Autor: Carl Teichrib, Forcing Change, Edição 2, Volume 1.
“O cidadão deve ser moldado para se adequar à forma de governo em que vive.” — Aristóteles, Política, Livro 8. [1].
“Nunca antes na história humana tantos tiveram um acesso tão fácil a tanto poder potencial para tantos propósitos diferentes.” — In Athena’s Camp: Preparing for Conflict in the Information Age. [2].
“Operações psicológicas” não é uma expressão tipicamente encontrada no vocabulário do público geral. Essa expressão é um termo militar que se refere a uma operação de informações destinada especificamente a mudar o comportamento e as atitudes de um grupo-alvo. Em termos militares, esse grupo é formado por combatentes inimigos e/ou a população geral de um país inimigo.
Hoje, vivemos em uma época em que as informações são consideradas centrais para a manutenção do poder político e econômico, o que coloca a abrangência das operações psicológicas muito além das aplicações exclusivamente militares. Embora isto não seja fundamentalmente novidade — as informações e sua alavancagem sempre foram instrumentos de poder — a maioria das pessoas não tem uma compreensão da importância da manipulação e da capacidade de persuasão das informações.
Na forma mais ampla, as operações psicológicas estão intimamente vinculadas à sua prima: a propaganda das informações. De fato, a distinção entre as duas é tênue e na literatura (incluindo os documentos militares) essas duas ciências estão intimamente interligadas.
Peter Kenez, autor de The Birth of the Propaganda State, escreveu:
“Para discutir a questão de forma sensata, precisamos abandonar a esperança de encontrar uma definição da propaganda que seja precisa, que cubra todos os atos da propaganda e somente propaganda, e que seja utilizável, independente do tempo e do espaço. Em vez disso, precisamos aceitar a definição mais ampla possível: a propaganda não é nada mais do que a tentativa de transmitir valores sociais e políticos na esperança de afetar a mente e as emoções das pessoas e, desse modo, modificar o comportamento.” [3].
Um antigo documento das forças armadas canadenses sobre operações psicológicas, intitulado Psychological Operations — First Draft (Operações Psicológicas — Primeiro Rascunho), postula uma posição similar:
“As operações psicológicas (chamadas no jargão militar de PsyOps, ou também de OPs) são um termo genérico usado para cobrir todos os aspectos das atividades psicológicas e é definido como: atividades psicológicas planejadas em tempos de paz e de guerra, direcionadas contra audiências inimigas, amigas ou neutras, de modo a influenciar as atitudes e o comportamento que afetam o alcance de objetivos políticos e militares.” [4] [itálicos adicionados]. Fazendo uma ponte entre os dois conceitos de informações, esse documento canadense diz explicitamente: “A propaganda é um instrumento básico das operações psicológicas.” [5].
Ao ressaltar o valor da propaganda como o instrumento principal das operações psicológicas, é importante considerar o papel e o uso da “mensagem”. Uma seção extraída do documento militar canadense referido anteriormente diz: “A mensagem de propaganda é uma comunicação com o propósito de produzir uma ação e uma atitude. Antes de poder realizar seu propósito, ela precisa ser ouvida pelo receptor designado (o alvo). Em resumo, a mensagem precisa ser recebida, compreendida, aceita como verdadeira, oferecer uma solução e produzir um resultado desejado.”
Com base em uma política, nas informações coletadas pelos serviços de Inteligência, um alvo, temas, e uma avaliação dos resultados desejados, o propagandista compõe sua mensagem. Ele precisa construir e transmitir sua mensagem no tempo correto para que, mesmo em competição com muitos outros materiais que estão sendo apresentados ao alvo, a mensagem seja ouvida. O alvo precisa compreender a mensagem e interpretá-la da forma desejada pelo propagandista.
Uma mensagem de propaganda precisa despertar ou estimular necessidades. Ela precisa provocar uma ação ou produzir a atitude desejada pelo propagandista. Isto requer que a mensagem diga ao alvo como satisfazer suas necessidades — seguindo o curso de ação desejado pelo propagandista. Isto, por sua vez, requer que as ações (incentivadas abertamente, ou de forma implícita) sejam apropriadas e importantes para o alvo. De modo a obter a atenção ou a atitude desejada, a mensagem precisa, na opinião do alvo, oferecer a melhor solução (ou a única solução lógica) para a solução do problema enfocado ou em atender às necessidades do alvo.
Essencialmente, o propagandista precisa tomar todas as medidas necessárias para garantir que a ação que ele deseja seja bem-sucedida e que a ação que ele não deseja tenha a mínima oportunidade de chamar a atenção do alvo, isto é, que ela falhará. [6].
Isto é significativo, pois demonstra a moldagem intencional de um grupo (uma sociedade) por meio da disseminação de informações específicas, a mensagem, para atingir determinados objetivos no alvo. Além disso, esse relacionamento mensagem-alvo normalmente não é aparente para a audiência. A vagueza situacional não está sempre presente, mas tipicamente o grupo-alvo desconhece as influências externas que estão em operação, moldando as opiniões, crenças, valores e atitudes.
Operações Psicológicas e Influência Interna
Uma admissão interessante dos alvos das operações psicológicas militares pode ser encontrada em uma publicação produzida pelo Programa de Pesquisa de Comando e Controle (CCRP), que opera vinculado ao gabinete do Assistente do Secretário de Defesa dos EUA. Ao discutir a importância do suporte público para as operações militares, especificamente após a Batalha de Mogadishu, em 1993, em que 18 militares americanos morreram, os autores do relatório dizem:
“Após a Somália, ‘os corações e mentes’ a serem conquistados ao montarmos essas operações não são apenas aqueles no país em questão — o alvo tradicional das operações psicológicas. Eles agora incluem, talvez até de forma predominante, os corações e mentes do povo e do Congresso americano.” [7].
Isto é tremendo. Como Peter Kenes nos lembra: “… a propaganda frequentemente significa dizer menos do que a verdade, enganar a população e mentir…” [8]. Embora o exemplo acima possa ou não ter um vínculo direto com mentir ou “enganar a população”, ele ilustra o aspecto da política pública de “persuasão”, colocando em jogo questões de ética e de governança.
São inúmeras as questões éticas relacionadas com a persuasão do público. Em um relatório publicado em 2005, o Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA examinou ações das agências do Poder Executivo e descobriu diversos exemplos de atividades com informações controversas. Agências tão diversas quanto a Receita Federal, o Departamento de Política e Controle de Narcóticos, a Previdência Social, o Departamento da Educação, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos e a Agência de Proteção Ambiental foram todos apontados por empregarem campanhas com informações altamente questionáveis. Muitas dessas campanhas tinham o objetivo de promover as posições do governo. Entretanto, no caso da Comissão Federal das Comunicações, descobriu-se que esse órgão estava especificamente promovendo os aparelhos de televisão digital — junto com grandes interesses empresariais que se beneficiariam com as vendas desses aparelhos. [9].
Embora as vendas de televisores seja algo trivial em termos de atividades de propaganda, isto ilustra o quão aceita e firmemente estabelecida a manipulação das informações se tornou. Infelizmente, isto também levanta a validade da desconfiança geral da população no governo.
Reconhecendo o dilema do efeito bumerangue da enganação como um instrumento da política, especialmente no que se refere às preocupações maiores, um relatório do Colégio de Guerra do Exército dos EUA observou:
“Como os governos praticaram o engano envolvendo questões tão importantes quanto a segurança nacional, é difícil para muitos na mídia e no público em geral, desconsiderarem totalmente a possibilidade que os anúncios do governo possam ser desinformação… Qualquer pessoa envolvida em operações de enganação, ofensiva ou defensivamente, deve estar ciente das questões de credibilidade inerentes neste assunto. Frequentemente, há mais em risco do que uma vantagem política ou militar temporária.” [10].
Há muita coisa em risco, incluindo a credibilidade de longo prazo das estruturas civis básicas. Isto é inerentemente verdadeiro com relação à propaganda que foi inicialmente colocada em ação para inverter os valores sociais e os comportamentos internos porque, uma vez que o mecanismo tenha se estabelecido no fulcro da vida civil, sua influência pode persistir por muito tempo após o programa oficial terminar. Em outras palavras, um efeito bola de neve pode continuar até que a má informação seja rebatida por vozes mais sensatas, até que ela se autodestrua sob a inércia de suas próprias enganações, ou até que o resultado original da operação psicológica — ou uma variação dele — seja alcançado.
Infelizmente, o alcance da propaganda frequentemente infecta todos os níveis da sociedade, com consequências na integridade civil de longo prazo. Essa corrosão na credibilidade pode, por sua vez, afetar de forma adversa o sistema educacional, os serviços da imprensa e da mídia, as funções policiais e militares, os papéis das igrejas e dos seminários e vários ofícios de autoridade pública. Além disso, todas essas instituições não somente têm o potencial de serem usadas via operações psicológicas, mas em casos particulares podem na verdade utilizar a propaganda como um modo de fazerem avançar seus próprios planos. [Nota: A Forcing Change procurará documentar esta realidade; em artigos futuros destacaremos exemplos específicos de planos.]
Se a propaganda tem um ângulo positivo, é durante os tempos de guerra real em que as operações psicológicas são usadas diretamente para combater países inimigos, incluindo táticas enganosas no campo de batalha. [11]. Entretanto, essa forma de enganação está rigidamente conectada com uma luta imediata de vida ou morte. É o uso da propaganda como um instrumento de transformação interna que é muito mais preocupante.
O Modelo Soviético
A partir de uma perspectiva política interna, três grandes potências no século 20 fizeram um tremendo esforço para moldar suas sociedades nacionais por meio da manipulação das informações. A União Soviética, a Alemanha Nazista e a China Comunista estabeleceram cada uma delas agências específicas para criar e disseminar propaganda. É aqui que podemos começar a compreender verdadeiramente o significado das operações psicológicas: a sutil e sistemática corrosão dos valores centrais.
O professor David E. Powell, autor de Antireligious Propaganda in the Soviet Union: A Study of Mass Persuasion (Propaganda Antirreligiosa: Um Estudo da Persuasão das Massas), revelou o cerne da estrutura transformacional soviética:
“O Partido tentou destruir os padrões tradicionais de autoridade e de relacionamentos que considerava inadequados para o mundo moderno e desenvolver no lugar deles um novo conjunto de devoções. O Partido decidiu moldar os valores de todo um povo por meio de um programa gigantesco de educação e doutrinação… Ele tentou modificar a visão dos adultos e inculcar nos jovens, que têm menos preconceitos e atitudes menos arraigadas, as visões que ele considerava serem as corretas.” [12].
“A ‘socialização política’ é o processo pelo qual as pessoas adquirem seus padrões e suas crenças políticas. Ela envolve uma ampla variedade de instituições e indivíduos, desde os pais e professores até a imprensa, os tribunais e as forças armadas.”
“Por meio do contato com esses agentes socializadores, as pessoas modificam ou descartam os antigos valores, assimilam novos valores, ou reforçam suas noções pré-existentes.” [13].
“Em seu esforço de reestruturar a cultura política e transformar um povo religioso em um povo ateísta, os líderes soviéticos tentaram socializar e ressocializar toda a população.” [14].
Se você está fazendo a si mesmo a pergunta: “Como isto se encaixa no mundo atual?” — está fazendo a pergunta errada. A questão real é: existem forças em operação no nosso atual sistema nacional e global que estão tentando “moldar os valores de toda uma população por meio de um programa gigantesco de educação e doutrinação…”?
O Clube de Roma, uma organização influente de indivíduos proeminentes de todo o mundo, já admitiu em 1976 que faz avançar um programa de mudança global, principalmente por meio de agências especializadas inseridas dentro da comunidade internacional.
“No nível mais alto das questões mundiais, instituições internacionais precisam formar os principais agentes da transformação planejada. Os esforços a serem feitos pelas instituições nos níveis mais altos podem ser vistos como ‘meios’ que podem ser mobilizados para alcançar os fins desejados. Isto implica que as instituições controlam diversos ‘volantes’ que podem ser usados para guiar a mudança por meio de esforços de indivíduos e instituições menores. Todavia, o controle que as instituições podem exercer não é ilimitado, mas bem determinado pela estrutura de poder em que elas operam.”
“No caso das instituições poderosas, os meios à disposição estão frequentemente organizados em políticas. Como tais, as políticas podem se referenciar à operação atual da ordem socioeconômica ou à ação destinada a executar uma ação planejada na ordem existente. Portanto, elas podem ser direcionadas para reforçar ou transformar o status quo internacional.” [15].
Isto toca na raiz: a transformação global gerenciada e se encaixa com a grande visão de Mikhail Gorbachev. Como o ex-presidente da União Soviética escreveu no ano 2000: “Novas abordagens são necessárias, novas orientações em pensamento e ação. Precisamos fazer a transição para uma nova civilização global.” [16].
De modo a ver como a propaganda para uma “nova civilização” está sendo feita em nosso contexto moderno, precisamos analisar exemplos de transição. Existem muitos desses exemplos, porém as limitações de tempo e de espaço somente nos permitirão destacar rapidamente um caso em vista: o movimento ambientalista internacional como um agente para a reestruturação global.
O Ambientalismo como uma Operação Psicológica
Há várias décadas que a comunidade internacional e grupos ambientalistas de lóbi vinculados clamam por grandes mudanças na forma como nosso mundo funciona. Isto inclui não somente uma reestruturação econômica e política, mas também a remodelagem dos sistemas individuais de crenças, atitudes e comportamentos. Portanto, uma nova ética global está sendo apresentada e promovida, uma ética que envolve uma cosmovisão neopagã com um ethos (NT: Ethos, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social. Fonte: Wikipedia) construído com base em ornamentos estratégicos (veja na segunda citação do IISD abaixo uma admissão deste fato). Sem qualquer surpresa, em uma campanha de operação psicológica, a juventude e a “educação” estão colocados bem no alto da lista de planos. Afinal, de modo a alterar radicalmente a sociedade, precisamos “inculcar nas pessoas mais jovens” as visões planetárias corretas.
Considere as seguintes citações, todas extraídas do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD, página na Internet em http://www.iisd.org), uma das mais prestigiosas organizações ambientalistas que operam nos círculos globais de governança. Observe o seguinte: o IISD é uma “organização privada e governamental”, um órgão financiado pelo governo canadense e que tem a aparência de autonomia, porém foi criado para fazer avançar ações políticas nacionais e internacionais, financiadas em grande parte com o dinheiro dos impostos pagos pela população. [17].
Ao ler os materiais do IISD, observe os elementos de operações psicológicas direcionados para a mudança dos valores nacionais e globais e os meios de alcançar essa transformação. A propaganda não é difícil de detectar. Algumas citações especialmente audaciosas precisam ser lidas duas ou três vezes para que você consiga compreender o alcance total que elas têm.
“Nas campanhas pelo meio ambiente, durante qualquer ‘ciclo de atenção para um problema’, há uma fase em que o problema precisa ser estrategicamente exagerado de modo a estabelecê-lo firmemente em um plano de ação.” [18].
“A educação tem sido avançada como significativa para produzir mudanças nas atitudes, comportamentos, crenças e valores… De modo a redirecionar o comportamento e os valores rumo à mudança institucional para o desenvolvimento sustentável, existe a necessidade de investigar as opções estratégicas com relação às filosofias educacionais, ao âmbito para a propagação e adoção, e aos grupos mais provavelmente susceptíveis à mudança.” [19].
“… um novo modo de fazer as coisas é claramente necessário. Os objetivos da educação e do treinamento precisam ser redefinidos e os critérios de sucesso mensurados em termos de avanços para o próximo nível… Uma transição precisa ocorrer: em abordagem, do ensino ao aprendizado; nos parâmetros do aprendizado, desde os limites da sala de aula ou do centro de treinamento até os elementos dos contextos socioculturais, políticos e ambientais; e no método, de responsivo ou pior, passivo, para pró-ativo e participativo.” [20]. [Nota do Editor: Isto é a criação de ativistas.].
“Os jovens estão também bem-posicionados para lutarem por mudanças [no meio ambiente e pelo desenvolvimento sustentável]. Em sua maioria, eles são significativamente menos dependentes do sistema econômico, o que lhes dá espaço para protestar. O protesto deles é mais prontamente reconhecido como sincero e isento de interesses mesquinhos em comparação com os protestos provenientes de outros setores sociais. Como produtos da engenharia educacional e social e como herdeiros deste planeta, eles têm o direito de serem ouvidos. Estando ligadas por instituições educacionais, as ideias florescem facilmente e fincam raízes.” [21].
“… como se diz, se o mundo deve realmente mudar, então a inspiração para essa mudança não pode vir da sociedade moderna, que está baseada na ideologia econômica, social e política do Ocidente. A inspiração tem de vir daqueles que veem o mundo e sua população em sua beleza holística, e não de pessoas que internalizaram os valores violentos, materialistas e individualistas que a sociedade adquiriu ao longo da história. Como jovens, é nossa luta nos libertarmos da doutrinação da sociedade moderna…” [22].
“A tarefa da educação no futuro imediato é ajudar a ativar uma ética de sensibilidade planetária que nos ajude a praticar as disciplinas que nos protejam das atrações da nossa cultura mórbida de bens e produtos… Temos de revisar completamente nossa compreensão ocidental do que deva ser um habitante do planeta Terra, nossa história humana e a história ocidental, pois nossa nova situação revela a verdadeira realidade daquilo que temos feito.” [23].
“Precisamos passar para um senso de realidade e de valores centrado no homem para um senso centrado na Terra. Precisamos agora reconhecer a comunidade maior de toda a Terra, e não a comunidade humana, como normativa com relação à realidade e aos valores.” [24].
Finalmente, o IISD sugere que uma parte do processo educacional de transformação sustentável global requer que o grupo-alvo “sinta-se como mestre de suas próprias ideias…” [25]. Isto é uma operação psicológica clássica.
Lidando com a Propaganda
O exemplo acima, extraído do movimento ambientalista, é somente um em uma longa lista de iniciativas que flertam com a propaganda, ou que a usam explicitamente. O discurso sobre o aquecimento global contém muita manipulação de informações, incluindo filmes de propaganda, como O Dia Depois de Amanhã e Uma Verdade Inconveniente. Da mesma forma, aspectos do movimento pelos direitos humanos giram em torno da propaganda da “cidadania global”, o que é uma pena, pois existem preocupações com direitos humanos que são legítimas. [26].
Lamentavelmente, parece que para qualquer lado que você olhe, existe uma inclinação intencional de desafiar e transformar seus valores centrais. Como Peter Kenez escreveu: “…. é inútil reclamar e denunciar a propaganda, pois ela é uma parte integral do mundo moderno.” [27]. De fato, parece ser.
Para o indivíduo, o perigo real das operações psicológicas vai além do fato de sermos bombardeados constantemente pela manipulação das informações. Existe um risco mais fundamental que está escondido. Além disso, esse perigo se expressa de duas maneiras para o indivíduo:
1) Ignorar ou marginalizar o assunto, proclamando as operações psicológicas como uma teoria conspiratória ou descartá-la como uma acusação paranóica. Seguir essa abordagem é ignorar intencionalmente as lições vitais da história, a natureza humana e as estruturas do poder social.
2) Acreditar que existe um bicho-papão em cada esquina. O caminho da paranóia é tão autodestrutivo quanto marginalizar o assunto; é um caminho que coloca ênfase excessiva no medo, ao mesmo tempo que ignora a lógica e a razão.
Portanto, como nos salvaguardamos das operações psicológicas e da propaganda e de outras táticas de enganação com informações — principalmente ao lidarmos como os paradigmas da transformação social?
Um modo é fazer perguntas que nos levem a refletir, como: Existe um desafio aos meus valores, atitudes e crenças naquilo que estou vendo, ouvindo ou experimentando? Em que o desafio está baseado e como a mensagem está me incentivando a reordenar meus princípios? Como as informações que estou recebendo se sustentam quando confrontadas pela lógica, pela história e pelo conhecimento? Agendas mais sutis e mais profundas aparecem subitamente ao pesquisar o objetivo superficial da mensagem? A mensagem e o significado das informações estão me induzindo a conformar meu comportamento para aceitar ou rejeitar um determinado plano, produto ou processo?
Nem sempre é fácil identificar um pacote de operação psicológica/propaganda bem-projetado. Entretanto, as questões acima ajudam a formular a análise crítica necessária. Como afirma Joseph. W. Caddell, ao escrever para o Colégio de Guerra do Exército dos EUA: “Uma metodologia abrangente para lidar com a enganação nunca será escrita. Este é um campo nebuloso, em constante mutação e de proporções virtualmente infinitas.” [28].
Mesmo assim, Caddell, escrevendo principalmente para uma audiência militar, oferece algumas orientações básicas a serem usadas na batalha contra a enganação:
“Quanto mais você souber sobre seus adversários e sobre os eventos que estão se desdobrando, melhor preparado estará para enfrentar a enganação… Nunca dependa de um número limitado de fontes de informações ou de um número limitado de metodologias de coleta de informações. Quanto mais fontes você conhecer, mais difícil será para alguém manipular informações fora do contexto. Quanto mais uma pessoa sabe, mais provavelmente ela conseguirá detectar uma fabricação.”
“O conhecimento também deve incluir o conhecimento sobre si mesmo. Reconheça os vieses e pressuposições que você, sua organização e sua cultura possuem. Acautele-se da ‘imagem no espelho’ — sempre que alguém assume que os outros se comportarão de uma maneira similar à forma como ele mesmo faria, está abrindo a porta para o autoengano.” [29].
Tudo isto parece elementar e, em grande parte, é mesmo. É claro que as tecnologias usadas para transmitir a mensagem estão sempre sendo atualizadas, mas os conceitos fundamentais permanecem os mesmos. Não nos esqueçamos também que a arte e a ciência da propaganda são tão antigos quanto os atos de mentir e de manipular e, embora os veículos usados para disseminar uma mentira ou para influenciar uma audiência possam mudar com o tempo e a tecnologia, as ações básicas continuam as mesmas.
FONTE: http://www.espada.eti.br/manipulacao.asp