Um país que mata mais seus jovens do que se estivéssemos em guerra com outro país. Em 1980, as mortes de jovens em homicídios eram pouco mais de 11% do total. Em em 2010, foram 43%. E hoje?
Um jovem infrator foi preso a um poste no Rio de Janeiro após ser espancado e ter sua orelha cortada por "justiceiros".
Na Baixada Fluminense um homem foi executado na calçada, em plena luz do dia. Segundo testemunhas era um ladrão que assaltava comerciantes e pedestres da região.
Adolescente tenta roubar comida e quase é linchado em Copacabana.
Um jornalista escreve no Carta Capital: "No fim do ano passado, três presidiários do Maranhão foram degolados por grupos rivais diante de uma câmera de celular. Divulgado nas redes, o vídeo chocou a comunidade internacional. Era o retrato de um país em que um presidiário é morto a cada dois dias de forma violenta em suas celas. Quem assistiu as cenas não levaria dois segundos para concluir: este país pode ser tudo, menos um paraíso para bandidos." (...) "Neste país, negros e brancos cometem exatamente os mesmos crimes, mas uns são maioria nas cadeias e outros, nas faculdades.
Os segundos, não importam as atrocidades cometidas nas vidas pública ou privadas, serão chamados de cidadãos de bem; os primeiros terão sorte se não forem degolados. Mas, de acordo com o relato do senso comum dos almoços de domingo, os primeiros estão no paraíso, o "paraíso dos bandidos do país da impunidade"; os segundos, no inferno. De vez em quando, suas carteiras são surrupiadas, e a Terceira Guerra será proclamada." (...) "Nestedelírio, o inferno são os outros, e já que não inventaram uma capsula protetora para separar os que têm fome e os que não têm, resta esticar até o impossível a lógica de um argumento em partes desconectadas: “pagamos muitos impostos”, “a Justiça é morosa”, “vivemos no País da impunidade”, “a lei só protege bandidos”. E pronto: meia dúzia de clichês e embasamento mambembe e a salada está à mesa e os crimes, equiparados.
Engraçado apelar pra dicotomia negros e brancos... infelizmente foi o que mais li sobre o assunto. Nem uma palavra sobre a situação político/social do Maranhão, sob a hegemonia da família Sarney e nem sobre os criminosos do colarinho branco do partido da bandeira vermelha e branca, por acaso as cores da exibiu uma capa (genial, por sinal) onde não tinha uma linha sobre um dos casos mais sérios de corrupção do país, mas exibia a frase "Aguenta firme".');" onmouseout="nd();">Carta Capital. Porque todos os argumentos (até válidos) do autor carecem de um vínculo, e esse liame está justamente na política brasileira.
Não é nenhuma criação da esquerda a impunidade das leis para os do seu grupo: um conhecido senador pernambucano mantinha fazendas com escravos e continua legislando até hoje. Um helicóptero cheio de cocaína de repente "não tem dono". Mas o que estamos vendo nas últimas décadas, vindo da mais alta autoridade brasileira (o Executivo que, tradição no Brasil, tem mais poder de ação e persuasão que os outros poderes) chega ao cúmulo de fazer os cidadãos terem saudades do tempo da ditadura militar(!).
Assim como nos tempos de Hitler (nunca deixarei de citá-lo) os interesses de um partido estão acima dos interesses do país, escancaradamente. Bandidos condenados sofrem pressão para serem soltos imediatamente (coitadinho, é cardíaco) ou ganham emprego de 20 mil por mês de recompensa. Nem sequer pagam multa, pois o partido organiza uma arrecadação com dinheiro "dos companheiros". Uma Ministra da Comunicação é obrigada a se demitir pois o partido reclama que não está saindo dinheiro público suficiente (R$ 1,9 bilhões não são o bastante) pra que jornalistas e blogueiros falem bem do PT - digo, do "governo" - na TV e na Internet. A presidente escolhe à dedo nomes para os Ministérios da educação e saúde e rapidamente descobre-se que ambos estão envolvidos em irregularidades, no que é uma prática comum do PT para a escolha dos Ministérios. O cidadão de bem olha pra isso e se pergunta: fazer coisa errada é um pre-requisito pra administrar o país?
Então quando eu leio gente tentando ridicularizar a frase "paraíso dos bandidos do país da impunidade" eu pergunto: você não acha? em que país você vive? É este o país que você quer pros seus filhos e netos? Se vamos de um lado louvar a bandidagem vermelha em páginas de revistas e internet e demonizar a bandidagem azul, e por outro lado resumimos a violência a uma "luta de classes e cores" por causa da desigualdade, enquanto achamos que não há vínculo algum da corrupção das instituições e da celebração de criminosos do governo com o que acontece nas ruas das grandes cidades, então preparem-se para o pior, que já está acontecendo timidamente e VAI piorar: a polarização de forças na sociedade brasileira.
No Direito vemos que o Ser Humano, pra viver em sociedade, "abdica" de seus instintos básicos de proteção, habitação, alimentação em favor do Estado. Não fosse assim viveríamos no tempo das cavernas, onde o mais forte conquistaria a comida, abrigo mais quente, estupraria as fêmeas que quisesse, roubaria o que precisasse, etc. E como consequência todos precisaríamos andar armados. Quando investimos de poder o Estado, ele se torna responsável por controlar nossa conduta e proteger nossos direitos, e isso está na Constituição:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Ou seja, o Estado nos torna dóceis, para que possamos conviver com nossos semelhantes, e ao mesmo tempo precisa de um braço forte para garantir que aqueles que queiram exercer seus instintos à força sejam controlados e punidos. Pra isso existe a polícia, e a justiça. E quando é a própria polícia que age de forma selvagem, primitiva, buscando satisfazer seus desejos e abusando da força que o Estado lhe conferiu? Aí deveria entrar a Corregedoria e o próprio Estado, que em tese deveria ser o "dono" (cérebro) do braço forte. Mas, e se esse Estado é conivente, corrupto e não pune tais atuações, como vimos no filme Tropa de Elite 2?
O primeiro resultado é que todo o braço passa a perder sua autoridade, que, como vimos acima, foi CONFERIDA (não é algo religioso e imutável) pelo cidadão dócil ao Estado. Este estágio já aconteceu e está se acentuando ainda mais desde as manifestações de junho. E triste do povo que perde a fé na polícia, pois desanima os bons policiais e instiga os jovens (por natureza contestadores) a fazer o que der na telha, já que perdeu-se (há muito) as rédeas morais da família (essa instituição destruída) e agora o "medo" da repressão policial, que ele considera (com motivos de sobra, especialmente nas classes sociais mais baixas) injusta.
O cidadão dócil fica num impasse: que lado devo escolher? Me juntar à bandidagem, que aparenta ser mais vantajosa e numerosa (basta se juntar ao partido, ou ao Comando, ou à torcida organizada, ou ao bando), esperar pelo Estado que não aparece ou me juntar a aqueles que pregam assumir as rédeas do Estado e dar o troco na mesma medida? E o que estamos assistindo hoje é a sociedade tomando essa decisão, e blocos se formando, e quando fica a cargo de CADA cidadão decidir como deve ser a sociedade temos um estado de Anarquia. Fiz um post em três partes muito completo sobre a Anarquia, e nele fica claro que, por melhores que sejam as intenções do estado Anárquico, ele é só um estado de ebulição intermediário entre uma situação e outra, e não resiste ao fascismo que sempre vem, seja ele de direita ou esquerda. E o que devemos temer no Brasil, que hoje caminha para o Anarquismo e o enfrentamento com esse Estado doente, é justamente o que virá depois dele.
De um lado temos os grupos radicais de esquerda, que hoje se descolam do PT por conta da corrupção, mas que são irmãos de ideologia e acreditam que o partido é o Estado e tudo é válido pela obtenção do poder necessário para se fazer a "revolução". Eles são bem organizados, não têm a menor vergonha de defender os extermínios de Stalin, Che Guevara e Pol Pot em nome da ideologia e estão adorando essa crise das instituições (que, não duvido, é calculada e proposital), pois podem doutrinar os jovens nos livros da esquerda marxista, cujo conteúdo só faz sentido num ambiente conturbado socialmente, com inimigos claramente rotulados, desmoralizados e impessoalizados (como "coxinhas", por exemplo).
Do outro temos os grupos radicais de direita, que estão botando as asinhas pra fora. Tradição, família e prosperidade, palavras que invocam ORDEM e tudo o que o cidadão dócil, perdido no meio do caos, quer ouvir. Ele é facilmente seduzido pela sucessão de clichês que, se por um lado falam a verdade, por outro estão a incitar um estado de coisas que não tem NADA de parecido com a idéia de um Estado democrático de Direito, e levam o cidadão dócil a ser obrigado a fazer vista grossa para algo que ele normalmente não defenderia. Um exemplo?
Agora vamos falar de Hitler, novamente. Nos anos 20 a Alemanha vivia uma ebulição anárquica por debaixo do poder constituído (um Estado que ninguém, ninguém mesmo, respeitava por considerar um fantoche do Pacto de Versalhes). Direita e esquerda caíam na porrada nas ruas diariamente. O partido nazista foi formado, começou a crescer e sentiu a necessidade de ter gente fazendo as seguranças dos encontros e comícios, pois os comunistas e social democratas iam lá xingar, agredir, assim como os de direita faziam o mesmo aos adversários. Foram recrutados ex militares, que foram dispensados do exército depois do fim da 1ª guerra. Com a popularização do nazismo (ainda sem tomar o poder do Estado) essa "segurança particular" cresceu e, depois de um quebra-quebra na cervejaria Hofbräuhaus onde esse grupo se saiu vencedor, foi chamada de Sturmabteilung - em inglês: Stormtroopers (isso mesmo!), mas mais conhecida pela sigla "SA". Hitler viu no caos social a oportunidade para o crescimento não só de votantes pro partido, como de um braço armado para legitimação do poder.
A SA usava farda, gravatinha, representavam a ordem no meio do caos. Para o povo dócil alemão ela reprimia as confusões com os "comunistas que tentavam se apossar do país" e ajudavam as velhinhas a carregar as compras na venda. Acredito que, se vivêssemos nos anos 20, grande parte da sociedade - sem acesso a muita informação - também gostaria deles. Bastava fechar os olhos para alguns excessos que, no ponto de vista deles, eram necessários pra "limpar o lixo das ruas". A coisa era tão cativante que havia até uma seção da SA para jovens de 14 a 18 anos, a Jugendbund. Enfim, quero deixar bem claro que para o povo alemão dos anos 20 Hitler era só um cara patriota (austríaco, mas considerado mais Alemão que a maioria) e bem intencionado, que usava métodos não-ortodoxos, mas efetivos e necessários. E assim legitima-se aquele que viria a ser um dos maiores criminosos do mundo.
Ainda bem que temos a história para nos alertar, e a história do nazismo é a melhor e mais didática de todas pois representou (e realizou) tanto as ambições de esquerda do partido dos trabalhadores alemães como as de direita, do zeloso guardião do país, protetor da família, da moral e dos bons costumes.
Então, pra onde estamos caminhando? É esse o país no qual vocês querem viver?
Antes que comecem os clichês de "tá com pena, leva pra casa" ou "e se ele tivesse roubado você?" adianto logo que um dos grandes motivos que me fez sair do país foi a bandidagem (da rua ao Planalto), e se um marginal tivesse feito algo comigo ou com minha família ficaria em cólera e sabe Deus o que aconteceria.
SÓ QUE não considero isso CERTO, nem vejo isso como um caminho que as pessoas devam tomar. Imagine pessoas justiçando outras em nome do bem-comum. Imagine que o único julgamento seja a moral (obviamente distorcida) dessas pessoas que matam pessoas. Aonde esta onda vai quebrar? Quem viu o filme Tropa de Elite 2 sabe que aquilo lá é uma triste realidade para os moradores do RJ, que saíram das garras de traficantes pra cair nas garras de "policiais".
E os erros de julgamento? Quantos não são assassinados por serem confundidos com ladrões ou por estarem no lugar errado, na hora errada? Se for fechar os olhos pra isso... bem, você não está sendo muito diferente da esquerda que justifica os genocídios de sua ideologia como um mal necessário. Cobrar ética de um grupo de extermínio é querer esticar demais os limites da ética... até o Batman, que não mata, às vezes comete excessos em seu zelo pela justiça.
Quem vigia os vigilantes
Fonte Saindodamatrix.com.br
Postado em Chega 2012
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