Abubakar Shekau, líder do Boko Haram, grupo que sequestrou as mais de 200 meninas na Nigéria (Reprodução)
O grupo rebelde nigeriano Boko Haram sequestrou mais de 200 jovens de
 uma escola internato no vilarejo nortista de Chibok em 14 de abril. 
Cerca de 200 homens armados chegaram ao local à noite em 20 veículos 
para roubar mantimentos e levar as estudantes.
O caso gerou duras críticas ao governo, que teria mostrado pouco 
empenho em resgatar as jovens. O sequestro também expôs ao mundo a ação,
 na Nigéria, de um grupo extremista armado que age em nome de uma 
suposta “guerra santa” – nesse caso, contra o modelo de educação 
“ocidental” seguido no país.
Para ajudar a entender a complexidade do episódio, a BBC preparou algumas respostas a perguntas mais frequentes sobre o caso.
Por que as garotas foram capturadas?
Na língua local hausa, Boko Haram significa “educação ocidental é 
proibida”. O grupo promove o conceito de que na visão islâmica o lugar 
das mulheres é em casa.
Não é a primeira vez que o grupo ataca escolas. A de Chibok era a 
única ainda em funcionamento na região de Borno e não tinha nenhum 
recurso de segurança. As estudantes são cristãs e muçulmanas e passavam 
pelos exames finais do ano.
O Boko Haram já sequestrou meninas antes?
O grupo havia atacada uma outro internato em Yobe no mês de março. 
Eles mataram 29 homens e pouparam as estudantes – ordenando que elas 
voltassem para suas casas e se casassem. Alguns analistas dizem que os 
rebeldes pensaram que suas ordens foram desobedecidas e por isso teriam 
sequestrado as jovens de Chibok como uma retaliação e para ter certeza 
de que suas ordens seriam cumpridas.
Em maio de 2013, o grupo também divulgou um vídeo no qual dizia que 
sequestrara mulheres e crianças – incluindo adolescentes – em resposta 
às prisões de mulheres e crianças de seus integrantes. Os insurgentes 
disseram que tratariam suas reféns como escravas (o mesmo foi dito no 
caso de Chibok).
Algum refém do Boko Haram já foi libertado?
O analista americano Jacob Zenn, que estuda o grupo, diz que em 
alguns casos reféns foram libertados em acordos de trocas de 
prisioneiros.
Em fevereiro de 2013, uma família francesa que visitava um parque no 
país vizinho Camarões, e um padre também francês que estava na Nigéria 
foram feitos reféns e libertados posteriormente. A agência de notícias 
Reuters disse ter tido acesso a um documento do governo nigeriano que 
dizia que ao menos a família refém teria sido libertada após o pagamento
 de um resgate de US$ 3 milhões. A França nega o pagamento de resgates.
O que tem sido feito para libertar as estudantes?
O governo nigeriano diz estar optando por ações “discretas” para evitar que as reféns sejam mortas.
A agência de inteligência local diz não ter homens infiltrados entre 
os extremistas, mas o Boko Haram, por sua vez, teria integrantes 
disfarçados trabalhando para o governo.
Os Estados Unidos ofereceram negociadores e tropas especiais à 
Nigéria. A Grã-Bretanha estaria fornecendo “apoio em planejamento”.
As características do terreno do país estariam dificultando o uso de satélites e reconhecimento aéreo nas buscas pelas reféns.
Onde as garotas poderiam estar?
Os sequestradores provavelmente se dividiram em pequenos grupos, cada um levando uma ou duas meninas.
Eles estariam espalhados em uma área de 60 mil quilômetros quadrados 
dentro da floresta Sambisa, a região onde o grupo fica baseado, próximo 
da fronteira com Camarões.
Zenn afirma que a libertação de todas poderia levar mais de uma década.
Por que é tão difícil saber quantas estudantes estão desaparecidas?
Ao menos 58 meninas escaparam ao pular dos caminhões nos quais eram 
raptadas. Mas esse número pode ser maior pois acredita-se que algumas 
famílias não avisaram as autoridades sobre o retorno de suas 
adolescentes.
Também não é possível ter certeza sobre quantas jovens estavam na 
escola pois os arquivos da entidade foram queimados durante o ataque.
Além disso, uma fonte ligada ao Boko Haram disse à agência Reuters 
que duas jovens teriam morrido após serem picadas por cobras e outras 11
 estariam doentes.
O governo poderia fazer mais?
O presidente Goodluck Jonathan impôs desde maio de 2013 estado de 
emergência em três áreas: Borno, Yobe e Adamawa. Mas isso fez o Boko 
Haram intensificar sua campanha de insurgência.
Ao menos 1,5 mil pessoas morreram só neste ano. O governo diz não ter poder de fogo para neutralizar os rebeldes.
Como o Boko Haram se tornou poderoso?
Atualmente o grupo opera como uma guerrilha, mas já possui 
características de um exército regular. Centenas de seus combatentes já 
foram vistos marchando em vilas com picapes armadas com metralhadoras 
pesadas e até veículos blindados.
Não está claro porém como o Boko Haram obtém armas e financiamento. 
Além dos sequestros como fonte de recursos, o governo diz suspeitar que 
os insurgentes recebam dinheiro de políticos e tenham apoio externo de 
grupos jihadistas, como o al-Shabab da Somália e a Al-Qaeda do Maghreb 
Islâmico.
O Boko Haram tem apoio na Nigéria?
Ele era popular na cidade de Maiduguri, onde surgiu em 2002 como uma 
seita religiosa. O movimento ganhou força capitalizando o ódio popular 
contra a corrupção e sua percepção de que o norte do país vinha sendo 
deixado de lado pelo governo.
Porém, sofreu uma queda de popularidade ao cometer assassinatos 
contra muçulmanos moderados e atentados a bomba contra igrejas e locais 
públicos.
Atualmente, a maior parte de seus combatentes vem da etnia Kanuri, o 
grupo de seu líder Abubakar Shekau – que é atualmente o homem mais 
procurado da África. Os Estados Unidos ofereceram uma recompensa de US$ 7
 milhões por sua captura.
BBC

