Boas notícias para o Japão: o dossier Fukushima pode ser arquivado.
Com 500 biliões de Dólares, 30 ou 40 anos de espera e um pouco de boa vontade, a coisa fica fechada.
Sem dúvida o nuclear geridos por privados é um excelente negócio.
Sim, alguém morreu, há pessoas que ao longo das décadas sofrerão os efeitos das radiações. Mas enfim, isso pode ser inserido na coluna do azar.
A agência Reuters relata que alguns especialistas têm realizado um estudo para estabelecer quais as etapas necessárias para fechar a usina nuclear de Fukushima, aquela que foi destruída pelo tsunami de 2011. Nada de grave, apenas o pior acidente nuclear desde Chernobyl. E, por incrível que pareça, um quebra-cabeça para o governo japonês.
Em primeiro lugar será preciso encontrar uma maneira de retirar as barras radioactivas (exaustas e não) que ainda devem estar nas sete piscinas dos reactores. A operação começará em 2021 e poderia acabar já em 2050 ou 2060.
Problemas? Praticamente não há, a não ser o facto de que ninguém tem ideia de como aproximar-se do local. O robô enviado para explorar o labirinto do centro pifou após alguns meses de honrado serviço e ainda não reapareceu. Motivo? Podem ter sido as condições infernais do lugar, os níveis de radioactividade. O, mais simplesmente, fartou-se e foi-se embora (é um trabalho um pouco monótono).
Mas, uma vez resolvida a questão de como chegar no local e possivelmente sobreviver, o trabalho pode continuar com a segunda fase: a limpeza.
Vai ser preciso desmantelar os reactores (uns 100 biliões de Dólares), compensar as vítimas, descontaminar a área (mais uns meros 400 biliões de Dólares), trocar as lâmpadas fundidas. Feitas as contas, são 500 biliões de Dólares.
Tudo isso sempre que seja possível encontrar o dinheiro, os especialistas necessários (e não poucos), e ainda mais importante, a tecnologia necessária. Porque temos os meios para construir as centrais, mas ainda não acabámos as tarefas de casa para quando o assunto for fecha-las após um acidente (ver o caso do robô fugitivo).
Já desmantelar uma central em condições normais custa algumas dezenas de biliões. Fechar uma central explodida é um pouco mais complicado.
Takuya Hattori, presidente do Japan Atomic Industrial Forum, com 36 anos de experiência na Tokyo Electric Power Co, mais conhecida como Tepco:
Ideias? Um robô-peixe que possa nadar nas águas utilizadas para conter as perdas, chegar até as piscinas e fazer um mapa dos escombros. Sem perder-se ou deixar de funcionar. Isso promete bem....
Mas como é que ninguém tinha pensado antes na hipótese dum acidente?
Na verdade não é mesmo assim. Havia o caso da central de Tokaimura.
Em 1997 houve uma explosão e 40 trabalhadores ficaram contaminados com a radiação.
Dois anos mais tarde, em 1999, o acidente mais grave: um erro na mistura do urânio e do ácido nítrico, um relâmpago azul, a reacção nuclear, os raios gamas. Dois mortos, 119 contaminados, a impossibilidade de entrar nas instalações.
E o robô desenvolvido na ocasião? Um projecto rapidamente abandonado, agora exposto no museu da ciência.
Eiji Koyanagi, vice-director do Future Robotics Technology Center:
A cada dia, 3.000 trabalhadores entram na área contaminada. Assumidos pela Tepco ou sub-contratados, ganham 837 Ien por hora, enquanto um trabalhador em qualquer outra parte do Japão pode ganhar 1.500 Ien por hora.
Salários mais baixos? E por qual razão?
Porque a Tepco ainda é uma empresa privada; e porque o dinheiro disponível é pouco, sobretudo considerando os gastos futuros.
Um anónimo operador de máquina:
No final de Dezembro de 2012, 146 trabalhadores da Tepco e 21 sub-contratados tinham ultrapassado a exposição máxima permitida de 100 millisieverts/5 anos.
Jun Shigemura, professor no departamento de psiquiatria do National Defense Medical College, realizou uma pesquisa com 1.500 trabalhadores da Tepco:
E isso enquanto no País aumenta a indignação por causa das condições de trabalho no local.
Keiro Kitagami, uma ex-parlamentar que lidera uma pequena patrulha governamental de supervisão:
O nuclear? É barato, compensa. É só esquecer os custos.
Ipse dixit.
Fontes: Reuters, Wikipedia (versão inglesa)
Com 500 biliões de Dólares, 30 ou 40 anos de espera e um pouco de boa vontade, a coisa fica fechada.
Sem dúvida o nuclear geridos por privados é um excelente negócio.
Sim, alguém morreu, há pessoas que ao longo das décadas sofrerão os efeitos das radiações. Mas enfim, isso pode ser inserido na coluna do azar.
A agência Reuters relata que alguns especialistas têm realizado um estudo para estabelecer quais as etapas necessárias para fechar a usina nuclear de Fukushima, aquela que foi destruída pelo tsunami de 2011. Nada de grave, apenas o pior acidente nuclear desde Chernobyl. E, por incrível que pareça, um quebra-cabeça para o governo japonês.
Em primeiro lugar será preciso encontrar uma maneira de retirar as barras radioactivas (exaustas e não) que ainda devem estar nas sete piscinas dos reactores. A operação começará em 2021 e poderia acabar já em 2050 ou 2060.
Problemas? Praticamente não há, a não ser o facto de que ninguém tem ideia de como aproximar-se do local. O robô enviado para explorar o labirinto do centro pifou após alguns meses de honrado serviço e ainda não reapareceu. Motivo? Podem ter sido as condições infernais do lugar, os níveis de radioactividade. O, mais simplesmente, fartou-se e foi-se embora (é um trabalho um pouco monótono).
Mas, uma vez resolvida a questão de como chegar no local e possivelmente sobreviver, o trabalho pode continuar com a segunda fase: a limpeza.
Vai ser preciso desmantelar os reactores (uns 100 biliões de Dólares), compensar as vítimas, descontaminar a área (mais uns meros 400 biliões de Dólares), trocar as lâmpadas fundidas. Feitas as contas, são 500 biliões de Dólares.
Tudo isso sempre que seja possível encontrar o dinheiro, os especialistas necessários (e não poucos), e ainda mais importante, a tecnologia necessária. Porque temos os meios para construir as centrais, mas ainda não acabámos as tarefas de casa para quando o assunto for fecha-las após um acidente (ver o caso do robô fugitivo).
Já desmantelar uma central em condições normais custa algumas dezenas de biliões. Fechar uma central explodida é um pouco mais complicado.
Takuya Hattori, presidente do Japan Atomic Industrial Forum, com 36 anos de experiência na Tokyo Electric Power Co, mais conhecida como Tepco:
É como ir para a guerra com varas de bambuNo campus do Institute of Technology's Future Robotics Technology Center, perto de Tóquio, estuda-se para encontrar uma solução. Até agora, a Tepco só conseguiu inserir na usina algumas câmaras controladas remotamente, semelhantes a endoscópios. O esforço tem proporcionado poucos dados úteis sobre os escombros e o combustível nuclear ainda presente, um passo vital antes de decidir como intervir.
Ideias? Um robô-peixe que possa nadar nas águas utilizadas para conter as perdas, chegar até as piscinas e fazer um mapa dos escombros. Sem perder-se ou deixar de funcionar. Isso promete bem....
Mas como é que ninguém tinha pensado antes na hipótese dum acidente?
Na verdade não é mesmo assim. Havia o caso da central de Tokaimura.
Em 1997 houve uma explosão e 40 trabalhadores ficaram contaminados com a radiação.
Dois anos mais tarde, em 1999, o acidente mais grave: um erro na mistura do urânio e do ácido nítrico, um relâmpago azul, a reacção nuclear, os raios gamas. Dois mortos, 119 contaminados, a impossibilidade de entrar nas instalações.
E o robô desenvolvido na ocasião? Um projecto rapidamente abandonado, agora exposto no museu da ciência.
Eiji Koyanagi, vice-director do Future Robotics Technology Center:
O governo não quis gastar mais dinheiro para desenvolver robôs. Isso porque as pessoas teriam perguntado "Esperem, está vai ser uma situação tão perigosa que os seres humanos não podem entrar na usina?'.Mas há outro problema também: o dinheiro.
A cada dia, 3.000 trabalhadores entram na área contaminada. Assumidos pela Tepco ou sub-contratados, ganham 837 Ien por hora, enquanto um trabalhador em qualquer outra parte do Japão pode ganhar 1.500 Ien por hora.
Salários mais baixos? E por qual razão?
Porque a Tepco ainda é uma empresa privada; e porque o dinheiro disponível é pouco, sobretudo considerando os gastos futuros.
Um anónimo operador de máquina:
O dinheiro está a tornar-se cada vez menos, e quem gostaria de vir trabalhar nestas condições? Tenho dores de estômago. Estou constantemente stressado. Quando estou de volta ao meu quarto, tudo o que posso fazer é preocupar-me com o dia seguinte. Deveriam nos dar uma medalha.Não, nada de medalhas: 837 Ien.
No final de Dezembro de 2012, 146 trabalhadores da Tepco e 21 sub-contratados tinham ultrapassado a exposição máxima permitida de 100 millisieverts/5 anos.
Jun Shigemura, professor no departamento de psiquiatria do National Defense Medical College, realizou uma pesquisa com 1.500 trabalhadores da Tepco:
Os trabalhadores da Tepco estão em risco de seguir os passos de veteranos do Vietnam, muitos dos quais cometeram suicídio ou ficaram viciados em álcool e drogas.O plano de desmantelamento das autoridades prevê o fornecimento dum número de trabalhadores suficientes através das próximas décadas, mas os sinais de escassez neste sentido são evidentes, em parte porque os trabalhadores ficam "queimados" após terem atingido os seus limites de radiação.
E isso enquanto no País aumenta a indignação por causa das condições de trabalho no local.
Keiro Kitagami, uma ex-parlamentar que lidera uma pequena patrulha governamental de supervisão:
Este tipo de trabalho nunca foi feito. A tecnologia, os meios, nunca foram desenvolvidos. Basicamente, estamos a avançar no escuro.
O nuclear? É barato, compensa. É só esquecer os custos.
Ipse dixit.
Fontes: Reuters, Wikipedia (versão inglesa)