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São Paulo
atravessa uma de suas piores crises hídricas da história. Não fosse a
captação do volume morto, o sistema Cantareira, da Sabesp (SBSP3) - que
atende 9,8 milhões de paulistas, sendo que 8,4 milhões só na capital -
não teria água para abastecer a Grande São Paulo. Um ano atrás, o volume
armazenado útil era de 55%, hoje é de 18%, sendo todo ele representado
pelo volume morto.
O problema do Estado, no entanto, não para por aí. O sistema do Alto
Tietê, também da Sabesp, está prestes a secar. Atualmente, ele opera com
23,5% da sua capacidade, contra 63,4% registrada no mesmo dia do ano
passado. A questão crucial aqui é que esse sistema, que abastece 4,5
milhões de pessoas, não possui o volume morto como o de Cantareira, ou
seja, se secar essa capacidade útil não tem mais solução. E o pior, ele
vai secar, disse o ex-Sabesp (com 34 de empresa), José Roberto Kachel,
engenheiro civil e sanitarista. Para ele, o Alto Tietê não passa de 120
dias.
O volume do
Alto Tietê está caindo 0,2% ao dia, isso significa 1 milhão de metros
cúbicos diários. "Entre final de outubro e início de novembro, o volume
das barragens zera", alerta.
"À medida que a
estiagem avança, o subsolo seca cada vez mais e a vazão que chega nos
reservatórios é cada vez menor", disse Kachel. Um problema que também
ocorre em Cantareira. Em junho, as vazões médias do sistema equivalente
estava em 6,6 metros cúbicos por segundo, contra uma média histórica
para o mês de 31,27 metros cúbicos por segundo.
A expectativa é
que a água em volume morto garanta o abastecimento na Grande São Paulo
até outubro. Neste período, a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) depende
que as chuvas voltem a cair no manancial e o nível do reservatório
comece a subir. Entretanto, especialistas já vêm alertando que as chuvas
podem atrasar e só começar em dezembro.
Problema é de gestão, não investimento
Para Kachel, o
principal problema dessa crise hídrica não é de investimento, mas sim de
gestão. "Eles estão se recusando terminantemente a fazer o
racionamento, quando já deveriam ter iniciado. E a população tem ficado à
deriva. A informação não chega de forma clara".
O governo
precisa admitir que a crise é grave, disse. Mas ao contrário disso, o
governo disse no início de julho que não vê mais a necessidade na
aplicação de multa a moradores que consumirem água em excesso. A
cobrança estava prevista para começar em maio, mas não foi aplicada
desde então.
Além de não
aplicar a multa, a Sabesp vem descumprindo a recomendação da GTAG (Grupo
Técnico de Assessoramento para Gestão do Sistema Cantareira), que
previa que a empresa usasse 19,7 metros cúbicos por segundo na primeira
quinzena do mês. "Mas eles estão usando algo próximo de 24 metros
cúbicos por segundo", disse Kachel. Ou seja, aumenta o risco do
reservatório não aguentar tanta demanda. Nestes seis primeiros meses do
ano, choveu 494,4 milímetros - 56,5% do índice previsto segundo a média
histórica, que era de 875,1 milímetros, segundo dados da Sabesp.
Os problemas de
falta de transparência da empresa não param por aí. Já existem
reclamações de falta de água e aumento de contas em regiões periféricas
de São Paulo. O que comenta-se é que no período da noite a Sabesp corta o
abastecimento para algumas regiões e quando libera passa um ar pelos
hidrômetros, medindo ar como se fosse água. Especulam-se que até por
isso o governo não tenha instituido a multa por aumento de consumo.
Vendo o volume
de água cair cada vez mais, a Sabesp agora estuda utilizar uma segunda
cota do volume morto do Cantareira. Desde quinta-feira, quando o volume
útil do sistema se esgotou, a companhia passou a utilizar apenas 182,5
bilhões de litros repressados abaixo do nível das comportas. Diante da
possibilidade da crise de estiagem se prolongar, a Sabesp já cogita
utilizar mais 100 bilhões de litros do volume morto. O sistema possui,
ao todo, cerca de 480 bilhões de litros.
Confira o sistema de abastecimento de São Paulo:
Paula Barra
Infomoney
Editado por Folha Política