Para milícia, templo era dinheiro | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia |
A maior milícia
do Rio, que age principalmente na zona oeste da cidade, tinha um
faturamento de pelo menos R$ 6 milhões por ano. De acordo com o delegado
Alexandre Capote, da Draco-IE (Delegacia de Repressão às Ações
Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais), a movimentação mensal de
aproximadamente R$ 500 mil pode ser ainda maior. Nesta quinta-feira
(6), 11 pessoas foram presas durante a operação Pandora Dois.
Além de vender combustível adulterado, a quadrilha teria aberto uma igreja em Campo Grande, bairro da zona oeste.
A filial da
Igreja Pentecostal Deus é a Luz era chefiada pelo pastor Dijanio Aires
Diniz, apontado pela polícia do Rio de Janeiro como um dos integrantes
do grupo miliciano.
A igreja era
uma espécie de escritório da milícia. Era lá que ficava a central dos
serviços de agiotagem do bando. Os milicianos faziam empréstimos
cobrando juros extorsivos, que variavam de 30% a até 60% sobre o valor
repassado. As cobranças dos empréstimos também eram feitas lá, usando
métodos criminosos, como ameaças de agressão e morte a quem obtinha o
dinheiro e não pagava no prazo estabelecido.
Pastor MilagreiroBispo Djanio, o lobo em pele de cordeiro |
“Há quanto tempo a senhora estava surda desse ouvido esquerdo?”, pergunta o pastor em um dos vídeos postados em seu canal no YouTube. A fiel responde: “Há treze anos. Estou ouvindo perfeito (agora)”.
Em um outro vídeo, cadastrado no site em outubro de 2009, o pastor promove uma sessão de exorcismo para tirar “o espírito da aids” de um homem. Falando alto, ele ordena: “Sai Caveirinha, sai Pomba Gira. Você que está colocando aids nele, não adianta! Sai espírito da aids”.
No fim, o pastor Dijanio abraça o fiel e afirma que ele está curado da aids. Para comprovar a cura, ele manda que o homem corra até a porta da igreja e volte ao altar.
“As
investigações apontam que a igreja foi criada com o intuito de
aproximar os criminosos das pessoas daquela região de forma disfarçada.
Ele é bastante violento, agressivo com os que pegavam empréstimos e
tinham dificuldade de pagar os juros extorsivos. Temos gravações em que o
pastor faz ameaças de morte aos que pegaram dinheiro emprestado. Ele
ameaçava inclusive matar parentes dos devedores”, afirmou o delegado
Alexandre Capote, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas
Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco).
O líder da
igreja está entre os 11 presos durante a operação Pandora 2, que visa
sufocar as atividades ilegais da Liga da Justiça. Ao todo, eram 13
mandados de prisão. Foram apreendidos R$ 30 mil em espécie, três armas,
cinco carros, um caminhão para adulterar combustíveis, além de
documentos e memórias de computadores
Dijanio não tem
histórico criminal e tampouco foi policial ou bombeiro, como a maioria
dos milicianos. Mas o pastor é apontado como um homem que era temido por
outros integrantes da quadrilha. "Ele é bastante agressivo, há relatos
de muitas atividades dele coagindo as pessoas, dentro da igreja. Ele
passava uma imagem de pregador, de homem de Deus, mas era um elemento
perigoso", explicou Capote.
Segundo o promotor Marcus Vinícius Leite, o pastor era truculento. “Era o lobo em pele de cordeiro”, analisou.
Em junho,
dentro da igreja, Dijanio teria ameaçado homem que pegou R$ 50 mil
emprestados. A vítima foi ao templo informar que atrasaria o pagamento
de um mês.
Fundo falso para armazenar HD| O. Praddo/O Dia |
Templo é dinheiro para milícia
Por trás das
lições de fé, a milícia Liga da Justiça transformou a Igreja Pentecostal
Deus é a Luz, em Campo Grande, Zona Oeste, em Quartel-General do bando.
No templo do
pastor Dijanio Aires Diniz, um dos seus fundadores, eram tramadas
negociatas de agiotagem, extorsões e ameaças às vítimas.
Na página de
Dijanio na rede social Facebook, ele se identifica como bispo, e aparece
em diversas fotos em cultos na igreja. Em um deles, ele aparece ao lado
do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) e da deputada estadual
Clarissa Garotinho (PR-RJ). Os políticos disputaram recentemente a
prefeitura do Rio, com Rodrigo encabeçando a chapa e Clarissa como vice.
A foto foi postada no dia 15 de setembro.
Ligações revelam violência
O ex-policial
militar José Luis Cordeiro Cavalcante da Silva, conhecido como Bolt, era
subordinado ao pastor, e revelava bastante temor em relação ao
comparsa. ‘A vontade é entupir a cara dele de tiro’, diz Bolt em
gravação telefônica autorizada pela Justiça sobre um devedor. Bolt, que é
o outro foragido, disse ter medo de ser morto pelo pastor Dijanio.
Na campanha
eleitoral, houve reunião de pastores na igreja com o deputado federal
Rodrigo Maia (DEM) e deputada estadual Clarissa Garotinho (PR), então
candidatos a prefeito e vice à Prefeitura: “Não o conheço”, alegou
Clarissa.
Segundo a
parlamentar, ela esteve na igreja com Rodrigo Maia durante a campanha
para apresentar propostas relativas ao combate ao uso de crack.
"Essa reunião
foi agendada por uma professora de Campo Grande ligada ao DEM, a pedido
de um pastor chamado Roberto, que disse ser de uma associação de
pastores. Estávamos em Campo Grande, e o encontro foi marcado nessa
igreja. Foi a primeira e a última vez que estive com essa pessoa",
afirmou Clarissa, negando que tenha participado de um culto no local.
Policiais acharam foto de pastor com Clarissa Garotinho e Rodrigo Maia | Foto:O. Praddo / O Dia |
Clarissa
ressaltou que costuma ser abordada com pedido para tirar fotos, e que
essa demanda aumenta em tempos de campanha. Ela acrescentou fazer muitas
visitas em época de eleição, e que não costuma recusar contatos com as
pessoas. "Jamais iria imaginar que um bispo fosse miliciano", observou.
Foi dentro da
igreja que Dijanio ameaçou violentamente um homem que havia pego R$ 50
mil emprestados, e não pagara conforme o previsto. O cliente do pastor
foi ao templo informar que estava em dificuldades financeiras e que
atrasaria os pagamentos. Ele tinha dado 12 cheques de R$ 5 mil, além de
ter se comprometido a dar mais 2,5 mil todo mês em dinheiro, como forma
de juros.
A Draco
investiga uma morte que teria sido cometida pela quadrilha por cobrança
de dinheiro. Ao todo, estima-se que a Liga da Justiça fature R$ 500 mil
mensais, levando-se em conta todas as atividades ilegais.
A investigação
da Draco começou há cerca de um ano. É um desdobramento da operação
Pandora, que em setembro denunciou 17 pessoas ligadas à Liga da Justiça.
O grupo era liderado pelos irmãos Natalino e Jerominho Guimarães, ambos
presos no Mato Grosso, que já ocuparam cadeiras no legislativo
fluminense.
Assista reportagem da Band AQUI.
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Com informações O Dia/Terra/R7/Veja/Extra