Por Antognoni Misael
Quem consegue ver que o Evangelho nos
dias atuais tem sido ultrajado por um atraente “Evangeliquês de
Conveniência”? As palavras-chave para essa epopeia são: bênçãos,
prosperidade, unção, decreto, show e tudo que for semelhante a prazer,
bem estar e felicidade material. É o evangelho do “me dou bem” porque
Deus é fiel a mim! É o evangelho do ‘antes pobre’ e do ‘depois rico’, do
‘antes atribulado’ e depois ‘sombra e água fresca’. É o evangelho da
árvore grande, vistosa, mas sem fruto e raiz alguma.
Como blogueira, acompanho muita gente
escrevendo sobre essa crise no meio evangélico. Interessante é perceber
como podemos olhar para um mesmo livro, para uma mesma cruz, ou talvez
para uma mesma circunstância e vermos as coisas escandalosamente às
avessas. Fico refletindo: como um corpo (igreja) de um mesmo estereótipo
a cada instante se estranha por ver dentro de si tantas práticas e
ideias contrárias ao que um dia foi defendido e vivido por Cristo, pela
igreja primitiva e pelos reformadores? Sei lá, acho que não estamos
olhando para o mesmo norte. O corpo tá estranho. Preciso me revirar,
gritar, e deixar claro: “Não creio em modismos, esquisitices e heresias!
Não é essa a igreja que vi em Jesus Cristo, em Atos dos Apóstolos,
assim como não é essa cosmovisão e radicalidade que vi nos reformadores
levantados por Deus para revolucionar o século XV e XVI”.
Notório é pra quem já deixou de ser
criança – assim como Paulo menciona em 1 CO 13:11– que estamos
vivenciando uma crise e desfalecimento da igreja brasileira (sugiro a
leitura do livro O fim de uma Era,
do Bispo Walter McAlister). Quanto mais ela “cresce”, mais ela se
fragmenta, se (des)identifica, se deteriora, se desqualifica e se
despede do temor e amor a Verdade.
Nos entraves disso tudo, quem se cala,
entra no bloco do tal “avivamento” e dança com a música (gospel) a festa
do inchamento; quem acusa o problema, passa a ser taxado de rebelde,
descrente, perseguidor ou como disse o Malafaia, de ilustre desconhecido e vagabundo.
Certa vez João Alexandre falou:
“Passarinho que anda com morcego, começa a dormir de cabeça pra baixo”!
Ali ele se referia revoltosamente a muitos evangélicos no Brasil. E ele
tem razão. Tem muitos morcegos por aí sugando a fé dos cansados, a
convicção dos perseverantes, a liberdade dos livres. Contudo, assim
como João eu também faço coro: prefiro levantar a cabeça, ver a cruz, a
liberdade em Cristo e a Graça de viver além de números, movimentos, e
das palavras-chave.
Eu, Antognoni Misael, prefiro ser
passarinho que voa na contramão da tempestade, mas que não dorme de
cabeça abaixa. E você, ainda anda com morcego?
***Do Arte de Chocar, para o Púlpito Cristão