Paulo Panaro informou que, após prisões, ameaças continuaram. Membros são investigados por estelionato, tráfico de influência e outros.
Os
líderes da Igreja Maranata presos nesta terça-feira (12), em Vila
Velha, na Grande Vitória, suspeitos de intimidarem testemunhas e
autoridades, usavam a Bíblia como forma de coação. A afirmação foi dada
pelos promotores de justiça do Ministério Público do Espírito Santo
(MP-ES) Paulo Panaro e Jerson Ramos, em entrevista ao Bom Dia Espírito
Santo, na manhã desta quarta-feira (13). Além disso, Panaro também
informou que, mesmo após as prisões, uma testemunha continuou sendo
coagida e ameaçada.
Os
quatro pastores presos nesta terça-feira, em uma operação conjunta
entre o Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) e Polícia Federal,
são apontados como agentes intelectuais que estariam interferindo no
curso das investigações, ameaçando e intimidando testemunhas a mudarem
seus depoimentos e até membros do Ministério Público e do Judiciário. A
Igreja Cristã Maranata é investigada pelo MP-ES desde março de 2012, por
crimes como estelionato, lavagem de dinheiro, tráfico de influência,
falsidade ideológica e desvio de erário.
O
MP-ES deu mais detalhes de como aconteciam as coações, que utilizavam
até a Bíblia. "Membros da Igreja Cristã Maranata estavam sendo coagidos
pelos líderes da igreja. É uma instituição hierarquizada. O pastor por
ser o líder tem a dominação de todo o seu rebanho, e o que ele diz deve
ser realizado. Então, essa coação, diferente da normalidade, onde a
coação é direta dizendo o que uma pessoa deve fazer ou deixar de fazer,
ela é feita através do uso de uma interpretação manipulada da Bíblia",
explicou o promotor Paulo Panaro.
Para
o também promotor Jerson Ramos, trechos da escritura sagrada eram
usados de maneira subliminar. "Distorciam a forma da mensagem, trazendo
informações subliminares, que acuavam as pessoas, que ficavam subjugadas
às pessoas que transmitem a mensagem. As pessoas ficaram apavoradas",
esclareceu.
Algumas
expressões utilizadas dentro da própria igreja também eram usadas como
forma de coagir as pessoas. "O que se observa é o seguinte, dentro da
instituição, a expressão 'caído' para eles é muito grave. Você ser um
caído é gravíssimo, ser um excluído é gravíssimo. Eles excluíam as
pessoas dentro da própria instituição, ela é relegada a segundo plano,
como forma de coação, eles se sentiam caídos, excluídos", frisou Panaro.
Intimidações continuam
O
promotor Paulo Panaro também afirmou ter recebido uma denúncia na tarde
desta terça-feira (12) dizendo que uma testemunha recebeu telefonemas
ameaçadores, mesmo após as prisões. "Mesmo a Justiça tendo determinado a
prisão dessas pessoas com a finalidade de fazer cessar essas coações,
parece que a ação da Justiça não as intimidou. Ontem (terça-feira),
cheguei ao meu gabinete e encontrei um documento assinado de uma das
vítimas, falando que tão logo a imprensa veiculou a notícia das prisões,
a pessoa recebeu três telefonemas ameaçadores. Diziam 'Fulano, você viu
o que você fez?' Eu vim de longe para te pegar, vou só esperar a poeira
baixar para você ver o que vai acontecer", revelou o promotor.
Segundo
Panaro, a testemunha coagida nesta terça-feira (11) já vinha sofrendo
ameaças. "Essa é uma testemunha que queriam que ela se retratasse, ela
não se retratou e isso está acontecendo com ela. Vou investigar as
ligações para detectar os proprietários das linhas e tomar as medidas
cabíveis", concluiu.
Outro lado
Por
meio de nota, a Igreja Cristã Maranata disse que jamais coagiu
testemunhas ou ameaçou autoridades. Ainda informou que está processando
judicialmente aqueles que estão acusando a instituição, de acordo com a
lei. A Igreja acredita que todas as acusações e acontecimentos desta
terça-feira, com a prisão dos pastores, foram pautadas no desejo de
retaliação e perseguição.
A
Igreja Maranata foi criada no Espírito Santo há 45 anos e conta com
mais de 5 mil templos em todo o país. No último domingo (10), um evento
realizado pela igreja reuniu mais de 100 mil pessoas em Vitória.
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