Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil |
Futebol e
ditadura andaram muito próximos na América Latina. São muitos os casos
em que governos se utilizaram do esporte para se promover. Mas a
utilização do esporte para fins políticos não parou na década de 1970 e
pode ser percebido também na democracia. Sob o tema Futebol e Ditaduras
na América Latina, o assunto foi discutido na 2ª Bienal Brasil do Livro e
da Leitura.
"A gente
constata que futebol e ditadura andaram muito próximos. As ditaduras se
valeram muito do futebol, em vários momentos, como propaganda. Mas isso
ocorre no regime democrático. Nas ditaduras, é claro, é um processo mais
objetivo e danoso, mas também acontece na democracia", disse o
historiador e jornalista Lúcio de Castro.
A Copa do
Mundo, que começa em dois meses, é um exemplo disso. "Em alguns campos, a
gente está vivendo um estado muito preocupante, próximo ao estado de
exceção. Quando a gente fala em remoções de favelas, a gente vive casos
muito preocupantes", disse.
Castro comentou
também as manifestações que ocorreram em meados de 2013, durante a Copa
das Confederações. Ele criticou a forma como o governo está lidando com
o assunto. "Me preocupo muito: a partir dos protestos, se discutiu uma
série de leis que inclusive lembram o estado de exceção, nas quais você
pode ser preso só por estar se manifestando. Espero que a gente possa
viver nas ruas o que é um pais democrático".
Também presente
no debate, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano não quis
comentar especificamente as manifestações ou a Copa, mas defendeu o
futebol como esporte. "O futebol não tem a culpa dos pecados cometidos
em seu nome". Galeano é autor do livro Futebol ao Sol e à Sombra, no
qual mostra que o futebol tornou-se um negócio lucrativo. Galeano
descreve que, para além das paixões, mitos, heróis, glórias e tragédias,
o jogo tem um lado sombrio, que envolve poderosos interesses políticos e
financeiros.
Por outro lado,
os debatedores ressaltaram que não apenas as ditaduras utilizaram os
jogos, mas também a população. Galeano citou o Uruguai como exemplo. Foi
em um estádio, a primeira manifestação contra o golpe no seu país. "O
povo estava mudo pela agressão. Mas foi num estádio lotado, não tinha
nenhum lugarzinho, nem microscópico, que começaram a gritar pela
primeira vez: Se vá a acabar, se vá a acabar la dictadura militar".
Comumente, também o estado de letargia e conformidade com a própria situação econômica e social costuma ser associado ao fanatismo pelo futebol, expondo uma forma de alienação de problemas relevantes, além de um escape à realidade.
Comumente, também o estado de letargia e conformidade com a própria situação econômica e social costuma ser associado ao fanatismo pelo futebol, expondo uma forma de alienação de problemas relevantes, além de um escape à realidade.
Mariana Tokarnia
Edição: Davi Oliveira
Agência Brasil
Editado e acrescentado por Folha Política