Tenho
muito orgulho da minha origem. Família pobre, migrantes das Minas
Gerais para São Paulo. Trabalhadores. A ética quase religiosa da
honestidade me acompanhou desde criança através do ensinamento de minha
mãe e meu pai.
Desde os 9 anos de idade já trabalhava para ajudar em casa. Primeiro vendi geladinho (gelinho ou chup-chup, dependendo da região do país), na passarela da Estação Ferroviária de Ferraz de Vasconcelos, na grande SP. Depois, por dois ou três anos, vendi doces em uma barraquinha estrategicamente alocada na calçada do Super Mercado Janine, na Av. Lucas Nogueira Garcês, divisa de Poá e Ferraz, de propriedade de uma família de libaneses. E é daí que tenho minha mais tenra lembrança de envolvimento com a política.
Desde os 9 anos de idade já trabalhava para ajudar em casa. Primeiro vendi geladinho (gelinho ou chup-chup, dependendo da região do país), na passarela da Estação Ferroviária de Ferraz de Vasconcelos, na grande SP. Depois, por dois ou três anos, vendi doces em uma barraquinha estrategicamente alocada na calçada do Super Mercado Janine, na Av. Lucas Nogueira Garcês, divisa de Poá e Ferraz, de propriedade de uma família de libaneses. E é daí que tenho minha mais tenra lembrança de envolvimento com a política.
A
tal barraquinha de doces era protegida por um imenso guarda sol de
listras brancas e amarelas, que pela minha idade e tamanho, parecia bem
maior que realmente era. Ocorre que, em 1989, por influência da minha
mãe, eu já nutria uma certa simpatia pelo PT. E em meio àquela histórica
disputa eleitoral, escrevi a caneta o nome de LULA nas bordas das
orelhas do guarda sol. E eu me lembro, torcia pelo PT como quem torce
por um gol! Mas a lembrança ficou não por isso: Sendo a família
proprietária do mercado, de origem libanesa – ou síria, não sei ao certo
– “torciam” por outro candidato, Paulo Salim Maluf.
Por
fim, me lembro de meu pai me dando uma dura, perguntando se eu queria
que fôssemos expulsos da calçada do mercadinho. A derradeira lembrança é
a do braço doendo por ter passado horas apagando o nome do barbudo
petista no guarda sol. E não seria essa a última vez que tentaria apagar
o PT de minha vida.
Anos
depois, o inevitável: iniciei minha trajetória militante e logo estava
no PT, ainda há tempo das eleições de 1998. Vivi intensamente o último
mandato de FHC e fui um dos milhares a chorar de emoção com a vitória de
Lula em 2002.
2004
foi meu último ano como militante petista. Por conta dos desvios
políticos e ideológicos do PT, o apaguei pela segunda vez do meu
caminho. Em 2005 me filiei à comissão provisória do Psol, núcleo PUC-SP,
onde estudava e me somei desde a coleta de assinaturas para a
viabilização do partido. Acompanhei eufórico a campanha de Heloísa
Helena presidenta em 2006.
E
no segundo turno contra Alckmin, votei Lula; Tive a honra de participar
de muito perto da campanha de Plínio Sampaio e de seu vice Hamilton
Assis – do movimento negro baiano – em 2010. Agora contribuí ainda com
mais vigor como candidato a deputado federal por SP nestas eleições de
2014, defendendo Luciana Genro presidenta. Considero que nas três
eleições o Psol cumpriu bem o seu papel, com exceção da questão racial, invisível para todos os partidos e candidatos.
Assim
como no segundo turno em 2010, na eleição de Dilma contra Serra, o Psol
voltou orientar sua militância a considerar o voto nulo ou voto crítico
no PT.
Naquele ano votei Dilma com as devidas ressalvas. E este ano, contra Aécio e o PSDB eu reafirmo meu voto e apoio crítico e com ressalvas à Dilma e ao PT.
Naquele ano votei Dilma com as devidas ressalvas. E este ano, contra Aécio e o PSDB eu reafirmo meu voto e apoio crítico e com ressalvas à Dilma e ao PT.
Menos
pelas qualidades do governo petista e mais pelos vícios e pelo
significado real do que pode vir a ser o retorno do PSDB num momento de
levante conservador como o que vivemos, não resta a meu ver, alternativa
senão a postura responsável em manter o governo de Dilma.
Tal
apoio, no entanto, não anulam as severas críticas à experiência petista
no governo federal. Aliás, há demandas históricas da classe
trabalhadora que foram simplesmente ignoradas e até combatidas pelo
governo da estrela, de maneira a fazer inveja a qualquer grupo de
direita.
Como militante do movimento negro,
cito aqui apenas algumas das atrocidades: o endosso, promoção e
investimentos em uma política de segurança pública genocida através das
UPP’s, do encarceramento em massa e da matança da população negra, em
especial da juventude negra; a priorização dos interesses do agronegócio
em detrimento da reforma agrária, da titulação dos territórios
quilombolas e da demarcação dos territórios indígenas, além da omissão e
até da promoção de assassinatos de indígenas e camponeses e das
ocupações militares em diversos territórios negros em todo país, como no
complexo da Maré e no do Alemão ou no Quilombo Rio os Macacos.
Nunca
é demais lembrar que fora no período entre 2002 e 2012 que vivemos a
explosão dos índices de homicídios, parte deles promovidos pelo Estado, e
que tiveram e tem como alvo preferencial a população negra, numa
proporção de três mortes negras para cada morte branca.
Ademais,
o PT reproduz a lógica nefasta do financiamento privado das campanhas o
que o joga da vala comum da promiscuidade com grandes empresas e
empreiteiras; mantém sim, compromissos no campo da economia com os
interesses do mercado e do capital financeiro, mantendo inclusive o
absurdo índice de mais de 40% do orçamento anual dirigido para o
pagamento de dívidas públicas, o que só fortalece ainda mais nossos
verdadeiros inimigos.
E
para além disso tudo, jamais tocou os interesses dos grandes grupos de
comunicação mesmo sabendo que são eles os principais amplificadores das
vozes, dos pensamentos e dos valores mais conservadores, reacionários,
fascistas e racistas de nossa sociedade e que fazem do próprio PT seu
principal alvo. Um contra-senso!
Mas porque ainda optar por Dilma e pelo PT?
Por que não o voto nulo ou o silêncio, posições aparentemente coerentes diante do quadro exposto?
Por que não o voto nulo ou o silêncio, posições aparentemente coerentes diante do quadro exposto?
Antes
ainda, quero registrar meu respeito ao voto nulo. Trata-se de um voto,
quase sempre, qualificado e crítico. Mas não concordo com ele nessa
conjuntura.
Ocorre
que estamos e um segundo turno. Dilma com PT ou Aécio com PSDB,
governarão o país nos próximos anos. Não acredito que tenhamos – nós do
campo mais à esquerda – força social suficiente para inviabilizar essa
eleição. E mesmo que o número de votos nulos, somados aos brancos e às
abstenções alcançassem índices ainda mais expressivos que os do primeiro
turno, não acredito que surgiria daí uma alternativa de esquerda com um
projeto maduro e com apoio popular, capaz de substituir o que temos.
Cabe a nós assumir nossas fragilidades e reconhecer a baixa adesão
popular às ideias progressistas. Junho de 2013 ainda é fresco em nossas
memórias.
E
o congresso mais conservador desde a última ditadura também é. Tanto as
mobilizações de Junho quanto as eleições de agora demonstraram seu
caráter conservador. Nesse contexto – infelizmente – o voto nulo, branco
ou a abstenção contribui com a vitória de Aécio.
Em
São Paulo, Alckmin, Serra, PSDB e os demais partidos aliados deram uma
surra nas esquerdas tendo como carro chefe de suas propostas a defesa da
redução da idade penal.
Aécio derrotou a insípida, inodora e incolor Marina Silva, com o mesmo discurso.
Não tenho dúvidas de que a vida das pessoas mais humildes em todo país pode ficar ainda pior com um governo do PSDB.
Não tenho dúvidas de que as cadeias ficarão ainda mais cheias de negros e pobres; não tenho dúvidas de que a política de repressão e suas polícias ficarão ainda mais violentas e letais.
Não tenho dúvidas de que teremos mais dificuldades no enfrentamento ao racismo,
na luta por reparação histórica para negros/as e indígenas ou por
garantia de políticas públicas de igualdade racial, social, da
diversidade religiosa e sexual ou no combate ao machismo e seus males,
bem como se vê em São Paulo com tantos anos de governos do PSDB.
A
decisão nesse segundo turno não tem a ver com complexas elaborações
teóricas de debate entre esquerda e direita ou do balançar de ombros,
como quem diz: “tanto faz um como o outro”. Ao contrário, isso tem a ver
com a vida real que pode sim, ser muito mais dolorosa do que já é.
As forças que se reúnem em torno de Aécio dão o tom do que teremos pela frente em caso de uma vitória tucana:
Além
dos setores ligados a extrema direita e aos grupos que historicamente
dominam nosso país – e que pode sim ser chamado de velha direita – os
setores da grande mídia, com destaque para Globo, Veja e Folha, além de
líderes religiosos fundamentalistas e reacionários, declaradamente
homofóbicos e racistas, são um alerta a todos que buscam construir um
país mais justo.
Por
outro lado, negar que os setores mais empobrecidos da população tenham
vivido dias melhores em sua sala de estar ou em sua mesa de refeição;
negar que a presença de pobres e negros em universidades ou ainda negar a
ampliação das oportunidades reais e alocação social, ainda que não no
modelo que defendemos no campo das esquerdas, mas que sim, deflagraram
outro momento na vida social brasileira e que tal feito seria impossível
em um governo do PSDB aliado à direita clássica, seria no mínimo
desonestidade. É pouco. É insuficiente. É tutelado. Mas é verdade. E tem
importância para a vida real de quem mais precisa. São sopros de brisa
em meio ao calor do deserto, sem os quais tudo fica ainda mais difícil.
Tenho
comigo a plena consciência de que a vitória de Dilma e do PT não
significará vitória das bandeiras históricas da esquerda brasileira,
tampouco do movimento negro. Mas tenho convicção de que uma vitória de
Aécio, essa sim, significaria um inimigo ainda mais difícil de ser
enfrentado. Por isso prefiro Dilma, para me opor como negro e como
militante de esquerda e cobrar dela, de seu partido e de seu governo uma
nova postura frente aos inimigos históricos da classe trabalhadora e do
povo negro que, uma vez no poder, preferiu como aliados.
E
também porque quero, no futuro, olhar para trás e ter a certeza de ter
feito tudo que podia para impedir o retorno do que há de mais fascista,
racista, reacionário e conservador ao governo central de nosso país.
Sendo
eu quem sou, vindo de onde venho, não me cabe o silêncio ou um protesto
no vazio. Por isso, neste segundo turno, voto e apoio Dilma 13.
wwwcutucandodeleve.blogspot.com.