Dom Geraldo Magella é um dos brasileiros que vão
participar do conclave (Foto: Ida Sandes / G1)
participar do conclave (Foto: Ida Sandes / G1)
O cardeal brasileiro Dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador, disse ao G1
nesta sexta-feira (1º) que é alta a expectativa dos integrantes do
Colégio Cardinalício de receber um resumo do dossiê sobre atividades
irregulares ocorridas no Vaticano.
Segundo Dom Geraldo, o conteúdo do documento, feito a pedido do Papa
Emérito Bento XVI, "pode mudar a intenção de voto de muita gente",
referindo-se aos votantes do próximo conclave.
Nas últimas semanas, a imprensa italiana tem circulado trechos de um
documento que detalha casos de má-gestão e disputas internas na Curia
Romana, a burocracia vaticana.
O relatório secreto foi preparado para Bento XVI, no ano passado, por
três cardeais não-eleitores, após o escândalo do vazamento de documentos
confidenciais que ficou conhecido como VatiLeaks. Os três autores do
documento estarão nas congregações gerais e poderão orientar os cardeais
eleitores a respeito das suas conclusões.
"Se esse relatório for publicado, poderá mudar a intenção de voto muita
gente, conforme o envolvimento das pessoas. Então pode acontecer que
isso forme o parecer pessoal de cada um para a escolha, mesmo que um não
seja culpado, mas que possa ter sido envolvido", explicou Dom Geraldo
ao G1.
Dom Geraldo diz que, como houve a convocação por parte de Bento XVI de
uma comissão com três cardeais para elaborar o dossiê, "é desejo dos
demais cardeais conhecer o documento antes de votarem".
"Pode ser um resumo (...), basta que nos dê um resumo. Com esse dossiê
será possível darmos um parecer, além de recomendar algumas medidas ao
Papa que será eleito", disse. Ele lembrou que o futuro Papa estará
dentro da discussão que ocorrer entre os cardeais. "[Bento XVI] lembrou
que o futuro Papa está no meio de nós", complementou.
"Vatileaks"
De acordo com o jornal "La Reppublica", o relatório teria sido
elaborado pelo espanhol Julián Herranz, o eslovaco Jozef Tomko e o
italiano Salvatore De Giorgi após vazamentos de documentos confidenciais
em um escândalo que ficou conhecido como "VatiLeaks", que revelava um
sistema de "chantagens" internas baseado em fraquezas sexuais e ambições
pessoais no clero.
saiba mais
A publicação italiana afirmava que o texto de 300 páginas foi entregue
em dezembro para o então pontífice. A reportagem do veículo italiano
sustenta que, durante oito meses, os três cardeais interrogaram muitos
prelados e laicos, dividindo-os por congregação e nacionalidade, e
estabeleceram que existem vários grupos de pressão dentro do Vaticano,
entre eles um sujeito a chantagem, a "impropriam influentiam", por sua
homossexualidade.
Outro grupo é especializado em montar e desmontar carreiras dentro da
hierarquia vaticana e outro ainda aproveita para usar recursos
multimilionários para seus próprios interesses à sombra da cúpula de São
Pedro através do Banco do Vaticano, segundo a publicação.
Clima pré-conclave
Ainda de acordo com o cardeal brasileiro, nos dias que antecedem a
primeira reunião do pré-conclave, prevista para a manhã desta
segunda-feira (4), os cardeais estarão livres para se reunir em outros
ambientes.
No entanto, ele não acredita que não deve ocorrer encontros ou jantares
entre cardeais para debater quem será o futuro pontífice da Igreja
Católica. Dom Geraldo afirmou já ter em mente cinco candidatos.
"Eu não tenho mais do que cinco [candidatos] na minha memória. Conheço
vários, mas não apontei para um único ainda (...) sem a preocupação
sobre a sua origem". Questionado se há algum brasileiro na lista, Dom
Geraldo foi evasivo: "Deve ter", disse.
O cardeal brasileiro é um dos cinco representantes do país durante o
conclave que vai eleger o novo Papa. Além dele, os demais concorrentes e
votantes são o arcebispo emérito de São Paulo, Dom Claudio Hummes, de
78 anos, Dom João Braz de Aviz, de 65, o arcebispo de São Paulo, Dom
Odilo Pedro Scherer, de 63, e o arcebispo de Aparecida e presidente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Raymundo
Damasceno.
Dom Odilo Scheller, dom João Braz de Aviz, dom Geraldo Majella Agnelo (no alto), dom Cláudio Hummes e dom Raymundo Damasceno são os cardeais que participarão deste conclave (Foto: Arquivo G1)
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