Qual seria o Papa
ideal para a Igreja do terceiro milênio? Um Papa bastante jovem que não
fale apenas a linguagem religiosa, alguém atento às realidades das
pessoas e suficientemente forte para restaurar a ordem na Igreja.
Depois de oito anos
de um pontificado onde a Igreja teve de lidar com numerosos escândalos,
da corrupção aos casos de pedofilia, essas qualidades são
frequentemente citadas por bispos e vaticanistas entrevistados pela AFP.
O novo pontífice
eleito pelo Conclave deve, necessariamente, ser poliglota, mas sua
nacionalidade não conta tanto quanto antes. Precisará de uma formação
doutrinal sólida, como deseja aquele que designou a maioria dos
eleitores: Bento XVI.
As prioridades dos
eleitores não serão necessariamente aquelas que se acredita: quando os
cardeais de países tão diversos como China, Argentina, Nigéria e Estados
Unidos se reunirem em Conclave, as questões levadas em conta serão
variadas (corrupção, guerra, racismo, pedofilia, direitos políticos, o
Islã, aculturação, secularização, etc), mas provavelmente distantes do
"Vatileaks" e das revelações sobre um "lobby gay" ou dos escândalos
financeiros no Vaticano.
Os cardeais sentem a
falta de um Papa com o carisma de João Paulo II e de alguém com uma
visão não estreita, "italiana", mas universal, da Igreja.
Esta escolha está
envolta em um clima de divisões, entre conservadores e progressistas, e
ameaças, do islamismo à secularização em massa.
De acordo com
Stephen Schneck, diretor de um instituto de pesquisa da Universidade
Católica da América, "os católicos gostariam de ver um Papa que não
acentue as divisões, mas que sirva como mediador". Ele não deve ser
demasiado flexível doutrinariamente, mas, ao mesmo tempo, firme.
Segundo um cardeal
que pediu anonimato, "a inteligência e força de caráter", incluindo o
poder de decisão se necessário, são essenciais.
O Papa também deverá reviver a colegialidade, algo negligenciado por Bento XVI, de acordo com o cardeal.
O biógrafo do Papa,
Marco Politi, critica a era Ratzinger, que não reformou a Cúria: "Nós
precisamos de um Papa que saiba governar e não apenas um intelectual". O
escândalo do vazamento de documentos conhecido como "Vatileaks" revelou
a discórdia nos órgãos centrais da Igreja. Seu banco, o IOR, serviu no
passado para a lavagem de dinheiro.
Uma grande
preocupação, especialmente nos países ocidentais, é a de tornar atraente
a mensagem do Evangelho, sem deformações. Alguns prelados
cautelosamente recomendam mudanças (sobre os divorciados, o casamento
gay e dos sacerdotes).
Para o vaticanista
Andrea Tornielli, "é preciso um Papa que saiba falar para o mundo, para
além do catolicismo, apresentando a fé como uma grande mensagem
positiva. Que não seja dobrada no interior" da Igreja.
É este perfil
humilde e aberto à sociedade, menos moralista, que não tem respostas
preparadas para tudo, que preconiza o jovem cardeal de Manila (55 anos),
Luis Antonio Tagle, o candidato preferido da Ásia.
Homem "aberto", "inteligente", "saudável": os cardeais franceses também traçaram o seu retrato ideal do Papa.
Ele "não pode ser
tomado por Deus" e deve ter "a mente aberta o suficiente para tentar
entrar em diferentes culturas", considerou o arcebispo de Paris, André
Vingt-Trois.
Mas, dadas as
divisões, deve ser "esperto". Ele deve ser capaz de "segurar as pontas
na tempestade, as contradições, o conflito."
O cardeal Paul
Poupard, ex-"ministro" da Cultura de João Paulo II, quer um "homem de
visão, cooperação e de decisões". "Deve ser bilíngüe, ou seja, capaz de
falar a linguagem de Deus na linguagem dos homens", disse à AFP.
"Substituir um
'gigante' não será fácil", considera o primaz dos gauleses, o cardeal
Philippe Barbarin, segundo quem "não haverá caras tão grandes como os
dois antecessores".
O arcebispo
Jean-Louis Tauran, responsável pelo diálogo inter-religioso, quer
coragem: "esta responsabilidade incrível, eu não desejo para ninguém,
nem mesmo ao meu melhor amigo", disse ele ao jornal La Croix.
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