Em uma
cidade chamada Mundo Interior, situada em um país chamado Coração, todos
viviam amedrontados por terríveis monstros. Monstros que devoravam os
filhos por causa das faltas dos pais. Monstros que destruíam famílias
por conta dos pecados dos filhos. Monstros que devoravam almas e
roubavam esperanças de todos.
Todos,
sem exceção, em algum momento da vida, já foram atacados por esses
monstros. Eles não poupam nem crianças, nem adultos; nem jovens, nem
velhos; nem homens, nem mulheres; nem pobres, nem ricos. Esses monstros
dilaceravam o coração das vítimas e as mutilavam de tal forma que elas
não tinham mais alegria em viver. Todos não mais saíam de casa, viviam
trancafiados em seu próprio mundinho, isolados e com medo de enfrentar a
vida lá fora, tudo por causa do medo que sentiam de encarar esses
monstros…
Evitava-se até de falar deles e, quando alguém ousava, os outros logo fechavam os ouvidos para não escutarem nada.
Mas um
dia, o sábio chegou ao Mundo Interior como destemido guerreiro. Mas, ao
invés de espada, trazia consigo uma caneta em uma das mãos; ao invés de
escudo, uma caderneta; no lugar de uma armadura suntuosa, apenas o
conhecimento.
— É verdade que o senhor veio aqui para acabar com nossos monstros? – perguntou alguém na multidão.
O sábio guerreiro nada respondeu.
— Como o senhor fará isso? – continuou o mesmo alguém – onde estão suas armas? E os seus soldados?
O sábio guerreiro olhou para a multidão e num ar de serenidade, perguntou:
— Quais são seus monstros?
Todos, um
a um, foram se aproximando do sábio e contaram como eram esses
monstros, quando começaram a surgir e como eles se sentiam com relação a
tudo isso. O sábio anotou tudo em sua caderneta.
Por fim,
depois que o último terminou, o sábio sentou no banco da praça e ficou
em silêncio alguns instantes. De repente, alguém da multidão rompe o
silêncio com uma pergunta:
— E aí, o senhor pode eliminar de vez todos esses monstros?
O sábio guerreiro permaneceu ainda mais uns poucos segundos em
silêncio, contemplando o rosto apreensivo da multidão, e por fim
respondeu:
— Não, esses monstros eu não posso exorcizá-los definitivamente…
A multidão em coro faz barulho de decepção.
— Mas nós temos muitas armas e munição e bastante dinheiro… diga qual é o seu preço que nós pagaremos – diz alguém.
— Eu nada
posso fazer, mas vocês podem. Esses monstros não se combatem com armas
ou com dinheiro. Embora esses monstros não possam ser extintos
definitivamente de suas vidas porque sempre voltarão na menor
oportunidade que vocês derem para eles, vocês podem combatê-los, não com
armas, mas com palavras, pois eles têm nomes: Depressão, Fobia, Trauma,
Estresse, Ansiedade, Angústia… esses monstros só se combate com o
diálogo. Eu não posso eliminá-los definitivamente de suas vidas, mas
vocês podem aprender a conviver com eles, basta exercitar a arte da
conversa, não guardar seus problemas para si, mas desabafá-los uns com
os outros e, principalmente, exercitar a arte de ouvir.
Não
consta que esses monstros tenham deixado de assombrar o Mundo Interior
de alguém, mas consta que, depois que se seguiu o conselho do sábio os
ataques dos monstros se tornaram mais brandos e muito menos freqüentes.
Por : SergioGleiston