No último dia 16 de dezembro, foi publicada no Diário Oficial da União
uma resolução que autoriza médicos brasileiros a prescreverem o
canabidiol para seus pacientes. A substância derivada da maconha pode
ser receitada apenas para o tratamento de epilepsias em crianças e
adolescentes. Mas há ainda mais restrições nessa permissão.
Além de não autorizar o tratamento com canabidiol (CBD) para adultos, a resolução do Consealho Federal de Medicina exige que os pacientes já tenham antes tentado usar medicamentos convencionais e não conseguido melhoras.
Outra
restrição é que somente neurologistas, neurocirurgiões e psiquiatras
podem receitar o CBD. E que fique claro: a resolução proíbe
expressamente o uso medicinal da Cannabis in natura,
assim como de qualquer outro derivado dela que não seja o canabidiol. Só
daqui a dois anos essa norma será revista, quando os resultados de até
então serão avaliados.
Por um lado, a
permissão é um importante passo rumo ao fim do tabu que envolve a
maconha no Brasil. Por outro, é ainda um avanço tímido. Porque, trocando
em miúdos, a resolução é permitida apenas para um tipo de enfermidade,
apenas para crianças e adolescentes, o CBD pode ser receitado apenas por
alguns especialistas e apenas em último caso. Muito pouco quando
comparamos à experiência internacional já acumulada no uso medicinal da
erva, que envolve inclusive o tratamento para câncer com resultados
excepcionais.
No YouTube é possível assistir a dois documentários que mostram isso. O primeiro se chama “Run From the Cure”, e conta a história de Rick Simpson.
Rick
é um canadense nascido em 1949 que sempre trabalhou na área de saúde.
No ano de 1997, ele sofreu um ferimento na cabeça e os médicos
receitaram uma série de remédios, que Rick começou prontamente a tomar.
Passado
algum tempo, ele não percebeu melhoras. Muito pelo contrário: sentia
que os efeitos colaterais dos medicamentos estavam piorando sua
situação. Já era 1999 quando Rick assistiu a um programa na TV sobre
maconha medicinal e decidiu tentar a sorte. Um amigo conseguiu
ilegalmente um baseado e o resultado foi que ele se sentiu muito melhor do que com as doses cavalares de comprimidos que vinha tomando. Mas, ao solicitar uma prescrição de maconha para seu médico, teve o pedido recusado.
Nos
anos seguintes, o canadense vivenciou uma piora nos sintomas. Foi
quando decidiu produzir o próprio remédio por sua conta e risco. Assim,
Rick começou a plantar maconha, já com a ideia de produzir um óleo
concentrado que potencializasse os efeitos medicinais da erva.
O
óleo é feito cozinhando as flores da planta misturadas a solvente. No
processo, a mistura vai sendo reduzida até ficar bem concentrada e com
uma cor semelhante à da gasolina. Em média, 500 gramas de Cannabis
produzem 56 gramas de óleo.
Consumindo
pequenas doses diárias do remédio caseiro, logo Rick viu sua vida
retornar à normalidade. A pressão sanguínea caiu, o sono voltou, as
dores foram embora. Mas o mais incrível viria a acontecer no ano de
2003, quando ele teve que retirar um câncer de pele. Algumas semanas
após a cirurgia, o tumor voltou. Rick aplicou o óleo de maconha
medicinal direto na área afetada e cobriu apenas com um band-aid. Poucos
dias depois, o câncer simplesmente tinha desaparecido.
Percebendo
que tinha nas mãos um remédio poderoso, barato e sem efeitos colaterais
que a maioria das pessoas desconhecia, Rick decidiu compartilhar
gratuitamente sua descoberta com o mundo. No primeiro ano, foram
tratadas cerca de 50 pessoas com problemas de pele diversos. No ano
seguinte, o óleo produzido por Rick foi bem sucedido no tratamento de um
homem com um melanoma inoperável. E, de 2003 até hoje, já foram mais de 5 mil pacientes medicados com o óleo da maconha,
que sofriam de tipos diversos de câncer, diabetes, epilepsia, dores
crônicas, glaucoma, úlceras, enxaqueca, ansiedade, depressão e outros
males.
A história de Rick Simpson se soma ao documentário “Maconha, a Cura do Câncer”,
também encontrado no YouTube, para mostrar como a discussão lá fora já
está uns tantos quilômetros à frente do cenário brasileiro.
O
filme faz um apanhado geral sobre a história do uso da maconha pelo
homem e de como a sua proibição foi uma invenção recente. Até então,
remédios baseados na Cannabis faziam parte da maleta dos médicos, sendo
usados para tratar dores do parto, reumatismo e transtornos nervosos.
Eram inclusive receitados a bebês, para que parassem de chorar por conta
das dores de dente.
Foi
no início do século XX que a maconha passou a ser perseguida. Com o
surgimento das drogas criadas quimicamente, a indústria farmacêutica
começou o lobby anti-cannabis para eliminar a concorrência. Em 1937, uma
lei aprovada pelo congresso dos EUA proibiu médicos de receitar
maconha. Em 1942, já não existia mais nenhum remédio baseado no cânhamo
nas farmácias do país.
A guerra
contra a maconha durou décadas. Até que a pressão popular fez com que
alguns estados norte-americanos revertessem esse cenário, aprovando
legislações próprias para oferecer tratamentos alternativos a seus
habitantes. A Califórnia foi o primeiro, com sua lei
sobre maconha medicinal que data de 1996. De lá para cá, mais de 20
outros estados aprovaram leis semelhantes.
A
sequência do filme foca nas várias descobertas científicas dos anos
recentes envolvendo o uso terapêutico da erva. Entre elas está o
trabalho do pneumologista Donald Tashkin, da Universidade da Califórnia. Em um estudo realizado com 600 pessoas, o pesquisador demonstrou que a incidência de câncer pulmonar em quem fuma maconha diariamente é menor do que a que ocorre em quem não fuma nada.
A
tese levantada pelo filme é a de que os canabinoides promovem a morte
de células cancerígenas, deixando as saudáveis intocadas. Isso porque,
ao longo da evolução, nosso sistema nervoso desenvolveu um processo
interno que regula uma porção de funções fisiológicas (fome, sono,
relaxamento, etc), de forma muito parecida à ação da maconha. Por conta
da semelhança, a ele foi dado o nome de sistema endocanabinoide. O que a erva medicinal faz é estimular e reforçar esse sistema natural que já está lá no corpo humano.
Algumas estatísticas apontam que uma em cada três pessoas pode vir a ter câncer durante a vida.
E se a cura já existe, mas não está acessível por ser considerada
crime? Que direito alguém tem de dizer a uma pessoa com câncer se ela
pode ou não tentar determinado tratamento?
O CBD, que acaba de ser regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina, é apenas um entre os mais de 420 ativos químicos com propriedades medicinais encontrados na Cannabis. Será que cada paciente brasileiro que pode ser tratado com maconha terá de viver a mesma epopeia que o canadense Rick Simpson?
Contra o tabu e o preconceito, nós do Hypeness
temos apenas uma coisa a dizer: pessoas estão sofrendo, pessoas estão
morrendo. Já passou da hora de mudar o status da relação com a Cannabis.
Assista aos documentários e tire suas conclusões.
Conheça a história de uma mãe brasileira que precisou comprar maconha ilegalmente para tratar a epilepsia de sua filha.
http://chega2012.blogspot.com.br/
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