Torcedora foi flagrada chamando o goleiro Aranha, do Santos, de macaco.
Polícia investiga como caso de injúria racial; jovem depôs na quinta.
Pouco mais de uma semana após ser flagrada pela TV chamando o goleiro
Aranha, do Santos, de macaco, Patrícia Moreira quebrou o silêncio e
concedeu entrevista coletiva nesta sexta-feira (5), em Porto Alegre.
Chorando muito, ela pediu desculpas ao jogador e ao Grêmio. Foi a
primeira manifestação oficial dela após o caso. Acompanhada do advogado,
a gremista chegou por volta das 12h15 ao local.
"Boa tarde, eu quero pedir desculpas ao goleiro Aranha. Perdão de
coração. Eu não sou racista. Perdão. Perdão. Peço desculpas", afirmou a
menina, muito nervosa, em um rápido pronunciamento. "Aquela palavra
macaco não foi racismo de minha parte, foi no calor do jogo, o Grêmio
estava perdendo".
Patrícia ainda se desculpou com o Grêmio, que foi excluído da Copa do Brasil após julgamento no STJD.
"O Grêmio é minha paixão, minha paixão mesmo. Eu vivi sempre indo ao
jogo do Grêmio. Largava tudo para ir ao jogo. Peço desculpas para o
Grêmio, para a nação tricolor. Eu amo o Grêmio. Desculpas para o Aranha.
Perdão, perdão, perdão mesmo", disse, encerrando o pronunciamento.
Patrícia Moreira falou rapidamente à imprensa
(Foto: Luiza Carneiro/G1)
(Foto: Luiza Carneiro/G1)
Em seguida, o advogado de Patrícia, Alexandre Rossato, respondeu
algumas perguntas da imprensa e disse que a torcedora gostaria de se
encontrar pessoalmente com o goleiro para pedir desculpas e que, pela
exposição do caso, ela já foi "julgada socialmente".
"A Patrícia já sofreu ameaças. Só não vem sofrendo ameaças porque saiu
das redes sociais, saiu da casa dela. A Patrícia perdeu a vida dela",
afirmou Rossatto.
O advogado ainda afirmou que sua cliente não é racista e que o
xingamento ocorreu dentro do "contexto do futebol". "Macaco, no
contexto dentro do jogo, não se tornou racista. Isso se torna um
xingamento dentro do futebol. Uma das expressões dentro do futebol. As
próprias mães dos árbitros são xingadas historicamente dentro do
futebol", defendeu.
Sobre uma possível punição, o advogado disse que vai aguardar o
inquérito. "Na verdade, nós não podemos falar de pena, uma vez que a
Patrícia sequer está indiciada. Temos que aguardar a decisão do
inquérito policial", concluiu.
Torcedora estava muito nervosa
(Foto: Luiza Carneiro/G1)
(Foto: Luiza Carneiro/G1)
Patrícia falou aos jornalistas na sala de um hotel no Centro de Porto
Alegre. O pronunciamento e a entrevista duraram menos de 15 minutos. Na
quinta-feira (4), na delegacia, Patrícia já havia se explicado. Ao
delegado, não negou as palavras, mas afirmou que a intenção não era
ofender, que foi no embalo da torcida. A jovem chegou à delegacia por
vlta das 10h chorando muito, abraçada pelo irmão, e escondendo seu rosto
das câmeras.
O delegado não descartou chamar Patrícia mais uma vez para outros
esclarecimentos. O depoimento durou cerca de uma hora, e a gremista
deixou a delegacia sem falar com a imprensa. Antes de entrar no carro,
ela ainda ouviu gritos de "racista" de pessoas que a aguardavam do lado
de fora da delegacia. A polícia tem 30 dias para concluir o inquérito.
Chorando muito, torcedora pediu perdão (Foto: Reprodução/RBS TV)
Depoimento na polícia
Trata-se do sétimo chamado pela polícia a prestar depoimento à 4ª
Delegacia de Polícia Civil. Antes dele, a polícia ouvia a jovem Patrícia
Moreira. Seu pronunciamento, que durou cerca de uma hora, era o mais
aguardado. A jovem teve grande exposição ao ter sua imagem mostrada pelo
canal ESPN chamando o goleiro do Santos de "macaco" no jogo de
quinta-feira (28).
Ela chegou ao local por volta das 10h acompanhada do advogado e de um
dos irmãos. Durante a passagem da jovem por entre jornalistas e
curiosos, ouviu-se um grito de "racista". "Ela viu o movimento da
imprensa e ficou nervosa, mas depois se acalmou e prestou o depoimento",
disse o delegado Cleber Ferreira, diretor da Delegacia de Polícia
Regional de Porto Alegre.
Segundo o delegado, durante o depoimento, Patrícia afirmou que não teve
a intenção de ofender o jogador do Santos. "Ela não nega as palavras,
mas a intenção não era ofender, ela foi no embalo da torcida. Ela
explica que tem canções e o próprio Inter se chama de macaco", disse o
delegado. O delegado Herbert Ferreira, responsável pelo caso, tem 30
dias para concluir o inquérito. Caso seja necessário, Patrícia pode ser
chamada novamente para depor.
Entenda o caso
O incidente no jogo entre Grêmio e Santos, na Arena do Grêmio, ocorreu aos 42 minutos do segundo tempo,
quando Aranha reclamou com o árbitro Wilton Pereira Sampaio, alegando
ter sido vítima de xingamentos por parte da torcida. O juiz mandou a
partida seguir, mesmo sendo alertado por jogadores do Santos dos
incidentes que ocorriam fora de campo.
Câmera de TV flagrou Patrícia chamando goleiro do
Santos de "macaco" (Foto: Reprodução/ESPN)
Santos de "macaco" (Foto: Reprodução/ESPN)
A jovem mostrada pelas imagens do canal ESPN foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Brigada Militar.
Patrícia Moreira era funcionária de uma empresa terceirizada e prestava
serviços de auxiliar de odontologia na clínica da polícia militar
gaúcha. As imagens da torcedora ofendendo o goleiro santista começaram a
circular pelas redes sociais logo após a partida. Aranha registrou
boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia na sexta (29).
As injúrias raciais proferidas por torcedores gremistas contra o
goleiro tiveram mais um desdobramento. Em julgamento nesta quarta-feira
(3), o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidiu, por unanimidade, exclur o Grêmio da Copa do Brasil.
No primeiro duelo das oitavas da Copa do Brasil, os paulistas bateram
os gaúchos por 2 a 0. O jogo de volta já havia sido suspenso até o
julgamento do caso no STJD.
G1