“Esse anel custa quatro mil dólares”, diz Malafaia sobre joia adquirida (Reprodução)
Marcelo Hailer, Revista Fórum
O evento foi realizado em 2011, mas começou a circular pela rede
nesta semana. Trata-se do 3º ESVALEC – Escola de Líderes da Associação
Vitória em Cristo, que tem como líder máximo o pastor Silas Malafaia,
fundador da Associação Vitória em Cristo (AVEC). E o motivo de a
palestra realizada por Malafaia estar circulando neste momento é por
conta de algumas pérolas que ele vocifera durante o encontro a respeito
de ganhos financeiros e sobre passeios populares à praia, que ele
classifica como “farofa”, num claro preconceito de classe.
Na primeira parte de sua fala, o pastor ainda dá uma “aula” de como
os futuros novos-ricos pastores devem utilizar o seu dinheiro. De acordo
com Malafaia, você não pode “desperdiçar e nem esbanjar”, mas tem que
saber utilizar e também diz aos maridos para usarem o dinheiro e não
deixarem como herança às suas esposas.
“Saber usufruir das coisas que Deus te dá. Tem crente que não sabe.
Gente de sucesso! O cara vive trabalhando igual a um cachorro maluco,
nunca sai com a mulher para um hotel. Vai morrer mané e vai deixar uma
grana com a tua mulher que vai deitar e rolar na tua sopa”, ensina o
religioso.
Freneticamente, Malafaia continua a falar do trabalho e da vitória.
“Trabalha, trabalha, trabalha, trabalha, inimigo da luta e toma derrota,
e trabalha e passa por tribulação, é refinado como a prata, e o coro tá
comendo, o pau tá comendo, chegou no lugar onde queria e, na cabeça
dele, ele ainda continua no lugar da derrota”, critica o pastor àqueles
que não percebem a “vitória”.
Malafaia e a luta de classes
Logo depois de ensinar como se utilizar do ganho econômico com a
“palavra de deus”, o pastor conta um pouco da sua vida, do momento em
que vivia como “farofeiro” nas praias do Rio de Janeiro, dando uma clara
demonstração de seu apreço pelas classes populares, que, aliás, lhe dão
imenso ibope.
“Tá preocupado com a língua do povo? Você está preocupado com
crítico? Você sabe com que eu estou preocupado? Aquilo que Paulo diz: eu
procuro ter uma boa consciência para com deus. Crítico? Não muda a
minha vida. Crítico? O que ele faz? Só sabe meter o pau”, comenta o
pastor, para depois relatar a sua época de “farofeiro”.
“Meu filho, teve época na minha vida que férias pra mim era ir em uma
praia do Rio de Janeiro com um monte de farofa (…). A gente alugava um
cata-mendigo, que era um ônibus velho que só deus sabe, reunia cinco
famílias e, com um amigo que era do exército tínhamos acesso a uma
praia, que era Marambaia. Rapaz, era farofa, arroz, frango, maionese
quase estragada. Aquilo era uma festa rapaz. Era o que eu podia”, lembra
Malafaia.
Mais à frente, o pastor relata outras histórias de sua época de pouco
dinheiro e da maneira que se divertia como podia, mas aí vem a fase de
“vitória” e da ostentação. “Era a maneira que eu podia usufruir. Depois
eu comecei a ir pra hotel duas estrelas, três estrelas, quatro estrelas…
Hoje a gente vai pra um hotelzinho melhor e eu não tenho vergonha, pois
eu não estou roubando ninguém e não tem nada a ver com a tua língua que
está me assistindo aí”, diz o pastor apontando à câmera.
Na sequência, Malafaia diz com orgulho que as “três mil pessoas”
presentes no encontro de formação de novos pastores são bancadas por seu
Ministério. Depois, ele revela os caminhos que enfrentou para manter o
seu programa no ar.
“Eu sei o que eu passei pra manter o meu programa no ar, só não vendi
carro, mulher e filho porque não podia (…), eu não cheguei apenas no
lugar de vitória, eu vou chegar a outros lugares de vitória. Se você é
honesto, íntegro, aquilo que te pagam… Eu aprendi isso com o meu saudoso
pastor: Silas, não importa quanto que entra (dinheiro) na igreja, não
importa qual é o tamanho do salário do pastor, o que é seu você faz o
que quiser, o que é igreja não toque. Faça uma divisão”.
Posteriormente, Malafaia discorre sobre a “lei da proporcionalidade”.
“Você com uma igreja pequena, vai ter salário pequeno; você com uma
igreja média, vai ter um salário médio; você com uma igreja grande, vai
ter um salário grande e quem não gostar, vai lá atrás pra fazer o que
você fez pra chegar onde está (…) Você quer ganhar dez mil como
evangelista? Vai lá onde ele começou”, ensina o pastor.
Silas Malafaia diz aos presentes que é preciso utilizar a rede, ainda
mais quando se está na mídia, e relata uma cena de quando foi
entrevistado pelo “New York Times”. “O sujeito (jornalista) com o olho
em cima de mim eu falei: você quer saber quanto que eu paguei no anel?
Na hora, eu largo o aço em cima. Você quer saber o preço do anel? Esse
daqui custou 4 mil dólares, com meu dinheiro (…) o que é meu, é meu. O
avião não é meu, é do Ministério, está em nome da Associação Vitória em
Cristo. Ah, você está vendo o Mercedes 500 blindado, da Alemanha? Foi um
parceiro que me deu de presente de aniversário… Estou sentido que uma
inveja está dominando esse auditório”. (risos da plateia)
Por fim, se não fosse pelas legendas e pelo rosto do palestrante, que
é famoso no Brasil inteiro e não apenas por conta de sua oratória, mas
porque, hoje no Brasil é o principal opositor do avanço dos Direitos
Humanos, principalmente no que diz respeito às mulheres e LGBT,
imaginaríamos tratar-se de uma formação para empresários com ares de
stand-up comedy. Também chama atenção o alto grau de ostentação
material. A impressão que fica é que a redenção pela fé ou o caminho da
“vitória” só é possível pela via da conquista financeira, e não pode ser
R$ 100 reais, tem que ser R$ 10 mil, como enfatiza inúmeras vezes o
telepastor.
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