Brasil não pode sair dos trilhos

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Sergio Barreto Motta

O país passa por uma fase muito difícil. O descontentamento em todas as classes é muito intenso. As pessoas parecem não dar valor às conquistas sociais e econômicas dos últimos anos, e os protestos se sucedem. Mesmo quem condena quebra-quebras adota um discurso de tão forte contestação que, indiretamente, justifica desvios. No ano passado, após as manifestações puramente populares, sobrevieram black blocks e outras contestações violentas, algumas emblemáticas. No bairro do Leblon, conhecido por ter o metro quadrado mais caro do país, houve uma depredação sem qualquer reivindicação. Sem ligação direta com passagens de ônibus ou com ojeriza ao então governador Sérgio Cabral, foram quebradas lojas, agências bancárias, carros e até fachadas de edifícios.

Por todo o país, agências bancárias foram o símbolo da degradação, o que também incluiu carros de emissoras de TV e até da polícia. O número de ônibus incendiados é medido em centenas. Outra faceta perigosa dos episódios recentes é o fechamento de ruas e estradas. A qualquer pretexto, até duas ou três dezenas de pessoas, arguindo o direito de livre manifestação, deixam multidões paradas em seus carros por horas seguidas, impunemente. No mundo desenvolvido, os protestos são feitos em determinadas praças, sem prejudicar o trânsito. Em Amsterdã, um turista brasileiro viu manifestação em uma praça e perguntou se era algo contra a Rússia. O guarda respondeu, com fleugma quase londrina: “Não, é sobre ecologia. O ato contra a Rússia será à tarde”. No Brasil, a graça das demonstrações é parar o trânsito, além da também inaceitável violência.

O país não pode, diante da insatisfação atual, deixar de lado as conquistas. Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso deram como legado positivo o Plano Real. FHC iniciou o Bolsa Escola, que Lula ampliou para Bolsa Família. Com Lula, houve inegável ascensão social, com melhor salário mínimo, mais crédito, e Dilma começou bem, com a queda nos juros. A atual presidente tem parcela de culpa no mau humor generalizado, pois começou com a tese de um pouco mais de inflação e juros menores, para depois fechar a torneira e, vendo a inflação nos alimentos corroer sua imagem, passou a aplicar política monetária simplória, com juros básicos de 11% ao ano. Enquanto estrangeiros voltam a trazer dólares unicamente para lucrar com títulos públicos, vê-se, dia a dia, o agravamento de uma crise que, até agora, é mais de sentimentos do que de fatos. A marcha à ré na economia já começou, mas a insatisfação é muito superior ao freio até agora aplicado.

O Brasil tem de sair dessa crise, que tem na Copa do Mundo uma de suas referências, procurando consertar o que está errado e não simplesmente destruir tudo o que foi construído. Como qualificou recentemente um analista, o Brasil tem educação e saúde universalizadas e, portanto, conseguiu esse mérito em quantidade. Falta aprimorar a qualidade. Ajudaria se o governo adotasse rigidez em seus gastos, a começar pelo número de ministérios. Outra razão para a irritação nacional é a presença, na política, de cidadãos que foram afastados por corrupção ou renunciaram a seus mandatos por razões diversas e hoje mandam na república.

A firmeza de Dilma

De Brasília, fontes informam que a presidente Dilma não está para brincadeiras. Na mais recente reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, do qual participam diversos empresários, deu a palavra a todos, um por um. Ouviu relatos e, de imediato, respondeu se concordava ou não. Depois, avisou que os faltosos seriam excluídos do próximo encontro.

O que se comenta, na capital da República é que, se reeleita, Dilma governará do seu jeitão. Sem poder aspirar a novo mandato, a presidente deverá fazer tudo exatamente como pensa, sem dar muita atenção a partidos políticos e talvez – ninguém garante – até sem ouvir tanto o seu padrinho eleitoral, Lula, ao contrário do que hoje ocorre. Será?

Copa

As multinacionais aproveitam bem a Copa do Mundo. A norte-americana Coca-Cola, por exemplo, se apresenta, em cada país, defendendo as cores nacionais. A francesa Carrefour pôs Pelé em um trono, de manto verde e amarelo, sorrindo. A chinesa JAC Motors escreveu em seus carros: “Nós somos Hexa”. E vai por aí: cada grupo quer parecer mais brasileiro, nessa época.

Punições

Contra baderna, só há um remédio: punições firmes. A decisão de Geraldo Alckmim de demitir 42 no Metrô pôs fim à greve. O site MSN consultou internautas, e 57% apoiaram as dispensas feitas pelo governador paulista. Em Brasília, reviravolta no caso da invasão da reitoria, pois estudantes e professores querem expulsar os manifestantes e exigem que eles paguem pelos danos patrimoniais.

Juros negativos

O Banco Central Europeu está adotando juros negativos. Os depositantes pagarão 0,1% ao ano pelo dinheiro “aplicado”. Isso é uma tática, para estimular investimentos. O Brasil adota justamente o oposto: juros básicos de 11% ao ano. Com isso, empresários nacionais optam por deixar seu dinheiro no banco, enquanto estrangeiros, após calcularem o risco cambial, optam igualmente pela renda fixa. E o Tesouro que se prepare, pois a rolagem de uma dívida trilionária se torna cada vez mais cara.

Juros na estratosfera

A respeitada Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac), acaba de divulgar os dados de abril. A boa notícia é que os juros do cartão de crédito ficaram estáveis, de abril para maio. A má notícia é que, mesmo assim, o custo médio anual é de 231,12% ao ano, ou seja, só pode ser pago por quem tiver receita de atividade ilegal, pois nada rende tanto em 12 meses. Já os juros do cheque especial subiram para 8,22% ao mês, ou seja, mais do que a taxa de inflação para todo um ano. Como diria Chico Buarque: “Chamem o Ladrão”.

Bode popular

Todos conhecem a piada do bode, em que 30 pessoas moram em um apartamento pequeno e reclamam muito. Um dia, o dono do imóvel resolver colocar lá um bode, e as coisas pioram. Após muitos pedidos, o dono retira o bode e todos ficam satisfeitos.

A história do decreto de Dilma Rousseff que cria conselhos populares para assumir parte das atribuições do Congresso parece ser um bode. Até o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (PMDB-RO), disse ser totalmente contra a iniciativa. Comenta-se que, em breve, Dilma vai atender a pedidos de aliados e tirar o bode da sala, deixando todos contentes.

Monitor Mercantil
http://brasilsoberanoelivre.blogspot.com.br

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