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Reportagem
de revista colombiana, datada de 2008, apresenta supostas ligações das
FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupo marxista
associado a atos de terrorismo, sequestro e aos carteis de drogas na
América Latina, com a "alta esfera" da política brasileira. Leia abaixo:
A presença das
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no Brasil "chegou até
as mais altas esferas" do governo brasileiro, ao PT, a líderes políticos
e ao Poder Judiciário, publicou nesta quinta-feira (31) a revista
colombiana "Cambio".
A conclusão foi
tirada de supostos e-mails encontrados no computador do ex-porta-voz
internacional das Farc "Raúl Reyes", afirma a edição número 787 da
revista semanal.
O governo colombiano, no entanto, "usou seletivamente os arquivos do computador de 'Raúl Reyes'".
A publicação
acrescenta que com "Equador e Venezuela, (os arquivos) foram usados para
colocar em contradição (o presidente venezuelano Hugo) Chávez e (o
presidente equatoriano Rafael) Correa, hostis a (o chefe de Estado
colombiano Álvaro) Uribe".
Com o Brasil,
"a articulação foi feita embaixo da mesa para não comprometer Lula, que
se mostrou mais hábil e menos combativo com a Colômbia", segundo a
revista.
Nos e-mails de
"Reyes" - cujo nome verdadeiro era Luis Edgar Devia e que foi morto por
tropas colombianas em solo equatoriano em primeiro de março - são
mencionados "cinco ministros, um procurador-geral, um assessor especial
da Presidência, um vice-ministro, cinco deputados, um vereador e um juiz
superior" brasileiros.
Algumas
mensagens foram escritas durante o processo de paz da Colômbia entre
1998 e 2002 em San Vicente del Caguán, durante o governo do então
presidente colombiano Andrés Pastrana, "e envolvem um prestigioso juiz e
um alto ex-oficial das Forças Armadas brasileiras".
A mesma reportagem diz que "a expansão das Farc na América Latina não incluiu apenas funcionários dos governos de Venezuela e Equador, mas também comprometeu importantes dirigentes, políticos e altos membros do PT".
Imagem: Reprodução/Cambio |
A mesma reportagem diz que "a expansão das Farc na América Latina não incluiu apenas funcionários dos governos de Venezuela e Equador, mas também comprometeu importantes dirigentes, políticos e altos membros do PT".
A "Cambio" cita
o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-ministro de Ciência
e Tecnologia Roberto Amaral, a deputada distrital Erika Kokay (PT) e o
chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
Também são
mencionados nesses e-mails o ministro de Relações Exteriores, Celso
Amorim, o assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência da
República, Marco Aurélio Garcia, o subsecretário de Promoção e Defesa
dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, o secretário de Direitos Humanos,
Paulo Vannuchi, e o assessor presidencial Selvino Heck.
A "Cambio"
disse que teve acesso aos 85 e-mails de "Reyes" entre fevereiro de 1999 e
fevereiro de 2008 enviados e respondidos pelo líder máximo das Farc,
"Manuel Marulanda" ou "Tirofijo", cujo nome verdadeiro era Pedro Antonio
Marín e que morreu este ano.
Ainda segundo a
"Cambio", há mensagens de "Reyes" para o chefe militar das Farc, "Mono
Jojoy" (cujo nome verdadeiro é Jorge Briceño), para Francisco Antonio
Cadena Collazos (conhecido como padre Olivério Medina e também "Cura
Camilo") e que atua como delegado das Farc no Brasil - e de todos eles
com dois homens identificados como "Hermes" e "José Luis".
"Cura Camilo",
preso em São Paulo em agosto de 2005, vivia no Brasil havia oito anos e
foi beneficiado com uma proteção especial por ser casado com uma
brasileira.
Em 2006, o
Comitê Nacional para Refugiados (Conare) concedeu a "Cura Camilo" o
status de refugiado, decisão que pesou bastante para o Supremo Tribunal
Federal (STF) negar seu pedido de extradição para a Colômbia.
"Cura Camilo" foi "chefe de imprensa" da guerrilha colombiana no início dos frustrados diálogos de paz em San Vicente del Caguán.
Imagem: Reprodução/Zero Hora |
"Cura Camilo" foi "chefe de imprensa" da guerrilha colombiana no início dos frustrados diálogos de paz em San Vicente del Caguán.
Segundo a
reportagem de "Cambio", em 22 de fevereiro de 2004, a pessoa
identificada como José Luis escreveu a "Reyes" dizendo que "por
intermédio do legendário líder do PT Plínio (de) Arruda Sampaio", havia
chegado "a Celso Amorim, atual ministro de Relações Exteriores".
Procurado pelo G1, Sampaio, atualmente filiado ao PSOL, confirmou que
entrou em contato com um assessor do Itamaraty pedindo que "Cura Camilo"
fosse recebido no ministério, mas que o fez por motivo "humanitário".
"Para mim, se é
um cidadão que procurou o Brasil porque é perseguido politicamente, eu
ajudo", disse o ex-deputado, lembrando que também já foi exilado. Ele
afirmou ainda que sabia que o colombiano é ligado às Farc, mas que seu
pedido não tinha o caráter de promover contatos entre o Itamaraty e a
guerrilha como instituição, apenas ajudar um suposto refugiado. Sampaio
completou dizendo que não sabe se o pedido foi atendido ou não pelo
ministério.
Agenda externa
O chamado
"dossiê brasileiro" diz que as mensagens "revelam a importância do
Brasil na agenda externa das Farc (...) para dar suporte à estratégia
continental da guerrilha".
As Farc,
acrescenta a "Cambio", aproveitaram a conjuntura criada pela chegada de
Lula e do PT ao poder para "chegar até as mais altas esferas do
governo".
A "Cambio"
também disse que, apesar de os e-mails serem apenas indícios de um
possível comprometimento do governo Lula com as Farc - pois nenhum dos
funcionários enviou mensagens pessoais a algum dos membros do grupo
guerrilheiro - despertam muitas dúvidas que exigem uma resposta do
governo brasileiro.
Em depoimento à
Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos
Deputados em abril, Garcia disse repudiar os métodos usados pelas Farc,
como seqüestros, ataques terroristas e uso de dinheiro do narcotráfico.
Naquela
oportunidade, Garcia afirmou que o Brasil tem que assumir uma posição de
não interferir no conflito colombiano, mas que também não pode ficar
indiferente.
Recentemente, Garcia classificou como "irrelevantes" as mensagens encontradas no computador periciado pelo governo colombiano.
Consultada pela
Agência Efe, a assessoria da imprensa da Presidência da República disse
que desconhecia o conteúdo da matéria da "Cambio".
Em entrevista à
rede de TV colombiana Caracol, o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez,
disse que o governo da Colômbia vai respeitar os processos judiciais
brasileiros pelos supostos vínculos de altos funcionários do governo com
as Farc. Segundo ele, os documentos não vão afetar as boas relações
entre os dois países.
“O Brasil, com a
informação que tem em suas mãos, é quem deve avançar em analisar as
eventuais responsabilidades ou investigações a serem realizadas”, disse,
assegurando que a Colômbia respeitará a autonomia do Brasil neste
assunto.
Folha Política com G1 e informações de agências
Editado por Folha Política