Rev. Marcelo Lemos
Dias desses chego em casa e meu filho mais velho, Yago, 6 anos, me diz: “Papai, um meteoro caiu 'num lugar'... 'cê' sabia que eles podem destruir a gente?”.
Como eu não assisto televisão, ou o faço raramente, pensei que fosse
algo visto em algum filme ou seriado. Não era. Primeiro, se não estou
engando, aconteceu em algum lugar na Russia, e agora, até mesmo algumas
cidades brasileiras experimentam o fenômeno, que é bem assustador,
claro. Ainda bem que já estamos em 2013, do contrário, a tal “profecia
maia” estaria fazendo um estrago danado na mente de certa gente... No
entanto, há quem diga que estamos, sim, vendo um prenuncio do “fim do
mundo” agora mesmo, e que o mundo está prestes a entrar no sinistro
tempo da Grande Tribulação.
Talvez...
Minha opinião
pessoal? Acredito que ainda falta muito meteoro para conhecermos o “fim
do mundo” como o conhecemos. Teologicamente, um dos meus trabalhos nos
últimos anos tem sido o de negar e “derrubar” [não sem muitas
limitações!] um dos conceitos mais nocivos para a Igreja moderna;
refiro-me ao dispensacionalismo. Lembrando que eu já fiu um
grande defensor desta tese anteriormente. E sei que tal declaração
despertará a fúria de alguns leitores, talvez de muitos. Saibam, no
entanto, que não sou gnóstico, então não condiciono a salvação a
aderência a qualquer conjunto de doutrinas, além daquela que é o coração
da Fé Cristã, como expressa nos Credos da Igreja indivisa, cujo resumo é
Cristo. Se eu gostaria que todos os cristãos fossem Reformados? Sim!
Mas sei que a salvação não é exclusividade da minha tradição teológica.
Ainda assim, continuo afirmando quão nocivos são determinados erros
teológicos, dentre eles, o dispensacionalismo.
Essas palavras
iniciais se justificam, a fim de não causar nenhum mal entendido com o
uso que faço aqui da expressão “grande tribulação”. Aqueles que me leem
sabem que nego que vá existir uma Grande Tribulação, como descrita pelo dispensacionalismo.
Sete anos de Grande Tribulação, dividos em dois períodos de 3 anos e
meio, um de paz, e outro de “grande aflição”. No meio, ou em algum
momento, o reinado universal de um ser a ser identificado como o
Anticristo. Mas antes de tudo isso, o Arrebatamento da Igreja, levada
aos céus, escapando dos “Aís”, que se abatem sobre o resto do mundo. Há
alguns que acham que a Igreja estará por aqui, mas no resto parecem
concordar. Eu nego tudo isso, exceto, claro, que em algum momento
(amanhã ou daqui a 30 milhões de anos), Cristo certamente virá e estará corporalmente com
sua Noiva, a Igreja. Há outras interpretações, quanto aos detalhes,
inclusive, mas aí está, em resumo, o que é mais popular.
Esses dois parágrafos acima foram uma negativa. Positivamente, a cerca da Grande Tribulação, sustendo dois pontos principais:
1) Que
exegeticamente, o período literal de Grande Tribulação profetizado por
Cristo já aconteceu, por volta do Ano 70 da Era Cristã. Essa
interpretação se sustenta em declarações bíblicas, como “Em verdade vos
digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam”
(S. Mateus 24.34, S. Marcos 13.30).
2) Que, apesar
de ser um evento passado, os atos de Deus naquele momento da História,
bem como em qualquer outro momento, nos trazem princípios valiosos sobre
como se dá o agir de Deus com os homens. Em outras palavras, o Juízo de
Deus contra a Sinagoga de Satanás (Judaísmo), profetizado por Cristo e
pelos apóstolos, já veio, no entando, Deus ainda hoje traz juízo contra o
pecado dos homens. Certamente, jamais haverá outra tribulação como
aquela - “como nunca houve... nem tampouco há de haver” (S. Mateus 24.21) - o que não significa que não haverá outras tribulações...
E, assim como
poderá haver outros momentos de tribulação, haverá com ainda maior
certeza, outras vitórias inevitáveis da Religião Cristã ao longo da
História. Por isso gosto de chamar esse pensamento de “Teologia da
Esperança”, ainda que seja, na verdade, muito dura para os rebeldes e
apostatas.
Para entender melhor esse Juízo e essa esperança, se faz necessário compreender a causa da Grande Tribulação, contra Israel. A bem da verdade, seria mais correto falarmos em causas,
no plural, pois podemos identificar mais de uma, no entanto,
enfocaremos uma delas, por brevidade. Parte importante da investigação
está no capítulo 17 do Apocalipse, onde encontramos a identidade da
Falsa Esposa, a Grande Prostituta.
Pois bem, a
“prostituição” e o “adultério” são metáforas comuns utilizadas pelas
Escrituras, desde o Antigo Testamento, para descrever a infidelidade
espiritual de cidades e nações infiéis, inclusive Israel, quando este se
afastava da Lei do Senhor. De modo que a Grande Prostituta é uma
metáfora a respeito da Falsa Igreja, aquela que carrega o nome do Deus
de Israel, mas nega-o com suas obras. E no Novo Testamento, essa Falsa
Igreja é a nação de Israel, a “Sinagoga de Satanás”. Este é contexto
histórico, profético do Apocalipse. Mesmo assim, sabemos que tem
existido falsas igrejas ao longo dos séculos, muitas tem sido as
rameiras que sujam o santo nome do Senhor. Do mesmo modo, Deus tem
sempre mantido uma Igreja Fiel – que não se prostra diante de Baal - a
qual não apenas é perseguida pela Prostituta, mas também a denuncia e,
ainda melhor, sobrevive a ela. Foi assim no Novo Testamento. Foi assim em outras Eras. E será assim com a Igreja de hoje.
O Anticristo
está entre nós. Sempre esteve. Grandes tribulações podem estar a porta,
uma vez que a apostasia insiste em nos espreitar além dos umbrais. Não
tem haver com meteoros. Tem haver com fidelidade e apostasia. Também tem
haver com avivamento. Mas, cá entre nós, qualquer grande tribulação que
possa vir (e que não é mesma profetizada por Cristo), ou que aqui já
esteja (muitos cristãos a vivem agora mesmo em boa parte do mundo), não é
o que realmente interessa. O que interessa é que a Igreja, a Fiel, sempre sobrevive aos
anticristos. Sempre! Isso é interessante, pois é comum ver pessoas
desejando que a Igreja sofra, que os cristãos sejam perseguidos, já que
certamente é uma glória maravilhosa sofrer por Cristo. Tudo bem. No
entanto, o fim último das perseguições não é o sofrimento da Igreja, mas
a sua vitória! E eu não falo de um vitória no mundo “por vir”, “além do
jordão”, falo de uma vitória histórica, com a Igreja tornando visivel o
Reino de Cristo, aqui e agora.
Eu fico
apreensivo com toda essa história sobre meteoros, afinal, eu não sou o
Super-Man, certo? Imagine estar andando na praça da Sé e de repente...
Nossa! Nem pensar nisso eu que quero! Agora, os meteoros nada me dizem
sobre o tempo estar se findando no relógio de Deus; com todo respeito a
quem pensa diferente, a minha búsola, felizmente, é outra!
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