A partir do momento em que os companheiros que se amam puderam casar-se e desfrutar dos mesmos direitos dos heterossexuais.
A institucionalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo foi uma porta que se abriu para os direitos humanos e outra que se fechou para o preconceito. A partir do momento em que os companheiros que se amam puderam casar-se e desfrutar dos mesmos direitos dos heterossexuais, outra porta se abriu para a questão da adoção de crianças por casais homoafetivos
As esposas Sandra Marques e Cleidilene Marques se casaram recentemente e já planejam aumentar a família. No momento, ainda não pensam em adotar criança, pois estão com outras prioridades. Mas definitivamente gozarão deste direito quando se estabilizarem profissionalmente. E na hora de explicar para o filho sobre a família não convencional formada por duas mães, o diálogo será o melhor caminho.
“No meu caso, como sou mulher, essa criança que pretendemos adotar, quando ela estiver numa certa idade, claro que meu pensamento é dizer que ela tem duas mães. A maioria das crianças abandonadas foi concebida por heterossexuais e ela terá a sorte de ter duas mães que dará tudo que ela precisa”, afirma.
As engrenagens do tempo rodam em ritmo acelerado. Se há pouco mais de dois séculos, negros e mulheres tinham seus direitos cerceados, hoje eles são presidentes de grandes nações. Se homossexuais eram considerados aberrações da natureza, hoje tem o direito de constituir família assegurado por lei.
Os desafios, entretanto, permanecem sob a vigília da sociedade. A adoção de crianças por casais homoafetivos ainda é visto com olhos de desdém pela maioria da população.
Sob a vista de quem está na fogueira da inquisição, é um absurdo negarem o direito de dar amor e disciplina para um ser humano que não pode desfrutar das noções mais básicas de afeto. “Ainda existe resistência das camadas mais conservadoras, mas é um costume para ser mudado.
Lutamos para ter a mesma possibilidade de escolher os direitos que as pessoas ‘normais’ têm. Eu e minha esposa, Quiteria, estamos inscritas no Cadastro Nacional de Adoção.
Quando nossa filha chegar, será recebida com muito amor”, aponta Marinalva Santana, diretora do Grupo Matizes, uma entidade que luta pela igualdade de direitos da ala LGBTT.
Sandra e Cleidilene pretendem esperar um pouco, não por uma questão de preconceito, mas de planejamento. Elas estão felizes por não encontrarem imposição para realizar o sonho da maternidade e farão isso da melhor forma possível.
“Filho é algo muito sério, é um projeto que é para sempre e estará sempre presente na vida das duas pessoas. Devemos pensar em saúde, educação, orientar para a vida e ajudar na formação de caráter, deixar desde o início ciente do que é o preconceito e porque ele existe, ensinar a respeitar o próximo, fazer tudo que uma mãe deve fazer”, diz Sandra.
Pela visão da lei, a sociedade mudou ao longo dos tempos e o poder jurídico faz seu papel em adotar essas mudanças. “São pessoas normais que merecem o amparo da lei. Não há porque negar um direito comum de todos os cidadãos”, frisou a juíza Zilneia Barbosa, durante a primeira cerimônia de não civil entre pessoas do mesmo sexo.
Adoção ainda gera polêmica na sociedade
A adoção por homossexuais não recebe aprovação de grande parte da população brasileira. Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, as mulheres são mais favoráveis que os homens à adoção gay. 44% delas aprovam, enquanto apenas 33% dos homens são a favor.
Enquanto isso, 58% dos jovens com idade entre 16 e 24 anos aprovam a adoção por casais do mesmo sexo, enquanto apenas 19% dos maiores de 60 anos acham a atitude válida.
Entre as religiões, os católicos são os mais "progressistas": 41% se declaram a favor da adoção por homossexuais e 47%, contrários. Entre os evangélicos pentecostais, a desaprovação alcança o maior índice: 71%, contra somente 22% favoráveis.
A parcela que se diz contra a adoção acredita que a criança não terá condições de crescer em um ambiente saudável porque os pais são pessoas do mesmo sexo.
Entretanto, o psicólogo Emanuel Nolêto pensa diferente. "A orientação sexual dos pais não é decisiva para saber que caminho os filhos trilharão no futuro. Antes de se preocupar com isso, os pais devem se concentrar em prover uma educação consciente e responsável aos filhos.
Pessoas preconceituosas sempre irão existir, mas elas irão diminuir quando as pessoas virem que filhos criados por casais do mesmo sexo se tornarão cidadãos plenamente comuns", opina o psicólogo.
A dona de casa Mariana Fonseca Oliveira se pauta pela linguagem do amor. "Sou a favor. Uma criança abandonada passa por uma série de problemas e a adoção é o melhor caminho, seja por quem for.
FONTE: Olegário Borges
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