O programa “The Voice” é um estelionato em forma de show de calouros

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O reality show “The Voice” é um dos maiores estelionatos da TV desde o “Baú da Felicidade”. É um concurso de calouros que promete revelar novos valores da música. A Voz. Uma invenção holandesa, hoje espalhada por mais de 20 países, da China aos Emirados Árabes Unidos.

The Voice da Rede Globo
Texto por Kiko Nogueira, através do site DCM
O prêmio é um cheque de 500 mil reais e um “contrato com uma grande gravadora” (grande gravadora!). No mundo todo, nunca se ouviu falar de um cantor ou cantora que tenha surgido ali e que tenha tido uma carreira consistente. A notícia mais recente sobre a vencedora da edição brasileira passada, Ellen Oléria, era de uma apresentação no Festival de Cultura de Oeiras, no sul do Piauí. Nada contra o Piauí.
É assim em outras paragens. Na Inglaterra, a ganhadora de 2012, Leanne Mitchell, vendeu menos de mil cópias de seu CD. A deste ano, Andrea Begley, ficou em trigésimo lugar nas paradas por uma semana e logo desapareceu novamente.

A coisa toda é, na verdade, um novelão disfarçado. Gente humilde que veio de longe e que encontra uma chance de entrar pela porta da esperança. Geralmente, são acompanhados dos pais. Enquanto o rapaz ou a moça cantam, pai e mãe torcem e se descontrolam emocionalmente nos bastidores.
Como se trata de um tiro só, em que o artista precisa causar impacto, a única estratégia possível é soltar a voz na estrada. O resultado é que todos soam da mesma maneira — e todos soam como uma mistura de Christina Aguilera com Cauby Peixoto. Se João Gilberto ou Nara Leão aparecessem, seriam enxotados.
Quem se dá bem são os jurados (que funcionam como técnicos dos cantores que adotam). A saber: Claudia Leitte, Daniel, Carlinhos Brown e Lulu Santos. Eles cantam e tocam durante a atração. Nenhum deles parece ter ouvido um disco inteiro na vida. Não citam ninguém, não contextualizam nada. Todos se amam e trocam elogios.
Lulu, em particular, está vivendo uma prorrogação na carreira. É o mais talentoso deles. Quando toca sua guitarra, há bons momentos. Seu slide ainda é incrível. Mas isso vai para o espaço quando ele começa a falar em seu tom afetadíssimo (chega a chorar em suas atuações). Lulu parece viver embasbacado com os próprios ternos brilhantes.
“The Voice” é um pátio dos milagres em que as pessoas se humilham (o júri as ouve de costas) em troca de, basicamente, uma esmola. Tem a ver com tudo — corrida de obstáculos, trote de faculdade, novela, Big Brother –, menos com música

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