Tenho fome!

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Por Daniel Grubba
Eu não consigo entender como a sociedade moderna e globalizada se tornou cínica e insensível para com os que sofrem. Alias, dá para entender sim. Uma sociedade capitalista orientada basicamente pela busca ilimitada da realização do desejo de consumo, realmente não deve ter muito tempo para olhar para os milhões de seres humanos ao redor do mundo que gritam: Tenho fome!* Além do tempo que deve ser usado somente para própria satisfação, ajudar os pobres miseráveis também não é viável economicamente para o progresso do sistema de livre mercado. O fato é que, consumir para “ser”, acumular e ostentar para crescer diante dos demais, são as principais prioridades para os que “dormem no barulho” desta ideologia da morte.
O teólogo argentino Enrique Dussel traduz para nós o que é o grito da dor, e o que isto implica em termos práticos. Ele diz:
“O grito de dor como o “Tenho fome!” exige uma resposta peremptória. A resposta que traz como obrigação a responsabilidade: ser responsável ou tomar ao seu cargo aquele que clama e a sua dor. Nessa responsabilidade se fundamenta a religião autêntica e o culto, e o traumatismo que sofre aquele que se arrisca pelo Outro que clama é no sistem a glória do infinito. “Tenho fome!” é a revelação de que o suco gástrico molesta ou sensibiliza as paredes internas do estômago. Esse ácido que produz dor é o apetite; o “desejo” de comer. Este desejo carnal, corporal, material é já o desejo do Reino dos Céus em sua significação mais real: é a insatisfação que exige ser saciada. Quando se trata da fome de um povo, habitual, a fome da probreza, é o lugar onde surge a palavra profética. Esse é o carnalismo ou adequado materialismo que Jesus coloca como critério supremo do Juízo: “Tive fome e me destes de comer (Mateus 25.35)”.
Nota: Pela primeira vez na história da humanidade, mais de um bilhão de pessoas, concretamente 1,02 bilhão, sofrerão de subnutrição em todo o mundo”, adverte a FAO em um relatório sobre a segurança alimentar mundial.

Postado por Daniel Grubba, editor do Soli Deo Gloria, filósofo, ensaísta e apologista freela no Púlpito Cristão

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