“O brilhante escritor norte-americano Gore Vidal dizia que, quando um dos seus amigos tinha sucesso, alguma coisa nele se apagava. A declaração revela que a inveja não é um privilégio dos medíocres ou dos pobres de espírito. Ela é ampla, democrática e presente. Está incluída nos 10 Mandamentos, na lista dos sete pecados capitais, em muitas das histórias bíblicas e em grandes clássicos de Shakespeare. Ela faz parte do cotidiano social e com certeza faz parte do dia-a-dia das empresas” , explica Patricia Amelia Tomei, professora associada do Instituto de Administração e Gerência da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Autora do livro Inveja nas Organizações, Patrícia conta que sentir inveja dos colegas – e ser invejado por eles – é muito mais comum do que se imagina, e garante: nem sempre isso é ruim. “Dificilmente controlamos nossos sentimentos. É comum sentir inveja porque uma colega ganha mais, ocupa um cargo que você gostaria de ocupar ou até porque é mais popular que você. A inveja não é racional. Mas a sua reação ao senti-la pode ser. É você quem decide como vai usar essa inveja e pode decidir usá-la a seu favor, como uma mola propulsora para que amplifique seus potenciais, busque aprimoramento de seus talentos e se dedique mais para atingir os objetivos que deseja”, afirma.
O psiquiatra Frederico Porto partilha da mesma opinião. “Ela pode ser algo que lhe impulsione a modificar alguma coisa. É preciso usar a inveja como mecanismo de autoconhecimento e investir tempo e energia em si próprio, em busca daquilo que se quer mudar ou melhorar”. Ambientes mata-mata Para o profi ssional, a inveja acontece com grande frequência nos ambientes de trabalho porque, muitas vezes, as próprias corporações estimulam esse sentimento. “Entendo e concordo que metas e bônus são necessários para que a empresa progrida”, diz o psiquiatra. “Mas se a companhia tem uma política muito competitiva, a inveja é mais estimulada Cabe aos líderes saber dosar essa competição e manter um ambiente saudável”.
Elas sentem mais que eles?
Histórias como essa levantam ainda outro questionamento: será que as mulheres sentem mais inveja do que os homens? “Não há dados científicos que comprovem isso. O que sabemos é que pessoas mais infelizes e mais frustradas invejam mais, enquanto pessoas mais exibicionistas e que ostentam são mais invejadas. Mas estas questões não estão correlacionadas com gênero”, garante Patrícia Tomei.
O psiquiatra Frederico Porto completa: “O que determina a inveja não é o gênero, mas sim o tema a que ela se destina. As mulheres se comparam mais do que os homens. E como a inveja nasce da comparação, é possível que as mulheres tendam a sentir mais inveja entre suas iguais. As mulheres exercem mais papéis na sociedade (mãe profissional, esposa, jovem), o que faz com que ela sofra mais pressão e tenda a comparar-se mais. Os homens talvez tenham mais inveja quando o assunto é o poder”.
Você sente inveja?
Não há como escapar: em algum momento de sua vida uma pontinha de inveja vai invadir você. Se você lida com esse sentimento, identifique qual é o seu tipo de inveja e trabalhe para usá-la a seu favor.
Inveja sublimada: É a inveja que aparece apenas em determinadas ocasiões, mas pode ser controlada e até reprimida.
Inveja neurótica: Se você se sente hostil com determinada pessoa, mal humorada, amargurada, deprimida e ansiosa, pode estar sofrendo de inveja neurótica. Neste caso, ao passar por pressões, crises e condições não favoráveis, você pode ter alta probabilidade de apresentar comportamento de inveja perversa.
Inveja perversa: Esse é o tipo de inveja que domina a pessoa. Uma profi ssional com esse sentimento vive para bloquear todas as expressões de criatividade, de beleza ou de talento que aparecem em sua frente. Essas pessoas, em seu ambiente de trabalho, acabam optando pela destruição dos outros ao invés de seu próprio crescimento