EU CÉREBRO E A PORNOGRAFIA: ELE FAZ O QUE FOI PROGRAMADO PARA FAZER

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O que acontece quando se tranca um rato em uma gaiola junto com uma ratinha receptiva?

Primeiro, se vê uma cópula atrás da outra; daí, progressivamente, o rato se cansa daquela ratinha em particular. Mesmo que ela queira mais, ele já enjoou. Contudo, troque a ratinha por uma outra e o rato imediatamente se reanima e se empenha em fertilizá-la.

Se você repetir este processo com várias ratinhas diferentes, o rato pode quase morrer de exaustão.

Isto é chamado de esfriamento – uma resposta automática a parceiros sexuais. E isto é o que faz você se tornar um viciado em pornografia na Internet.

Como no rato do laboratório existe um mecanismo dentro de você que te impulsiona a fertilizar mulheres, homens e qualquer coisa que você vir em uma tela de computador (Nota: o esfriamento também se manifesta nas mulheres. Estudos mostram que, quando dada a oportunidade, mulheres são tão promíscuas quanto os homens).



Circuitos primitivos em seu cérebro governam emoções, desejos, impulsos e tomadas de decisões no subconsciente. Seu trabalho é tão eficiente que a evolução não sentiu necessidade de modificá-los muito desde que os seres humanos são seres humanos.

Mais dopamina, por favor

Nos ratos, em você e em todos os outros mamíferos, o desejo sexual é despertado através de uma substância chamada dopamina. A dopamina regula o núcleo da parte mais primitiva do cérebro – o circuito de recompensa . É graças a ele que podemos experimentar prazer, mas também podemos desenvolver vícios.

Seu circuito de recompensa te ordena a fazer tudo aquilo que garanta sua sobrevivência e a transmissão dos seus genes adiante. No topo da lista de recompensas dos humanos estão comida, sexo, amor, amizade e fantasias diversas. Estas recompensas são chamadas de reforços naturais, que são o oposto das drogas viciantes.

O propósito evolucionário da dopamina é te motivar a fazer o que seus genes querem que você faça. Quanto maior a descarga de dopamina, mais você desejará algo; sem ela, você simplesmente o ignora. Para bolo de chocolate e sorvetes, um estouro de dopamina; para palmito, nem tanto. O sexo e o orgasmo é o que naturalmente libera maiores descargas de dopamina para seu circuito de recompensa. Um dos apelidos da dopamina é a “molécula do vício”.

Ainda que se possa definir a dopamina como a substância do prazer, tecnicamente essa definição não muito precisa. A dopamina está mais para a busca do prazer, a medida do seu potencial. Apesar de haver controvérsias, acredita-se que a recompensa final e as boas sensações estão relacionadas com os opióides. Dopamina é o querer e os opióides são o gostar. Acredita-se também que o vício é um querer fora de controle.

Fantasias, fantasias, mais fantasias

A dopamina surge para os estímulos: um carro novo, um lançamento no cinema, um novo eletrônico – todos nós nos tornamos apegados a algo sob dopamina. Assim como em qualquer novidade, a excitação se vai à medida que a dopamina vai se exaurindo.

Aqui está como o esfriamento funciona: o circuito de recompensa do rato vai descarregando cada vez menos dopamina para uma mesma fêmea, mas quando uma nova fêmea surge, uma grande descarga de dopamina é liberada. Isso não lhe soa familiar?

Pornografia na Internet é um atiçador em especial do seu circuito de recompensa, pois os estímulos estão todos a apenas um clique. Pode ser uma “nova parceira”, uma cena incomum, um ato sexual esquisito, ou – pense você mesmo em algo -. Qualquer um pode ficar clicando por horas, experimentar muito mais estímulos em dez minutos do que qualquer um de nossos ancestrais puderam experimentar durante toda a vida.

E o que o cérebro faz quando se vê em um número ilimitado de estímulos, cuja quantidade é incapaz de suportar? O cérebro se adapta, o que pode levar ao vício.

Drogas não são os únicos viciantes

É sabido que substâncias que estimulam a liberação de dopamina, como álcool e cocaína, podem levar ao vício. Mas apenas uma minoria (entre 10-15%) de seres humanos ou ratos que já consumiram essas substâncias se tornaram viciados. Quer dizer então que nós estamos livres do perigo dos vícios? Em se tratando de abuso de entorpecentes, talvez sim. Mas em se tratando de excesso de estímulos de recompensas naturais como sexo, comidas gordurosas, videogames ou jogos de azar, a resposta pode ser não, ainda que certamente nem todos se tornarão viciados.

A razão do por que podemos nos tornar viciados com comida e sexo superestimulantes, mesmo que não sejamos propensos a vícios, está no fato de que nosso circuito de recompensa nos estimula a procurar sexo e comida, não drogas. Atualmente, os alimentos calóricos (70% dos adultos norte americanos estão acima do peso, 35% estão obesos) e pornografia na Internet (sobre o que você está lendo agora) têm muito mais potencial para viciar pessoas do que as drogas. Ambos sobrecarregam os mecanismos de saciamento – o sentimento de estar satisfeito – porque as calorias e as oportunidades de se reproduzir são a prioridade número 1 dos genes.

Todos os vícios afetam o cérebro de forma similar

Pesquisas recentes revelam que os vícios comportamentais (comidas saborosas, jogos de azar ou videogames) e vícios por entorpecentes possuem algo em comum: redução da dopamina e uma queda nos receptores de dopamina do circuito de recompensa. Isto é a base de todos os vícios. Com menos dopamina e menos receptores dessa substância, fica muito mais difícil estimular o circuito de recompensa. Isto leva ao que toos os viciados experimentam: uma resposta indiferente ao prazer.

O cérebro dos viciados em pornografia na Internet, ao contrário do de outros tipos de viciados, não tem sido estudado até então. Contudo, é ilógico concluir que a pornografia na Internet não produz mudanças no cérebro, quando já foi provado que comidas gordurosas, videogames e jogos de azar são capazes de fazê-lo. (Adendo: Em agosto de 2011, os maiores especialistas da Sociedade Norteamericana de Medicina do Vício -ASAM[8]- publicaram sua nova e avassaladora definição de vício. Esta nova definição corrobora os pontos principais debatidos em “Your Brain On Porn”. Além do mais, os vícios comportamentais afetam o cérebro da mesma forma que as substâncias entorpecentes, em todos os aspectos. Tal definição, na prática, encerra o debate se o vício em sexo e pornografia é um vício verdadeiro ou não).

Quanto mais prazer, menos prazer

 
Apesar de você talvez não perceber, você está aqui porque você tem uma resposta indiferente ao prazer(9). O declínio nos receptores de dopamina e outras mudanças no cérebro te transformaram em um viciado em pornografia. Trata-se de fisiologia, não moralidade.

O ciclo do vício em pornografia é semalhante a de outros vícios:

satisfação sob estímulo->anestesia ao prazer->busca por mais estímulo->satisfação retorna sob maior estímulo->posterior declínio nos receptores de dopamina->mais anestesia ao prazer->busca por mais estímulo->satisfação retorna sob um estímulo ainda maior

E em pouco tempo você já está viciado em pornografia, pois para o seu cérebro, nada mais é tão interessante quanto o pornô.

Na visão dos seu genes, este é o cenário perfeito – te manter copulando freneticamente – antes que esta “oportunidade valiosa” desapareça.

O sequestro de seu mecanismo de satisfação
 
O consumo excessivo (sexo ou comida) é o sinal do seu cérebro primitivo que você conseguiu alcançar o “prêmio” evolucionário. Sob estímulos suficientes, os receptores e dopamina começam a declinar. Isso te deixa insatisfeito, querendo buscar mais. Esta anestesia ao prazer é o meio que seus genes têm para fazer você continuar buscando comida e oportunidades para se acasalar.

O mecanismo de satisfação é uma vantagem evolucionária em situações onde a luta por sobrevivência se sobressai ao mero saciamento das vontades. Pense nos lobos, que precisam conseguir até 10 quilos em cada caça de uma vez só; ou em nossos ancestrais, que precisavam armazenar calorias de alta qualidade através de alguns quilos extras para fácil transporte, para sobreviver em tempos difíceis, ou mesmo diante de um harém para ser fertilizado em tempos de acasalamento.

No passado, essas oportunidades eram raras e passavam rápido.

O ambiente humano mudou drasticamente. A Internet oferece infinitas oportunidades de “acasalamento” que seu cérebro primitivo pensa que é real. Assim como qualquer outro mamífero que se preze, você vai se esforçar para espalhar seus genes para os quatro cantos, mas aqui a sua temporada de acasalamento não vai ter fim.

Você clica, clica, clica, se masturba, clica, clica, clica, se masturba, clica, clica, clica. Seu mecanismo de satisfação se sobrecarrega. A evolução não preparou seu cérebro primitivo para estes estímulos sem fim.

Células que juntas trabalham, juntas se programam

Como a anestesia ao prazer impele ao uso contínuo do pornô, seu cérebro começa a se reprogramar. Essa reprogramação envolve superprodução de substâncias químicas naturais (delta FosB), e o reforço das conexões entre as células nervosas, facilitando a comunicação entre elas. Isto é o que acontece em todo aprendizado, é o que se chama de neuroplasticidade. Quanto mais intensa a experiência, mais fortes serão as conexões. Quanto mais fortes as conexões, mais fácil será para os impulsos elétricos fluírem por esse novo caminho.

Com o consumo habitual do pornô, você estará aprofundando um canal em seu cérebro. Assim como a água flui por onde ela encontra menos resistência, os impulsos também o fazem, assim como os pensamentos. Assim como qualquer habilidade, quanto mais se pratica, mais fácil é de se fazer. Logo isto se torna automático, sem necessidade de qualquer pensamento consciente. Você formou um profundo canal de pornografia em seu cérebro.

Uma anestesia ao prazer combinada com um grande canal levando-o a um alívio de curto prazo, é a base de todos os vícios.

Escala e reprogramação

O desenvolvimento da tolerância (anestesia ao prazer) faz com que um viciado precise de mais “droga” para obter o mesmo efeito. Usuários pesados de pornografia chegam a perceber que assim que eles desenvolvem tolerância para seus antigos gostos, eles partem para novas direções na busca de emoções intensas. Muitos procuram por coisas que os chocam – talvez porque o que é proibido e temível, combinado com prazer sexual, oferece um grande estímulo ao cérebro… pelo menos por um tempo.
 
Por isso, não é incomum que alguém comece a ver pornô com uma foto do traseiro gostoso de uma Jennifer Lopez – e semanas depois se torna excitado com cenas de zoofilia ou estupros.

Quanto mais intensos os eventos associados (orgasmo + vídeo), ou quanto mais essas cenas se repetem, mais forte é a reprogramação. Cada experiência programa novos gostos ao seu cérebro. Se suas preferências sexuais mudaram, seu cérebro também mudou.

Definição de vício?

Alguns acreditam que somente drogas, e não comportamentos, podem causar vícios. Como já mencionado anteriormente, isto é um equívoco. Especialistas na área definem o vício de várias formas. Sucintamente, as etapas de desenvolvimento do vício são as seguintes:

- Comportamento impulsionado por emoções que progridem da busca para a compulsão;
- Uso contínuo sob o risco de consequências adversas, e
- Perda de controle.

O vício pode vir acompanhado de dependência física e sintomas de abstinência. Muitos usuários compulsivos de pornografia se surpreendem com suas síndromes de abstinência, que se comparam àquelas sentidas por usuários de álcool e drogas.

O que faz a pornografia na Internet ser única?

Está claro que hoje em dia a pornografia na Internet é de fácil acesso, disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, gratuito e privado. A forma com que é usada mantém os níveis de dopamina anormalmente elevados por um longo período de tempo, tornando-a especialmente estimulante e potencialmente viciante.

Sites de recupereção frequentemente associam que o vício em pornografia na Internet se deve à combinação de masturbação e orgasmo com atuações estimulantes e chocantes. Com certeza ambos desempenham um papel, mas o que se destaca a pornografia na Internet das demais é:

1) Possui fantasias extremas – centenas de novos parceiros sexuais por sessão. As fantasias são altamente estimulantes, e a pornografia atual não lembra em nada a Playboy, de imagens estáticas e conteúdo finito que seu pai consumia. Os usuários frequentemente relatam que mesmo o sexo real se torna chato em comparação com o pornô.

2) Diferente do que acontece com comida e drogas, onde há um limite para consumo, não existe nenhum limite prático para o consumo de pornografia na Internet. Os mecanismos naturais de saciamento do cérebro não são ativados, até o momento do clímax. Mesmo assim, o usuário pode partir para algo ainda mais chocante para ficar se excitar novamente;

3) Com comida e drogras, a única daneira de progredir no vício é consumindo mais. Com o pornô é possível progredir tanto com “parceiros” de fantasias quanto por assistir práticas sexuais novas e incomuns. É bem comum um usuário procurar por pornografia mais pesada.

4) Diferentemente de comida e drogas, a pornografia na Internet muitas vezes não chega a ativar os mecanismos naturais de aversão. A aversão ocorre quando você não gosta de como uma droga, ou muito purê de batata amanhecido, te faz sentir.

Muitos sintomas, uma única causa
 
Muitas vezes os viciados em pornografia sentem uma variedade de sintomas que não conseguem associar ao uso exagerado do pornô. Alguns desses sintomas são:
- Angústia relacionada à progressão em busca de ponografia mais pesada;
- Impotência copulatória (Só se tem ereção com o pornô, e não com parceiros sexuais);
- Masturbação frequente com pouca satisfação;
- Ansiedade social severa, que vai se agravando;
- Aumento da disfunção erétil, mesmo com pornô mais pesado;
- Gostos mórbidos de pornô que não refletem sua orientação sexual (HOCD);
- Dificuldades de concentração, inquietação excessiva;
- Depressão, ansiedade, lapsos de memória.

Há boas razões para acreditar que estes sintomas surgem em decorrência da anestesia ao prazer e a reprogramação cerebral. Ambas são mudanças estruturais do cérebro, que precisam ser revertidas.

Dando um reboot em seu cérebro

Se este fenômeno está por trás de seus sintomas, você precisa restaurar a sensibilidade de seu cérebro. Isto é chamado de “rebooting”. A melhor forma de dar um reboot é dar a seu cérebro um descanso de todo o estímulo sexual intenso – pornografia, masturbação, orgasmo e fantasias sexuais – até que ele recupere sua resposta natural a esses estímulos (Acima de tudo, para muitos usuários a masturbação está fortemente ligada às fantasias, por isso deve-se evitar ambos).

É claro, no princípio isto é muito difícil. O cérebro não pode mais depender do estímulo contínuo da dopamina (e outras substâncias neuroquímicas) associada à pornografia pesada. Suas conexões reforçadas ligando a satisfação de curto prazo a qualquer gatilho que seu cérebro associa ao pornô, estão a mil. Gatilhos como ficar sozinho em casa, imagens picantes ou mesmo stress e ansiedade, ativam a rotina pornô de seu cérebro. A única forma de enfraquecer essas conexões do subconsciente é parar de usar (reforçar) este caminho, e buscar ajuda comportamental. Gradualmente, esse caminho associado à pornografia e à fantasia sexual irá enfraquecer.

O reboot não só vai parar de ativar a rotina pornô, as também vai ajudar seu cérebro a voltar a ter a sensibilidade de antes. Lembre-se, mentes anestesiadas ficam desesperadas por estímulos, e sua liberdade depende de uma mente balanceada. Aí então você poderá escolher entre seguir o caminho da excitação erótica ou ou algum caminho mais saudável. Não é nem necessário dizer que o reboot não vai garantir que você estará seguro contra os efeitos da pornografia na Internet no futuro. O cérebro humano estará sempre vulnerável a uma espiral perigosa estímulos e fantasias, e o cérebro de um ex-viciado em pornografia terá sempre uma forte via erótica, que será fácil de ser reativada.

Fonte: Your Brain On Porn

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