Falando do que se escreve, vê e fala, percebemos que as mensagens são polarizadas em nomes e caras. Tudo é fulanizado. Os dias contarão para a história, correndo-se o risco de o nosso presente vir a ser escrito como o foi no passado, em que os avanços civilizacionais eram devidos a heróis e os retrocessos eram imputados a ditadores, traidores ou a pouco dotados: os odiados. Nos retrocessos sentidos, apontam-se os odiados, ridicularizam-se os discursos, reproduzem-se as caricaturas e pouco se fala, escreve, analisa e aprofunda o odioso . No dia em que um nome, uma cara, saia da ribalta ninguém garante que se esteja perante o fim do quer que seja e quem chega protege-se dos tiques e falas do destituído. Odiou-se Salazar, mal discutindo o salazarismo. Odeia-se Passos, mal discutindo o neoliberalismo. Aprontam-se cabeças cheias de sentenças, como se dependesse a mudança de algum bem-pensante, como se a alternância fosse mudança:
«As causas de todas as mudanças sociais e de todas as revoluções
políticas, não as devemos procurar na cabeça dos homens, em seu
entendimento progressivo da verdade e da justiça eternas, mas na vida
material da sociedade, no encaminhamento da produção e das trocas.»
Karl Marx, no prefácio de "Crítica da Economia Política"
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