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Ainda que sejam muito comuns os casos em que jovens educados num
contexto cristão cheguem às universidades e abandonem sua fé por conta
do despreparo ao lidar com os postulados modernos e pós-modernos – o
que evidencia a importância do ensino apologético e o desdém das
famílias e de muitas igrejas pelo assunto – não acredito que o mantra
do “cada um crê no que acha melhor e o importante é ser feliz” possua,
de fato, entre outras baboseiras, tantos adeptos quanto a mídia de
massa pode levar a crer. Não são poucos, obviamente, aqueles que
intoxicaram suas almas na Academia, com o besteirol de
pseudo-intelectuais midiáticos ou livros de auto-ajuda, e deve-se levar
em conta também esse pelotão de gente vazia e superficial que sempre
há, nos quais os telós, gugus e funkeiros da vida encontram seu público
e renda. Enfim, o que desejo salientar é que os princípios e
interpretações da realidade apresentados pelos intelectuais, classe
artística e “especialistas” da mídia não são, de fato, os mesmos da
maior parte da população, embora a influência seja, ao que me parece,
crescente, ao menos em alguns aspectos.
Tendo em mente que integram um bom contingente as pessoas atentas à
malignidade do relativismo moral e a hipocrisia de um pluralismo que, em
nome da tolerância, reduz de forma burlesca toda e qualquer convicção,
por mais sólida e fundamentada que seja, a meras crendices subjetivas,
pode se perceber em muitos momentos, como numa conversa entre colegas
de trabalho, o quão acuados podem se apresentar os cristãos quando algo
que confronta diretamente sua fé é apresentado de forma taxativa. Fica
claro que, por conta do falatório relativista, muito mais barulhento e
presente na cultura de massa, não são poucos os cristãos que entraram
na Espiral do Silêncio, como a descreve Elisabeth Noelle-Neumann em sua
teoria sobre as relações entre os conteúdos apresentados na grande
mídia e a opinião pública. Para a teórica, as versões e opiniões
apresentadas pela mídia de massa tendem a prevalecer, e os discordantes
tendem a se calar.
Enfim, é possível estar repleto de razão e ao lado da verdade, e, por
uma série de motivos, sentir-se incapacitado ou desconfortável em
expô-la, refutando os sofismas, até mesmo para aqueles entes queridos
que visivelmente vivem uma vida confusa e alienada, por terem se deixado
levar pelas falácias marteladas dia e noite pelos sacerdotes filisteus
das classes tidas com bem pensantes.
É fácil falar que “a mídia manipula o povão”, mas não é nada fácil
dizer como, em que termos, em quais temas e com quais intenções. Isso
requer estudo sério. Também é difícil para o cidadão comum perceber o
quanto e em relação a quais temas deixou-se levar e hoje tem as opiniões
e comportamentos bem típicos de quem ficou exposto a fluxos de
informação preparados a distância por pessoas desconhecidas, com
intenções talvez jamais imaginadas, com métodos dos quais jamais
perguntamos algo a respeito. Pelos antivalores presentes na
teledramaturgia, programas de entretenimento e boca dos tais “formadores
de opinião”, creio que não se pode ter as melhores expectativas.
Contudo, a igreja avança, mesmo sendo o cristianismo a religião mais
perseguida do mundo, e aí está outro fato omitido pela grande mídia que
bem evidencia o caráter de seus barões. Além da perseguição física e
brutal em países islâmicos e comunistas, como a China e a Coréia do
Norte, há a notória perseguição cultural, que rapidamente vai se
transformando em perseguição jurídica com a complacência falsamente
esclarecida, é claro, dos “progressistas cristãos” e dos liberais
teológicos, grupinhos sempre próximos, que vivem às piscadelas.
O fato é que a guerra cultural, a disputa entre as cosmovisões no
debate público, é uma das dimensões mais visíveis da batalha espiritual.
Para o cristão sério, em busca de crescimento e do cumprimento dos
propósitos de Deus para sua vida, dentre os quais está o ser “sal da
terra e luz do mundo”, torna-se cada vez mais importante buscar entender
de forma mais profunda a mídia de massa, que se apresenta como espelho
da realidade mas é, ela mesma, força impulsionadora de muitos
fenômenos planejados e o canal da extensão e das conseqüências de
outros. O bom soldado conhece o campo no qual luta. Deve conhecer os
inimigos, suas armas e suas potenciais vítimas.
Por isso acredito que este tema deva ser muito mais debatido. Até
porque a mídia de massa tem imposto com maestria os temas que a
sociedade tem discutido, omitindo pautas e fatos fundamentais para uma
adequada compreensão da época em que vivemos. E aos cristãos cabe não
se deixarem manipular, e se antecipar aos ataques do inimigo. Para a
glória do nosso Senhor Jesus.
- Sobre o autor: Jornalista e músico, é editor-executivo do site de opinião e análise de conteúdo midiático "Mídia Sem Máscara".
Estudioso da filosofia, com ênfase nas áreas de teoria do
conhecimento, história das idéias e filosofia política, é um amante dos
grandes temas da teologia e um entusiasta da educação clássica.
Fonte: [ Gospel+ ]
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