LUTAR PELA JUSTIÇA SOCIAL NÃO É TUDO

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pensadorPor Antonio Carlos Costa
Imaginemos o melhor dos mundos. Fim da desigualdade social, erradicação da pobreza, queda radical dos homicídios dolosos, acesso a educação de qualidade, sistema de transporte urbano eficiente e confortável, pleno emprego, moradia para todos, bairros com rede de esgoto, serviço de atendimento hospitalar elevado ao que é oferecido em países desenvolvidos, áreas de lazer espalhadas pelas cidades, ruas bem cuidadas e belas, fim da poluição urbana, erradicação de doenças transmissíveis, jornada de trabalho não desumana, investimento na produção artística, progresso tecnológico, avanço nos mais diversos campos de pesquisa. Acrescente o que você quiser. Vá longe. Pense e responda: em que espécie de mundo viveríamos?
Um mundo em que as pessoas teriam tempo para o amor, a literatura, a prática de um hobby, o contato com a natureza, a busca pelo sentido da sua existência. Livres da batalha sem trégua pela sobrevivência e da “guerra de todos contra todos”, os cidadãos desse Brasil abençoado passariam a ter mais tempo para pensar. Boa política é aquela que nos permite filosofar. Isso tem valor. “A vida não examinada não é digna de ser vivida”.
O problema com esse colosso de país é o tédio que poderia causar na vida dos seus cidadãos. Ter tempo para pensar pode causar angústia, uma vez que remete o ser humano a considerar a fragilidade de todas as coisas. A condição humana é trágica.
A vida breve, cheia de incertezas e penosa que todos vivemos carece de uma esperança que nenhum sistema de governo pode oferecer. O Estado some quando estamos num leito de hospital enfrentando o transe da morte. Ali, pouco nos importa viver num modelo político de direita, esquerda ou centro. Locke, Rousseau, Montesquieu, Adam Smith, Karl Marx, não têm mais o que nos comunicar. Neste mundo não há consolação para aquele que se vê na iminência de ter que se separar para sempre de tudo o que ama.
Mesmo assim, esse país de justiça, igualdade, liberdade, fraternidade, paz, poderia fazer com que tantas outras pessoas aprofundassem o que lhes trouxe esperança à vida. Porque há daqueles que crêem que em Jesus Cristo o ser humano encontra muito mais do que tudo quanto um dia sonhou. “Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos conforme o seu poder que opera em nós”, diz o grande apóstolo Paulo. Sendo assim, esses que conheceram a razão para viver e morrer teriam mais tempo para orar, ler as Escrituras, adorar a Deus na igreja, servir ao próximo, anunciar o evangelho, amar, celebrar a vitória da ressurreição de Cristo sobre a morte. O ócio santo. O tempo livre que permite ao ser humano reflexionar sobre o Estado, a vida, o amor, a esperança, a liberdade, com toda a alegria e espanto de quem descobriu o sentido da existência do que foi criado.
Pelo quê o cristão luta, portanto, ao combater a injustiça social? Luta, entre outras coisas, para que as pessoas tenham tempo para pensar. Pensar no seu desespero ou pensar na sua esperança.
Em suma, não podemos conceber deixar de pregar o evangelho. É ele que nos dá o maior dos motivos para lutar pela justiça social. Mais do que isso, é a esperança do cristianismo que nos livra do tédio de viver num Estado no qual as condições sociais permitem às pessoas examinar a vida. Como disse Pascal, “Nada pode ser mais miserável do que se sentir intoleravelmente deprimido quando se é forçado à introspecção por não haver meios de distração”.
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O Pastor Antonio Carlos Costa é Teólogo calvinista e fundador do Rio de Paz (Filiado ao DPI da ONU), há meses atrás teve o seu filho preso arbitrariamente nas manifestações do Rio de Janeiro. Escreve no blog Palavra Plena. Divulgação: Púlpito Cristão.

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