O Tempo é Mau
A bíblia não diz, porém, com o Big Bang começou o tempo. No começo mesmo da criação, quando deus disse “faça-se a luz”, estas palavras não podiam ser pronunciadas se não existisse o tempo. O tempo foi criado por um deus criador, ao criar a luz. A grande explosão e expansão iniciais não podiam ter existido sem o tempo. O tempo e espaço foram criados juntos e são inseparáveis. O tempo é a consciência, a respiração, (em espanhol, alento) do deus criador. E toda sua criação, a expansão do universo, a evolução das espécies, o desenvolvimento paulatino de seu plano, não poderiam ocorrer sem o tempo. Segundo os Gnósticos, o tempo-alento do deus criador é tão satânico como a matéria e tão satânico como ele.
O Deus Criador
Foram várias seitas Gnósticas, nos primeiros séculos de nossa era, que equipararam a figura de deus criador não a um ser bom e justo, mas sim a de um ser satânico. O equiparou a figura de satanás, várias dessas seitas. Em um de seus contos, Gustavo Adolfo Bécquer nos relata como o deus criador Brahma vai criando os mundos, como bolhas, e como vai aprendendo com eles, e porque ás vezes tais mundos dão certo e às vezes não dão certo. Não é um deus extraordinariamente perfeito, mas sim bastante incompetente, parece. Existem mundos que não dão certo e assim tem que destruí-los. Existem mundos que se saem melhor. Vai provando, vai ensaiando. Vai criando através do ensaio e do erro. A bíblia diz: “Disse Deus ‘faça-se a luz’ e fez-se a luz. E viu Deus que a luz era boa.” Como! Já não sabia? Não sabia que era algo bom? Por isso os Gnósticos dizem “estamos frente a um criador ignorante dos efeitos de sua criação”.
Igualmente, o deus criador sustenta continuamente que ele é o único. Não disse uma vez, mas disse permanentemente, constantemente: “eu sou o único Deus”, “não há outro Deus a mais que eu”, “eu, teu Deus, sou o único”, etc. todos sabemos que quando alguém repete excessivamente sempre a mesma coisa é porque não está muito seguro do que afirma, por isso necessita reafirmar tanto. Os Gnósticos interpretaram isto como se o criador suspeitasse, pois também não está demasiadamente seguro de que não exista outro Deus, muito acima dele. Um infinitamente superior a ele, muito maior, muito mais importante que ele, e isso é o que trata de ocultar ao repetir incessantemente "eu sou o único”, “não há outro Deus fora de mim”.
Indubitavelmente, este deus criador é o criador do mundo, de todos os mundos, dos planetas, do universo, da matéria, do tempo. Ele é o responsável pelo Big Bang, como ensina a física atualmente. Tudo o que a física sustenta atualmente, que tudo começou com uma grande explosão, com uma grande luz, coincide com a maioria dos mitos de distintas religiões sobre a criação do mundo. Primeiro deus criou a luz, depois foi criando distintas coisas até chegar aos animais e por último ao homem. Todos esses mitos, que estão na bíblia e em outros livros religiosos coincidem, com respeito à criação do mundo e do homem, com as conclusões atuais de físicos e biólogos.
Claro que toda essa criação está plena de erros, não é perfeita. E se este mundo é imperfeito, se a matéria é imperfeita, é porque o criador de tudo isto, é imperfeito. Hoje um Gnóstico diria, por exemplo, que “o aparecimento dos dinossauros foi estúpido, foi um erro, o criador teve que anular tudo, extinguir tudo isso e começar de novo, outro experimento, até chegar a algo que o satisfaça.” Porque o deus criador tem planos. Veremos mais adiante do que se tratam.
A física afirma, com Einstein, por exemplo, que o universo não é algo infinito, mas sim uma espécie de bolha onde está contida a criação. O universo é finito, afirmou Albert Einstein. Esta criação está limitada, é como uma bolha gigantesca onde está contido todo o material criado pelo deus criador e não sabemos o que existe fora disso. A Gnose afirma sabê-lo, já veremos.
Segundo se diz, inspirados pelo deus criador do universo, livros sagrados de distintas religiões, nos relatam feitos, detalhes, que mostram o deus criador como um ser não muito perfeito e não inteiramente bom. O descrevem às vezes como um deus vingativo, colérico, soberbo, inseguro e indeciso. Um deus que ama os sacrifícios em seu nome, os genocídios, e que ordena matar a outros povos para apoderar-se de seus pertences, de suas terras, de sua gente, de seu gado. Ordena matar não só os inimigos, também as mulheres, as crianças, os animais.
Um deus genocida. Este deus exige sacrifícios em seu nome, pois ama o odor da carne queimada das vítimas imoladas sobre o altar. Este deus que provocou o dilúvio. Quantos milhões e milhões de homens morreram afogados pelo dilúvio! Assim o relata a bíblia e outros escritos anteriores, como o dilúvio babilônico, por exemplo. Gosta dos sacrifícios humanos e de animais e do sangue derramado de seus inimigos. Gosta que o admirem, que o adorem, que o sirvam, que o temam, que o obedeçam. Gosta dos templos edificados em sua honra, os rituais, os mandamentos, que cumpram suas ordens, que elevem orações a ele. Gosta da dor de suas criaturas, das torturas, do sofrimento. Os Gnósticos antigos lhe davam o nome de Ialdabahot, que significa “filho do caos”, e às vezes o nome de Sabaot: “deus dos exércitos”. Também foi chamado de Kosmocrator ou o Grande Arconte, o criador e ordenador da matéria. Porém o nome com que mais comumente se designa na Gnose é o de demiurgo, que significa “criador” em grego.
Sem dúvidas, este “ser superior” não pode ser um ser bom, e quem afirmou estas idéias que estou relatando, no decorrer da história, logicamente foram perseguidos e pagaram com a vida a ousadia de dizer o que para eles era a verdade. Um ser superior que ama as guerras, os infanticídios, que ordena mutilações genitais nas crianças, sem dúvida não pode ser um deus bom. Por isso os Gnósticos o equipararam a satanás. O consideravam um satanás criador. Já sabemos qual foi o destino dos Gnósticos, de suas doutrinas e de seus livros: queimados e perseguidos. Tal é o destino de estes chamados “hereges”, como foi designado no curso da história.
Este mundo, criado pelo deus criador, pertence somente a ele. Todo o material que existe no mundo lhe responde, adora a ele, admira ele. Se essas doutrinas que estamos relatando estão condenadas a serem perseguidas sempre, logo, não vão apresentar grande êxito. Somente uma minoria valente pode estudar, interpretar e afirmar tal doutrina. Estão em terra inimiga, aqueles que sustentam as idéias Gnósticas antigas e eternas. Porém, a Gnose está sempre presente neste mundo estranho que não lhe pertence. E este pensamento Gnóstico, oposto ao estabelecido, é o mais perseguido e rechaçado universalmente. Existem temas que “não se podem” tocar, existem coisas que “não se devem” dizer, existem livros que “devem” desaparecer, pois vivemos em um mundo em que somente existe liberdade para dizer “dois mais dois são quatro”.
Este mundo é um campo inimigo para um Gnóstico. Um Gnóstico poderá aparecer, dizer algo e desaparecer rapidamente, pois toda criação se voltará contra ele automaticamente. Quantos anos pôde pregar Jesus Cristo, segundo o mito cristão? Somente três. Porém, desses três anos, se originou uma religião exitosa que já leva mil anos sobre a Terra! Dizíamos que este mundo é um campo inimigo para um Gnóstico, porque todo o mundo material e todos os seres que o povoam são feitos de matéria e o criador da matéria não pode conceber algo diferente. Tudo que se oponha ao mundo material e seu deus criador é perigoso e deve ser destruído. A Gnose, portanto, é percebida como algo inconcebível e horroroso que deve ser eliminado.
Os Gnósticos têm representado o deus criador com formas horríveis. Com formas de um pólipo ou um réptil, com cabeça de cervo, de javali ou de asno. Por isso algumas religiões proíbem comer estes animais. Também o representam parecido com o Baphomet demiúrgico, dos templários e maçons. Alguns o têm representado como um javali gigantesco, semi-dormido, com o corpo cheio de olhos e que exala um alento que é o tempo, pois como dissemos, o tempo é a consciência desse deus criador.
Este mundo não é bom, sem dúvida alguma. Os animais têm que digladiar entre si, destroçarem-se, para poder comer e sobreviver. Os seres humanos necessitam enganar uns aos outros em todas as ordens da vida, para superarem-se, para competir, para sobreviver melhor. Os animais herbívoros necessitam destroçar plantas, que são seres vivos também. Tudo se autodestrói e destrói aos demais constantemente. E existem aqueles que chamam isto de “perfeição” ou “equilíbrio perfeito”. Incrível. Isto é o inferno. Não é um sistema perfeito e muito menos, bom. É um sistema em que cada um deve destruir ao outro para poder sobreviver. Este é o sistema criado, este é o mundo criado por um “ser superior”: o deus criador ou demiurgo.
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