Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia e Irã disseram para deixarem importante cidade fronteiriça cair nas mãos dos terroristas islâmicos
F.
Michael Maloof
Comentário
de Julio Severo: Cem anos atrás,
a Turquia foi responsável pelo primeiro genocídio do século XX. Exércitos
turcos assassinaram mais de 1 milhão de cristãos armênios. Diferente dos alemães
que assumiram a culpa pelo Holocausto, até hoje a Turquia não reconhece que foi
autora do genocídio contra os cristãos armênios. Em escala muito menor agora,
mas não menos grave, a poucos metros da fronteira turca, sob os olhares de
soldados turcos, a cidade de Kobani, na Síria, está sob ataque do
ISIS, que tem o apoio da Turquia.
WASHINGTON, DC, EUA — Uma decisão secreta,
aparentemente, tem sido tomada pelos Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia e
até o Irã para deixarem a estratégica cidade curda síria de Kobane, na
fronteira da Turquia com a Síria, cair frente aos combatentes do ISIS, colocando
em risco a vida de cerca de 160.000 curdos sírios, conforme informação ao
site WND de um especialista bem posicionado no Oriente Médio.
Tanques turcos observam o massacre em Kaboni sem intervir |
A aparente decisão visa diminuir a influência dos
curdos na Síria e enfraquecer a perspectiva da criação de um Curdistão
soberano, meta dos curdos não só na Síria, mas também na Turquia, no Irã e no
Iraque.
"Trata-se de uma autêntica emboscada armada pelas
costas de todo mundo", disse a fonte bem posicionada ao site WND.
O governo turco trouxe seus tanques até a fronteira da
Turquia com a Síria, bem perto de Kobani, mas não enviou nenhuma das tropas
para deterem o cerco do ISIS sobre a cidade curda.
Enquanto isso, os curdos sírios estão apelando ao
mundo pedindo armas e munições, além dos bombardeios aéreos feitos pela
coalizão de países árabes liderados pelos Estados Unidos sobre as posições do
ISIS. Fontes em terra, porém, dizem que o bombardeio tornou-se virtualmente sem
sentido, pois os combatentes do ISIS se misturaram com a população, o que
requer mais soldados em solo.
Os curdos sírios têm lutado contra o ISIS, assim como
seus conterrâneos do Iraque, os curdos peshmerga, que têm buscado impoedir que
o ISIS domine seu território, que inclui algumas das maiores reservas de
petróleo do Iraque e da Síria.
Os turcos não querem ajudar os curdos, pois o governo turco
há anos vem lutando contra o Partido Curdo dos Trabalhadores, ou PKK, que busca
conquistar uma parcela dos países fronteiriços para criar o Curdistão.
Para a Turquia, os curdos sírios e curdos turcos
ocupam recursos valiosos de petróleo, os quais os turcos, carentes de energia,
procuram obter.
Além disso, os curdos têm uma aliança com o governo
sírio, do presidente Bashar al-Assad, a quem os turcos querem ver deposto em
favor de um governo regido por sunitas.
No entanto, o ISIS é claramente o único grupo sunita
predominante em condições de assumir o governo da Síria, pois já tomou à força
muito do noroeste da Síria e do oeste e do centro do Iraque para formar o seu
califado, no qual busca governar segundo uma estrita lei islâmica, ou a xaria.
Para a Turquia, o ISIS assumindo o controle de Kobani iria
ajudar a dividir os curdos iraquianos dos curdos sírios, diminuindo ainda mais
a chance de um Curdistão unido.
Ao mesmo tempo, daria ao ISIS uma ponte norte entre o
Iraque e a Síria, o que não havia até agora.
Consequentemente, não só os turcos, mas até os EUA
também não querem enviar tropas de combate.
Por causa dos laços dos curdos não só com o presidente
sírio Assad, mas também com o Irã, fontes dizem que os EUA não querem deixar a
impressão de que estão ajudando Assad e trabalhando com o Irã, ao fornecerem
mais assistência aos curdos sírios além dos bombardeios aéreos.
Existem dúvidas sobre até que ponto os iranianos estão
envolvidos num acordo secreto para deixar Kobani cair nas mãos do ISIS.
Conforme o site WND relatou, tem havido apelos nos
últimos dias dentro do Irã para que a Guarda Revolucionária Iraniana ajude aos
curdos sírios, provocando manifestações de apoio em várias cidades iranianas.
Como um sinal de preocupação do Irã, o porta-voz do
Ministério do Exterior Iraniano, Marzieh Afkham, alertou para uma catástrofe
humanitária em Kobani.
"O Irã vai enviar em breve ajuda humanitária para
os moradores e refugiados nesta área através do governo sírio", disse
Afkham.
O Irã xiita é um dos principais apoiadores do governo
de Assad, um alauíta xiita.
O representante do ministro das Relações Exteriores
para Assuntos Árabes e Africanos do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, deixou claro
que o Irã não quer tropas turcas dentro da Síria. O Irã agora está em
negociações com a Turquia para retornar os cerca de 200.000 curdos que fugiram
da Síria para o refúgio na Turquia.
Ao mesmo tempo, Amir-Abdollahian deixou claro que o
Irã "tomará as medidas necessárias para ajudar aos curdos em Kobani de
acordo com o seu apoio ao governo sírio em sua luta contra o terrorismo".
A fonte do site WND disse que o interesse do Irã em
querer ajudar os curdos é "apenas uma fachada", já que o Irã, assim
como a Turquia, se opôs a um Curdistão independente forjado no oeste do Irã, o
qual, como as partes curdas da Turquia, Iraque e Síria, têm ricos depósitos de
petróleo.
Embora Teerã queira mostrar apoio para os curdos por
causa de seu apoio a Assad, mas ela pode estar mais preocupada com os repetidos
esforços históricos feitos pelos curdos para estabelecerem seu próprio Estado
Curdo. Existem fortes laços étnicos, linguísticos e culturais entre os curdos e
o Irã. No entanto, Teerã não quer ver os curdos assumirem suas reservas
petrolíferas ocidentais.
Traduzido por Dionei Vieira
do artigo do WND: Secret
deal could doom 160,000 to ISIS
Fonte: www.juliosevero.com