Pânico na TV é citado no programa. Imagem: Deivis Horbach/Divulgação |
São Paulo - “Eu tenho a teoria de que a televisão é
a janela para a alma de uma nação”. É assim que começa o episódio sobre
o Brasil do programa de televisão britânico “The Greatest Shows on
Earth” (Os melhores programas do mundo, em tradução livre).
Exibido em junho na TV britânica, só agora o episódio ganhou notoriedade entre brasileiros nas redes sociais.
Se a teoria da
apresentadora Daisy Donavon estiver correta, a alma do Brasil é uma
mistura perversa de sexo e morte. Ou pelo menos é essa a conclusão a que
ela chega após passar uma temporada no Brasil, conhecendo alguns
programas da TV aberta.
“A televisão
aqui valoriza o teatro do extremo, da beleza do corpo das mulheres a
programas que exploram casos de polícia”, explica no começo da
reportagem.
Daisy busca
exemplos extremos para comprovar sua teoria. A competição “Miss Bumbum”,
exibida por um canal da TV aberta, é alvo de detalhada análise. “Estou
exposta a um festival da carne”, impressiona-se a apresentadora enquanto
assiste à cena de um programa de auditório em que um cirurgião plástico
descreve um bumbum perfeito.
Ela chega a
participar de uma pegadinha com uma das participantes para entender
melhor o que motiva essas meninas a se exporem dessa forma. A conclusão:
“no Brasil, o bumbum pode te levar a lugares”.
A própria
concorrente endossa a visão da britânica: “no Brasil, para a gente
entrar na TV e na mídia, muitas vezes a gente tem que entrar pela porta
dos fundos. Temos que mostrar primeiro nossa beleza, pra depois mostrar o
que temos por dentro e a capacidade intelectual”.
Essa “fixação questionável com as mulheres na
televisão brasileira” parece não ter limites para a britânica. Daisy
faz duras críticas a determinado programa em que mulheres de biquíni
competem em jogos “espetacularmente sem propósito”.
“O que me
parece ser um programa degradante e sadomasoquista é transmitido,
incrivelmente, às 21h de um sábado para 10 milhões de espectadores”,
explica, incrédula, ao seu público.
O
questionamento que se segue, é desconcertante: “se a televisão
brasileira está disposta a tratar as mulheres dessa forma em sua busca
por espectadores, existe algum limite que ela não cruzaria?”.
A resposta vem
banhada em sangue. A jornalista britânica vai ao norte do país para
conhecer melhor o que considera uma forma inesperada de entretenimento:
os sangrentos programas policiais. “É isso que as pessoas assistem para o
entretenimento na hora do almoço?”
Daisy se
impressiona com a proximidade com que o sexo e a morte convivem na mídia
brasileira. Por aqui, ambos são mais visíveis do que em outros lugares e
talvez por isso mesmo, parece que há entre os brasileiros uma sensação
de “aproveite o momento”.
“Meu Deus, esse país não é para os de coração fraco”, conclui.
Veja o programa:
http://www.folhapolitica.org