixa a família no Brasil - o
irmão pequeno que o idolatra - e parte para a Alemanha. Dez anos mais
tarde, o irmão, Ayrton, cresceu, virou homem e o localiza em Berlim. O
reencontro é dilacerante, uma cena que já nasceu clássica - antológica -
por sua intensidade e emoção.
Wagner está
muito feliz com Praia do Futuro, mas não tão feliz assim com o Brasil.
Confessa: "Tenho o maior amor por esse País, mas não está dando para
viver aqui. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas estou gostando que
meu próximo projeto - uma minissérie sobre Pablo Escobar que será
dirigida por José Padilha - vai me tirar do Brasil por uns dois anos".
Ele reclama do preconceito e do conservadorismo, e diz que Praia do
Futuro vai contra isso, mas reclama mais ainda da política. Na eleição
passada, já se havia distanciado do PT e apoiado Marina Silva para
presidente. "O PT não inventou o toma lá/dá cá, mas o
institucionalizou", diz, desiludido. O Rio é uma das cidades mais caras
do mundo. "Eduardo Paes governa com a iniciativa privada." É o oposto do
que vivenciou em Medellín, na Colômbia (onde vai filmar Narcos).
"Vão me chamar
de demagógico, mas o projeto de reurbanização de Medellín realmente
privilegia os necessitados. O metrô sai de dentro das favelas, e elas
estão sendo urbanizadas. No Brasil, temos as UPPs, que são um primeiro
passo, mas a coisa não vai adiante. São os mesmos policiais, olha a
quantidade de denúncias." Como cidadão, e sabendo que poderia
influenciar pessoas, ele sempre abriu seu voto. Pela primeira vez,
admite que não sabe em quem votar. "Tenho um carinho muito grande por
Marina (Silva), mas não estou nem um pouco con vencido com Eduardo
Campos. Me decepciona a proximidade dele com Aécio Neves, que é o
candidato da agroindústria." Depois da entrevista, Campos decidiu que
precisa se afastar de Aécio em busca de lulistas insatisfeitos. "Não
voto em Aécio nem em Dilma. Lula ainda mascarava a fragilidade do PT,
mesmo com o mensalão. Dilma não tem o carisma dele nem a competência."
Pai dedicado,
Wagner adora curtir os filhos. Quer um Brasil melhor para eles. Ia fazer
logo seu longa sobre Marighella, que agora está prevendo para 2016.
"Tem gente que diz que era um assassino, mas ele entendeu o Brasil e
sabia que a chapa ia esquentar, já antes do golpe. Marighella pertence a
uma geração que se sacrificou pelo Brasil, eu quero fazer o filme sobre
ele para a minha geração.
Ficou difícil,
hoje, entender e aceitar esse idealismo, as pessoas estão muito
centradas." Uma coisa é certa: Wagner encantou-se com Jesuíta Barbosa,
que faz seu irmão em Praia do Futuro. "É um ator maravilhoso e um cara
muito especial. Ainda não sei que papel dar a ele, mas quero que esteja
comigo em Marighella."
Como você foi parar no elenco de Praia do Futuro?
Karim (Aïnouz)
já tinha o Wagner, que é baiano. Queria um ator de Fortaleza, porque
Praia do Futuro começa lá, na praia do título. Ele começou a procurar
atores, terminou me escolhendo.
Está ocorrendo tudo mundo rápido com você. Tatuagem, Praia do Futuro, a minissérie da Globo (Amores Roubados). Como está sendo?
Como você diz, é
muito rápido. Não estou tendo tempo de processar. Avanço no instinto,
na raça, mas está sendo muito bom. Tenho conhecido pessoas fantásticas. O
Irandhyr (Santos), o Wagner (Moura), o Karim. Hilton Lacerda, que
dirigiu Tatuagem, me ajudou muito. É o cara mais puro que conheço. Devo
muito a ele.
Você está de novo num filme com tema gay, depois de Tatuagem. Como encara isso?
Se eu tenho
medo de ficar marcado? A gente fala muito das outras coisas de Praia do
Futuro, para evitar que o rótulo cole e o filme vire só isso. Mas acho
que tem de assumir, sim. Uma pessoa, um filme, nunca são só gays. Tá
todo mundo no mundo. Ayrton foi maravilhoso de fazer. Todo mundo é tão
dilacerado em Praia do Futuro. É um filme dolorido, mas não triste.
Como foi fazer a cena do elevador com Wagner?
Bicho, a gente
sabia que ia chegar lá, mas foi muito forte. Fátima Toledo, que nos
preparou, a Wagner e a mim, deixa a gente num estado de fragilidade, de
tensão, que você é capaz de explodir. Aquilo saiu tudo num jorro. O
amor, o ódio, a agressão. É uma coisa muito física. A Fátima é f...
E o futuro?
Cacá Diegues
falou comigo sobre um papel para o Grande Circo Místico. Fiquei doido
para fazer, mas ele ainda não decidiu. Tem outro ator na parada. Faço
tudo. Cinema, TV. Estou aprendendo, me descobrindo como ator e como
gente. É um processo muito intenso.
‘Sou muito chamado para filmes de ação’, diz Clemens Schick
Aquela cena em que você canta e dança Aline é muito forte. Como foi fazer?
Karim (Aïnouz)
queria uma cena assim, mas até dois dias antes não sabíamos se teríamos
os direitos. Quando ficou decidido, tive pouco tempo para aprender os
versos e criar a coreografia. É uma cena da qual as pessoas falam muito,
mas tem uma coisa que me envergonha. Não canto bem, não sei cantar. Tem
gente que acha que desafino intencionalmente. Nãããooo. Estou me
acostumando a me ver. Achava estranho.
Como anda sua carreira internacional?
Deve ser pelo
meu físico, mas me chamam muito para fazer filmes de ação, papéis de
vilão. Cassino Royale, Largo Winch 2 - Conspiração Burma. No segundo,
salto de um helicóptero disparando tiros. É tudo muito louco, mas é
também excitante. Um dia, estou conhecendo gente em Bangcoc, depois em
Fortaleza, na Praia do Futuro. É uma descoberta permanente. Da gente e
dos outros.
A pergunta que não quer calar: como é fazer um personagem gay, e com cenas tão calientes?
As cenas são só
cenas, e quando se faz com um ator como Wagner (Moura) não chega a
haver nenhum constrangimento. Vamos lá, e a gente faz. Tenho respondido
muito a essa pergunta. O curioso é que ninguém me pergunta como me
preparo para fazer cenas heteros. É como se com outro homem fosse
antinatural. Com homem, com mulher, a gente representa. Os personagens é
que pretendem ser reais, e isso é que importa.
E representar em outra língua?
Entendo
português, mas não falo. Falo inglês e, um pouco menos, francês. Mas uma
coisa é entender, falar, outra coisa é atuar em outra língua. Sou
alemão, qualquer outra língua é difícil para se expressar emoções. Mas,
se quer saber, é mais fácil para mim dizer "te amo" em inglês que em
alemão.
Luiz Carlos Merten
O Estado de S. Paulo
Editado por Folha Política