Crianças numa creche improvisada nas palafitas de Ilinha, a pouca distância do Palácio dos Leões, sede do governo Imagem:: Manteuffel/O Globo |
BRASÍLIA — O
Maranhão é o estado brasileiro com maior percentual de miseráveis, e o
único onde esse índice permanece em dois dígitos: 12,9%, quase quatro
vezes mais do que a média nacional, de 3,56%. Os dados são de 2012 e
revelam que o estado governado por Roseana Sarney piorou de posição no
ranking da pobreza extrema na última década. Em 2002, o Piauí é que
detinha o maior percentual de miseráveis (22,5%), seguido por Alagoas
(19,04%). O Maranhão aparecia em terceiro lugar, com 18,97%.
Dez anos
depois, num período em que o Brasil viu cair suas taxas de pobreza
extrema, o próprio Maranhão conseguiu diminuir a proporção de
miseráveis. Mas foi ultrapassado e passou a ter o maior percentual de
extremamente pobres do país. Já o Piauí, escolhido no primeiro ano do
governo Lula como local de lançamento do programa Fome Zero, reduziu sua
taxa de miseráveis de 22,5% para 4,26%, melhorando sete posições — tem
agora a oitava maior proporção de extremamente pobres.
Alagoas
permanece com o segundo maior percentual. A taxa alagoana, porém, caiu
em velocidade maior do que a maranhense: de 19,04% para 7,87%, ao longo
da década. Acuada por uma crise no sistema penitenciário que desencadeou
ataques contra ônibus, Roseana citou anteontem o avanço econômico
maranhense como uma das causas do aumento dos problemas na Segurança
Pública: —
Um dos problemas que estão piorando a segurança é que o estado está
mais rico, o que aumenta o número de habitantes — declarou a
governadora, após se reunir, em São Luís, com o ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo.
No Rio, número de miseráveis aumentou
Os índices de
miséria foram calculados a partir dos microdados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. O recorte considerou a linha
oficial de pobreza extrema definida pelo governo federal, que classifica
como miserável quem sobrevive com renda mensal de até R$ 70. Para
permitir a comparação entre 2002 e 2012, o valor da linha de miséria foi
corrigido pela inflação do período, com base no INPC.
A mesma
comparação mostra que o percentual de miseráveis no Rio de Janeiro
manteve-se praticamente estável, com ligeiro aumento, passando de 2,5%
para 2,7% da população. Em 2002, no entanto, o Rio era o segundo estado
brasileiro com menor proporção de miseráveis e caiu para 13º, em 2012,
uma vez que os demais estados conseguiram reduzir suas taxas de pobreza
extrema. Santa Catarina era em 2002 e continua sendo o estado com menor
índice: 1,1%. O levantamento exclui a população rural dos estados da
Região Norte, à exceção de Tocantins, já que a Pnad não cobria essas
áreas em 2002.
Outros dados do
IBGE mostram que o rendimento médio dos maranhenses avançou mais do que
em alguns estados, no mesmo período. Em 2002, o Maranhão tinha a menor
renda per capita do país. Em 2012, porém, estava em melhor situação do
que Alagoas, o lanterna, e do que Pará, Ceará e Pernambuco.
Na mesma linha,
o Produto Interno Bruto (PIB) maranhense foi, no Nordeste, o que mais
aumentou proporcionalmente em relação ao PIB brasileiro. O PIB é a soma
de bens e serviços produzidos, e serve para comparar o tamanho e o
crescimento da economia.
Em 2002, o PIB
do Maranhão respondia por 1% do PIB nacional. Em 2012, por 1,3%, um
acréscimo de 0,3 ponto percentual. A título de comparação, o PIB da
Bahia perdeu participação: de 4,1% para 3,9% do PIB nacional, na mesma
década. A fatia de Alagoas ficou estável e a do Piauí cresceu 0,1 ponto
percentual. Apesar do avanço, o PIB do Maranhão se manteve inalterado
como o 16º maior do país.
Situação similar na década de 80
Um recuo mais
longo no tempo mostra que o Maranhão era o segundo estado com mais baixa
renda per capita no início da década de 1980, à frente apenas do Piauí,
que era o pior colocado. Três décadas mais tarde, em 2012, no entanto, o
Piauí tinha a oitava menor renda domiciliar per capita do país.
Portanto, à frente do Maranhão, que estava na quinta posição.
O mero
crescimento econômico não leva necessariamente à redução da miséria ou
da desigualdade, que é a medida da distância entre ricos e pobres.
Durante o regime militar, a economia brasileira cresceu em taxas
superiores a 10% ao ano, mas isso não significou redução da
desigualdade. Ao contrário, acirrou-a.
O Maranhão
tinha, em 2012, a segunda maior taxa de analfabetismo de jovens e
adultos, com 20,8% da população de 15 anos ou mais sem saber ler e
escrever. Alagoas estava em situação ainda pior, com 21,8%. A média
brasileira era de 8,7%. O Maranhão tem também o segundo mais baixo
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do país, à frente
somente de Alagoas, que é o lanterna. Esse índice é calculado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e considera
três dimensões: Educação, expectativa de vida e renda.
Demétrio Weber
O Globo
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