A gente sempre vê fotos incríveis dos escritórios do Google, Facebook, Twitter, Pinterest… e parece o paraíso! As pessoas que trabalham lá devem se divertir horrores, deve ser tipo uma colônia de férias, né? Só que nem sempre.
O BuzzFeed tá fazendo uma série de matérias com entrevistas e depoimentos de gente que trabalha nessas empresas, mas que não são aquelas que sobem no palco, dão palestra ou aparecem de vez em quando na TV. Dessa vez, o relato é de um cara que trabalhou no Google como moderador de conteúdo ofensivo: fotos e vídeos de pornografia, crimes, etc. Ele foi contratado temporariamente, com esperanças de ser efetivado. Da experiência ele não apenas levou um pé na bunda da empresa como também saiu com sérios traumas de lá. Leia alguns trechos do relato que nós traduzimos do artigo original do BuzzFeed:
“O papel dele na empresa [Google] consistia basicamente em revisar e moderar coisas como zoofilia, necrofilia, mutilação de corpos (sangue, eletrocussões, decapitações, suicídios), fetiches explícitos (como pornografia com fraldas) e pornografia infantil encontradas em todos os serviços Google — uma experiência a qual ele achou aterrorizante. A empresa se recusou a efetivá-lo, mantendo-o sob um contrato sem muito apoio.
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Depoimento – Fiquei um pouco averso ao tanto de coisas que tinha. Acho que qualquer um que diga que não aproveitou estaria mentindo: eu comia café-da-manhã, almoço e jantar lá todos os dias. Eles te dão tudo o que você precisa. Como recém-formado, era fantástico. Meus pais, sendo tradicionalistas, estavam muito felizes por eu estar trabalhando em uma empresa tão grande. Pelo telefone, o recrutador me falou que eu lidaria com ‘conteúdo sensível’. Não me ocorreu que eu teria que fazer tudo sem nenhum apoio técnico ou emocional.
Uma das piores partes do meu trabalho era lidar com pornografia. Pornografia infantil é o que mais tem e o que mais perturba as empresas de internet. Por lei [nos Estados Unidos], você tem que tirar do ar dentro de 24 horas depois da denúncia e reportar às autoridades federais. Ninguém queria fazer isso lá no Google.
Eu cuidava de todos os serviços Google. Se alguém quisesse usar qualquer um deles pra pornografia infantil, lá estava eu moderando. Então talvez fossem umas 15.000 imagens por dia. Google Imagens, Picasa, Orkut, Pesquisa do Google, etc. E eu não tinha com quem conversar.
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Depois de uns nove meses, o Google arranjou uma moça da agência federal pra falar comigo e foi aí que me ocorreu que eu precisava de tratamento. Ela me mostrou algumas fotos aparentemente inofensivas (como se fosse um teste Rorschach modificado) e perguntou qual era minha reação inicial. Pra mim era doente, mas era só uma foto de um pai e seu filho. Então comecei a fazer terapia. O Google pagou uma sessão com um terapeuta indicado pelo governo — e me encorajou a sair e prosseguir a terapia por conta própria quando fui embora.
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Conheço muita gente que é ex-Google e tem a mesma história. Três pessoas que ficavam no turno da madrugada no YouTube e pra eles foi prometido que teriam que aguentar ver decapitações e pornografia infantil o tempo todo, mas que eles seriam efetivados depois. O processo de revisão do YouTube é pró-ativo — eles têm que ficar lá procurando, das 10 horas da noite até às 8 da manhã, por um ano inteiro.
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Eu conheço um cara do YouTube que sabia tudo sobre esses temas. Mas ele também era um contratado temporário e não foi efetivado. Ele não sabe nem por quê. O gerente um dia chamou o recrutador e perguntou ‘você faz ideia do que esse cara faz?’; ele não sabia. Se você é um contratado temporário, você é só um nome num departamento.”
E essa foi a história de mais um dos vários heróis silenciosos da internet de superfície.
Se você não se depara com esse tipo de coisa no dia-a-dia, é porque tem gente te protegendo. O conteúdo que o cara mencionou mora, em geral, na Deep Web. Diz-se que o que nós acessamos é só a superfície da internet, como o oceano: se você jogar uma rede de pesca, vai encontrar muitos peixes, mas tem muuuuuito mais coisa lá pra baixo. Mas não tem só conteúdo ilegal, tá? Tem também bancos de dados e informações sigilosas, que são secretas por motivos óbvios. Leia mais aqui nesse artigo que fizemos.
O que acontece depois que você clica em “report as abusive” no Facebook? Aqui tem uma matéria muito interessante do Gizmodo sobre isso. Irônico como a gente não pensa nisso, né? Só queremos saber de compartilhar foto pra ajudar sei lá quem, gerando um lixo cibernético gigante.
Você anda revolts com seu trabalho? Pense que podia ser pior…
http://youpix.com.br/comportamento/se-voce-acha-que-trabalhar-no-google-e-daora-repense/#more-95650