OS PIORES
LIVROS QUE FIZERAM A CABEÇA DE MUITA GENTE Demorei
porque a lista é longa, e, diante de tantas gemas, a maior dificuldade
está em selecionar as mais representativas. Nos quesitos ruindade
acadêmica, parcialidade ideológica e indigência mental, o Brasil está
bem suprido, ocupando certamente os primeiros lugares em qualquer
ranking mundial. Eis os piores livros de autores nacionais que
mais influência exerceram no Brasil nos últimos cento e tantos anos:
- A Ilusão Americana,
Eduardo Prado (1890) - Certidão de nascimento do antiamericanismo
tupiniquim, ganhou status de obra "cult" entre os acadêmicos em parte
porque foi o primeiro livro censurado pela República (em 1893, pela
ditadura de Floriano Peixoto). Espécie de bíblia dos inimigos do
"império estadunidense", quase sempre gente ressentida e movida pela
inveja do "gigante do Norte", serve tanto à direita (o autor era
monarquista) quanto à esquerda. Sobretudo a esta, que transformou o ódio
aos EUA numa espécie de religião e num álibi para o atraso do Brasil em
diversas áreas ("a culpa é dos outros" etc.). É, assim, uma espécie de
precursor de As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, a bíblia dos idiotas latino-americanos (hoje rebatizados de "bolivarianos").
- Por Que Me Ufano do Meu País,
Conde Afonso Celso (1900) - Pequeno livro fundador do ufanismo nacional
(também conhecido como "chupa, mundo!" ou
"síndrome-do-comigo-ninguém-pode"), ou seja, a mania megalômana do
brasileiro de achar que o Brasil é o melhor país do mundo, com o melhor
povo, o melhor clima, os melhores rios, o melhor hino, a bandeira mais
bonita etc. etc. É a base para todo tipo de patriotada a que os
brasileiros se entregam alegremente de vez em quando, embalados por uma
Copa do Mundo ou pelo marketing do governo megalomaníaco de plantão,
tanto de direita (o regime militar) quanto de esquerda (os governos
petistas de Lula-Dilma). Ironicamente, tem epígrafe em inglês (My country, right or wrong
- ou seja: "Meu país, certo ou errado", o que, como lembrou Millôr
Fernandes, é o mesmo que dizer "minha mãe, sóbria ou bêbada"). O post-scriptum poderia ser a frase de Samuel Johnson: "O nacionalismo é o último refúgio do canalha".
- Brasil, Colônia de Banqueiros,
Gustavo Barroso (1934) - Leitura obrigatória nas escolas militares
durante muitos anos, é uma verdadeira síntese do pensamento reacionário
nacionalista muito em voga no Brasil nos anos 30, culpando uma
"conspiração dos banqueiros internacionais" pelos problemas do país (seu
subtítulo é "História dos empréstimos brasileiros de 1824 a 1934"). O
autor, historiador renomado, era, além de dirigente e ideólogo da Ação
Integralista Brasileira (a versão cabocla do fascismo), conhecido
antissemita, chegando a traduzir do francês Os Protocolos dos Sábios de Sião, livro
que não fica muito longe, em matéria de propaganda antijudaica e
conspiracionista. Mais uma prova de que o nacionalismo rombudo e
irracional é comum aos dois extremos ideológicos.
- O Cavaleiro da Esperança, Jorge Amado (1942) - Hagiografia do caudilho comunista Luiz Carlos Prestes escrita pelo autor de Tieta e de Gabriela
na época em que militava no Partido Comunista (o velho PCB). Jorge
Amado chegou a ser eleito deputado federal pelo "Partidão" em 1945.
Nessa época, escrevia coisas sob encomenda, como tarefa ditada pela
direção do partido, que o via como um bom relações-públicas. Somente
despertaria do delírio totalitário e largaria a canoa furada do
comunismo depois de 1956, com a revelação dos crimes de Stálin por
Krushev. Antes, escreveu essa sua contribuição à criação do culto da
personalidade de Prestes, o frustrado (e extremamente
incompetente) Stálin tupiniquim.
- Geografia da Fome,
Josué de Castro (1946) - Não é exatamente um livro ruim (traz algumas
informações importantes sobre um tema que era até então pouco estudado),
mas merece estar na lista pelo uso que dele fizeram os esquerdistas,
sobretudo o PT, que o transformou numa espécie de justificativa
intelectual para programas inócuos e demagógicos como o finado "Fome
Zero" (alguém lembra?) e o "Bolsa-Família", o maior programa de compra
de votos do mundo. O autor, funcionário da ONU, entrou para o panteão de
heróis da esquerda não tanto pelo que escreveu (poucos leram seus
livros, como o clássico Geopolítica da Fome), mas por ter
proporcionado um tema a ser explorado por demagogos e populistas de
plantão. De qualquer modo, o assunto está um tanto quanto desatualizado:
no Brasil de hoje, o maior problema dos pobres não é a fome, mas a
obesidade - culpa, em parte, do agronegócio, tão demonizado pela
esquerda.
- O Mundo da Paz,
Jorge Amado (1951) - Livro tão ruim que o próprio autor
mandou retirar de sua lista de obras completas, por pura vergonha de
tê-lo escrito. Seguindo a trilha do "realismo socialista", presente em
sua biografia de Prestes e em sua trilogia stalinista Os Subterrâneos da Liberdade
(1954), o baiano comete aqui um dos elogios mais grotescos e acríticos
das ditaduras comunistas do Leste Europeu, a começar pela ex-URSS e por
seu então líder, o ditador Josef Stálin, que o autor enaltece como o
"guia, mestre e pai", o "maior gênio da humanidade" etc. Por coisas como
essa, Jorge Amado, que se desfiliaria poucos anos depois do PCB, foi
galardoado com o prestigiadíssimo (para os comunistas) "Prêmio
Stálin"... Sem comentários.
- O Mundo do Socialismo, Caio Prado Junior (1962) - Assim como O Mundo da Paz,
trata-se de um elogio desbragado e idiota das ditaduras comunistas
(sobretudo URSS e China), que o autor, um dos principais ideólogos
comunistas brasileiros, via como exemplos não somente de eficiência
técnica e justiça social, mas também de democracia (!!!). Explicitamente
panfletário, assim como seu URSS: Um Novo Mundo (1934), chega
ao ponto de transcrever trechos de resoluções de congressos do Partido
Comunista da União Soviética, a fim de provar que a terra do Gulag e do
KGB era o paraíso na Terra... Um modelo de propaganda ideológica e de
desonestidade intelectual que seria seguido por bajuladores de ditaduras
comunistas como a de Cuba.
- A Revolução Brasileira,
Caio Prado Junior (1966) - Considerada uma das obras mais importantes
do autor, comunista oriundo de tradicionalíssima família da elite
paulista, até hoje é debatida nos círculos de esquerda. Causou furor em
seu tempo, pois contrariava a tese então dominante no PCB, da existência
de "restos feudais" no Brasil que deveriam ser varridos por uma
revolução em duas etapas, "democrático-burguesa" etc., defendendo, em
vez disso, que o Brasil já era capitalista. Por incrível que pareça, foi
preciso um comunista escrever um livro para que a esquerda brasileira
descobrisse esse fato óbvio.
- Minimanual do Guerrilheiro Urbano,
Carlos Mariguella (1969) - Como o nome indica, trata-se de um
"minimanual", escrito de forma pedagógica e de afogadilho pelo
ex-deputado comunista e líder terrorista sobre as melhores técnicas para
matar, emboscar, sequestrar, assaltar bancos etc. Adotado por grupos
terroristas internacionais como as Brigadas Vermelhas italianas e o
Baader-Meinhof alemão-ocidental (e também por bandidos comuns), virou
uma espécie de obra "cult" entre os círculos radicaloides de extrema
esquerda nos anos 70, mais como um símbolo do que pelos ensinamentos
nele contidos, totalmente irreais (Mariguella acreditava que o
guerrilheiro deveria ser um super-homem, por exemplo: deveria
saber pilotar aviões, conhecer criptografia etc.). O próprio autor
provou a inocuidade de suas ideias, ao ser morto numa emboscada policial
em São Paulo - uma morte previsível para quem defendia a emboscada como
método de luta política.
- Dependência e Desenvolvimento na América Latina, Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto (1969) - Seus detratores petistas não gostam de lembrar, mas o "neoliberal" FHC sempre foi um intelectual de esquerda. Nesse livro, considerado sua magnus opus, o sociólogo defende aquela que seria uma das principais taras ideológicas da esquerda latino-americana na segunda metade do século XX: a chamada "teoria da dependência", de matriz leninista, segundo a qual a pobreza de um país é determinada pela "exploração imperialista" e pelas "perdas internacionais", como se o comércio entre países fosse um jogo de soma zero. Justifica em cada linha o conselho atribuído a FHC quando na Presidência da República: "esqueçam o que escrevi". É o único livro escrito por autor brasileiro (em co-autoria com o sociólogo chileno Enzo Faletto) que consta da lista de "Os Dez Livros que mais Comoveram o Perfeito Idiota Latino-Americano".
- Dependência e Desenvolvimento na América Latina, Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto (1969) - Seus detratores petistas não gostam de lembrar, mas o "neoliberal" FHC sempre foi um intelectual de esquerda. Nesse livro, considerado sua magnus opus, o sociólogo defende aquela que seria uma das principais taras ideológicas da esquerda latino-americana na segunda metade do século XX: a chamada "teoria da dependência", de matriz leninista, segundo a qual a pobreza de um país é determinada pela "exploração imperialista" e pelas "perdas internacionais", como se o comércio entre países fosse um jogo de soma zero. Justifica em cada linha o conselho atribuído a FHC quando na Presidência da República: "esqueçam o que escrevi". É o único livro escrito por autor brasileiro (em co-autoria com o sociólogo chileno Enzo Faletto) que consta da lista de "Os Dez Livros que mais Comoveram o Perfeito Idiota Latino-Americano".
- Pedagogia do Oprimido,
Paulo Freire (1974) - Obra que marcou gerações de professores e
estudantes no Brasil, é a Bíblia dos pedagogos brasileiros. Basicamente,
é um panfleto de auto-ajuda marxista embalado numa linguagem de sistema
pedagógico, introduzindo conceitos como "luta de classes", "revolução" e
"classe operária" na sala de aula. Seu "método" de alfabetização de
adultos baseado em Marx foi adotado pelo sistema de educação brasileiro
nas últimas cinco décadas. Não surpreende, portanto, que não se conheça,
até hoje, o nome de nenhuma pessoa que foi alfabetizada por seu
"método" revolucionário. Tampouco surpreende que o Brasil esteja em
penúltimo lugar no ranking mundial de educação. Mesmo assim, o autor
foi endeusado até o limite do possível, tendo sido escolhido
postumamente, em 2012, o "patrono da pedagogia nacional" pelo governo
petista de Dilma Rousseff. Faz sentido.
- A Ilha,
Fernando Morais (1976) - Reportagem que, se teve o mérito de romper o
isolamento informativo sobre Cuba, vigente no Brasil desde 1964, serviu
para divulgar a lenda da ilha comunista como um paraíso dos
trabalhadores. O autor ficou rico escrevendo (favoralmente) sobre o
comunismo, como em Olga (1985), o que lhe rendeu, além de uma
gorda conta bancária, um mandato de deputado pelo PMDB de Orestes
Quércia, um dos políticos mais corruptos do Brasil em todos os
tempos. Atualmente, é lulista e amigo do peito de José Dirceu e
companhia.
- Da Guerrilha ao Socialismo: a Revolução Cubana,
Florestan Fernandes (1979) - Série de apostilas transformadas em livro
por um dos maiores ideólogos esquerdistas do Brasil, considerado "o pai
da sociologia brasileira". Ajudou a consolidar o mito do regime
castrista humanista e democrático, que prende, tortura e mata, mas o faz
em nome da humanidade.
- Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai,
Julio José Chiavenato (1979) - Obra que pretendeu ser uma "denúncia" da
Guerra do Paraguai (1864-1870), a qual mostra como um massacre
("genocídio") em que Brasil, Argentina e Uruguai, seguindo ordens do
imperialismo da Inglaterra, destruíram o Paraguai, que teria pago em
sangue por ser um país supostamente próspero e independente. Tal mito,
divulgado pela esquerda durante décadas, foi totalmente desmentido por
pesquisas posteriores. Desde então, está desmoralizado como obra
histórica séria.
- Igreja: Carisma e Poder, Leonardo
Boff (1984) - Livro que, inspirado na radicalização à esquerda de parte
do clero na América Latina depois do Concílio Vaticano II (1962-65), é
uma das referências da autoproclamada "teologia da libertação",
tentativa herética oportunista de infiltrar o marxismo na Igreja
Católica que teve bastante influência nos anos 70 e 80, principalmente
no campo. Leonardo Boff, um de seus principais ideólogos, foi condenado
em boa hora ao silêncio obsequioso pelo Papa João Paulo II em 1985 e,
vendo que não poderia transformar o Vaticano numa Comunidade Eclesial de
Base (CEB), num sindicato ou numa filial do PT, desligou-se da Igreja,
trocando-a por Fidel Castro. Continua assessorando os dirigentes
petistas, tendo-se reinventado, desde então, como autor de livros de
auto-ajuda e guru ecológico.
- Brasil: Nunca Mais,
Arquidiocese de São Paulo (1985) - Embora importante como registro
histórico e denúncia das violações dos direitos humanos pela ditadura
militar, peca por não se referir, em nenhum momento, aos crimes da
esquerda armada. Serviu, assim, como uma luva para os propósitos
revanchistas dos que querem reescrever a História às custas dos cofres
públicos.
- Fidel e a Religião,
Frei Betto (1985) - Monólogo em forma de entrevista do ditador mais
amado da esquerda brasileira, por um dos expoentes da "teologia da
libertação", um frei dominicano que se autointitula "irmão em Cristo e
em Castro" (sic). Um monumento à sabujice e à devoção sem limites a
tiranos assassinos.
- Convite à Filosofia, de Marilena Chauí (1994) - Livro didático que, assim como O Que é ideologia?,
da mesma autora, deseducou uma geração inteira de estudantes
brasileiros do ensino médio. É uma espécie de bê-á-bá do pensamento
marxista disfarçado de manual filosófico. A autora, verdadeira musa
intelectual do PT, já chegou a dizer que, quando Lula fala, o mundo se
ilumina. Em compensação, odeia a classe média.
- O Povo Brasileiro, Darcy Ribeiro (1995) - Último livro de Darcy Ribeiro, antropólogo que começou no PCB, foi ministro da Casa Civil de João Goulart e ficou famoso pela criação da UnB e por sua associação com o caudilho Leonel Brizola nos anos 80, quando defendia a beleza e funcionalidade das favelas, "a verdadeira habitação brasileira". Síntese das teorias populistas do "socialismo moreno" brizolista, parte da ideia de que o Brasil, devido a características raciais únicas, seria uma "nova civilização", superior a todas as outras (sobretudo aos EUA, dos quais o autor negava qualquer contribuição cultural significativa). Uma das fontes da "cultura da periferia" que hoje infesta as rádios e tevês do país.
- Formação do Império Americano,
Moniz Bandeira (2005) - Versão antiamericana da formação dos EUA, por
um expoente do antiamericanismo verde-amarelo. Descreve a ascensão do
Gigante do Norte como uma marcha ininterrupta de saque e guerras por um
vilão da política internacional, e os demais países, como
vítimas passivas do "imperialismo ianque". Basta citar que coloca no
mesmo patamar o presidente Franklin Roosevelt e o ditador Adolf Hitler.
Precisa dizer mais? (P.S.: Virou leitura obrigatória no Itamaraty.)
Menções honrosas:
- Lula, o Filho do Brasil,
Denise Paraná (2003) - Hagiografia do ex-sindicalista e principal
beneficiário do Mensalão. Uma ode ao operário filho de uma mulher que
nasceu analfabeta. Virou filme, o fracasso mais caro já feito no Brasil.
Assim como o governo do personagem em questão, o mais corrupto da
História do Brasil.
- A Vida quer é Coragem,
de Ricardo Batista Amaral (2011) - Na trilha do Chefe, o Poste também
ganhou uma biografia elogiosa. Metade relato dos anos de "formação
política" como militante de organizações terroristas nos "anos de
chumbo" da ditadura militar, metade narrativa da campanha presidencial
de 2010, tenta vender a ideia da "presidenta" ultra-preparada e
competente, que doou generosamente a juventude pela luta "por um Brasil
melhor" etc. O título é uma pérola de ironia involuntária.
- Todos os de Emir Sader:
Infelizmente não foi possível selecionar nenhuma obra desse autor.
Qualquer livro dele merece constar de qualquer lista de piores, no
Brasil ou alhures.