O programa “The Daily Show” faz um tipo de jornalismo misturado com
humor sem parentesco no Brasil (esqueça o CQC). Quem comanda é Jon
Stewart, um nova-iorquino que passou por todo o circuito de stand up
antes de virar apresentador. Apresentou o Oscar e ganhou 10 prêmios Emmy
por matérias como a exibida há poucos dias.
Um dos entrevistadores, Aasif Mandvi, foi conversar com um membro do
Partido Republicano, Don Yelton, sobre uma nova lei que obriga os
eleitores a se identificarem na Carolina do Norte. O Departamento de
Justiça está processando o estado por considerar a lei racista.
Mandvi acabou conseguindo fazer com que os republicanos pedissem a
saída de Yelton. Sem forçar a mão, apenas deixando-o falar, Yelton deu
um punhado de declarações inacreditáveis. “Os negros preguiçosos querem
que o governo lhes dêem tudo”, disse.
Mandvi, que é de ascendência indiana, se mostrava entre surpreso e
animado em deixar Yelton falar à vontade. “Um de meus melhores amigos é
negro”, afirmou Yelton. “Você é meu amigo!”, declarou, olhando com
condescendência para o entrevistador, que está longe do padrão ariano.
Mandvi respondeu: “Você sabe que nós podemos ouvi-lo, certo?” Yelton,
um tipo clássico do Sul americano, ainda reclamou de não poder mais
usar a palavra “nigger”. E que, apesar do interlocutor não se parecer
com ele, fazia questão de trata-lo como uma pessoa normal. Etc etc. Nem
Bolsonaro seria capaz de uma catástrofe verbal desse nível. Quer dizer,
Bolsonaro seria, sim.
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Mas não precisamos ir até Bolsonaro. Em Piraí, município do Rio de
Janeiro, o vereador José Paulo Carvalho de Oliveira, o Russo, do PT do
B, fez um discurso inesquecível na Câmara. Tendo como mote os 25 anos da
Constituição, pôs-se a desfiar uma ladainha que lembrou os grandes
momentos de Goebbels bêbado.
Depois de elogiar um projeto de lei que proíbe mendigos de votar (?),
mandou bala: “Não tem de votar, não. Devia virar ração pra peixe.
Deveria haver pena de morte. Ah, vai matar inocente… Ainda que matasse,
ia morrer muito menos inocente do que morre hoje”. Também defendeu o fim
da censura. O resto você assistiu no vídeo. A certa altura ele fala em
“bom senso”, aliás.
O pronunciamento foi no dia 8. O presidente da Casa, Wilden Vieira da
Silva, o Prico (PSD), estava na sessão. O prefeito só se manifestou
depois que o vídeo tornou-se viral. Ontem, o delegado determinou uma
investigação para averiguar se aquilo foi apologia ao crime. Oliveira
chegou a falar que errou na “colocação das palavras”.
Batata: uma manifestação foi marcada na frente da Câmara. As pessoas
comparecerão de roupas rasgadas. E o PT do B? Bem, o PT do B nada.
Oliveira continua firme em seus quadros e vai concorrer no próximo
pleito. E vida que segue.
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