Jorge Furtado respondeu as declarações de Wagner Moura. Diretor publicou texto lamentando quem só vê as coisas piorando no Brasil. “Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados. Imagino que, com suas agendas cheias, não tenham muito tempo para procurar diferentes fontes para a mesma informação”
Wagner Moura e Jorge Furtado
O diretor Jorge Furtado usou seu blog pessoal para rebater as
manifestações de artistas brasileiros que criticaram a atual situação
social, política e econômica do Brasil. O texto foi publicado um dia
após as declarações de Wagner Moura para jornal O Estado de S. Paulo, em que o ator se diz satisfeito em deixar o país por dois anos.
Leia abaixo a íntegra do texto de Furtado:
Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal
informados. Imagino que, com suas agendas cheias, não tenham muito tempo
para procurar diferentes fontes para a mesma informação, tempo para
ouvir e ler outras versões dos acontecimentos, isso antes de falar sobre
eles em entrevistas, amplificando equívocos com leituras rasas e
impressionistas das manchetes de telejornais e revistas ou, pior,
reproduzindo comentários de colunistas que escrevem suas manchetes em
caixa alta, seguidas de ponto de exclamação.
Fico triste ao ler artistas dizendo que não dá mais para viver no
Brasil, como se as coisas estivessem piorando, e muito, para a maioria.
Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões
de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos, emprego, casa própria,
luz elétrica, acesso às universidades e até, muitas vezes, a um prato
de comida, não fica bem na boca de um artista, menos ainda de um artista
popular, artista que este mesmo povo ama e admira.
Em que as coisas estão piorando? E piorando para quem? Quem disse? Qual a fonte da sua informação?
Fico triste ao ouvir artistas que parecem sentir orgulho em dizer que odeiam política, que julgam as mudanças que aconteceram no Brasil nos últimos 12 anos insignificantes, ou ainda, ruins, acham que o país mudou sim, mas foi para pior.
Fico triste ao ouvir artistas que parecem sentir orgulho em dizer que odeiam política, que julgam as mudanças que aconteceram no Brasil nos últimos 12 anos insignificantes, ou ainda, ruins, acham que o país mudou sim, mas foi para pior.
Artistas dizendo que pioramos tanto que não há mais jeito da coisa
“voltar ao ‘normal ‘”, como se normal talvez fosse ter os pobres
desempregados ou abrindo portas pelo salário mínimo de 60 dólares,
pobres longe dos aeroportos, das lojas de automóvel e das universidades,
se “normal” fosse a casa grande e a senzala, ou a ditadura militar.
Quando o Brasil foi normal? Quando o Brasil foi melhor? E melhor para
quem?
A mim, não enrolam. Desde que eu nasci (1959) o Brasil não foi melhor
do que é que hoje. Há quem fale muito bem dos anos 50, antes da
inflação explodir com a construção de Brasília, antes que o golpe
civil-militar, adiado em 1954 pelo revólver de Getúlio, se desse em 1964
e nos mergulhasse na mais longa ditadura militar das américas. Pode
ser, mas nos anos 50 a população era muito menor, muito mais rural e a
pobreza era extrema em muitos lugares. Vivia-se bem na zona sul carioca e
nos jardins paulistas, gaúchos e mineiros. No sertão, nas favelas, nos
cortiços, vivia-se muito mal.
A desigualdade social brasileira continua um escândalo, a violência é
um terror diário, 50 mil mortos a tiros por ano, somos campeões
mundiais de assassinatos, sendo a maioria de meninos negros das
periferias, nossos hospitais e escolas públicos são para lá de carentes,
o Brasil nos dá motivos diários de vergonha e tristeza, quem não sabe?
Mas, estamos piorando? Tem certeza? Quem lhe disse? Qual sua fonte? E
piorando para quem?”