A reportagem, “A Dor Não Acaba Nunca”, de Nathalia Watkins, na Revista Veja desta semana,
traz estatísticas alarmantes sobre a vida dos militares americanos
egressos dos campos de batalhas do Afeganistão e do Iraque nos últimos
doze anos.
As estatísticas
são realmente de arrepiar: Segundo a pesquisadora e jornalista do
semanário Veja, “em 2012, o número de suicídios de militares atingiu uma
taxa de 29 suicídios para cada grupo de 100.000 veteranos. Se
considerado apenas o contingente na ativa do Exército, foram 177
suicídios ― um a mais do que os mortos em combate no Afeganistão no
mesmo ano.”
Em 1916, Freud,
já analisava os casos de neurose traumática pós-guerra. Ele dizia que
“esse quadro psicótico era decorrente de uma fixação dos acidentes
traumáticos que ficavam sendo reeditados através dos sonhos e na forma
de ataques que parecem transportar o sujeito para a situação do trauma.”
(Vide livro TRAUMA – de Ana Maria Rudge – página 40)
Os Psiquiatras
dizem que as reações aparentemente inexplicáveis de ex-combatentes, tais
como − irritabilidade, insônia, pesadelos, aumento da agressividade e
pensamentos de acabar com a vida −, aparecem como se a pessoa estivesse
numa situação em que a guerra ainda acontecesse.
O psiquiatra,
Shad Meshad (criador da Fundação Nacional dos Veteranos de Guerra),
consultado pela jornalista da revista Veja, disse: “Esse fenômeno só é
comparável ao que os Estados Unidos enfrentaram nos anos 70, após a
Guerra do Vietnã.”
“Foi após a
Guerra do Vietnã, onde havia muitos jovens imaturos de 18 e 19 anos
lutando em selva fechada, que surgiu um novo ramo da Psiquiatria moderna
― aquela dedicada aos distúrbios de ansiedade adquiridos nos campos de
batalha. A Associação Americana de Psiquiatria, em 1980 catalogou em
seus manuais esse “novo” distúrbio psíquico ― rotulando-o de stress
pós-traumático.”
Recentemente,
nos EUA, foi largamente difundida pela imprensa internacional uma
manifestação dos veteranos de guerra do Iraque e do Afeganistão. Homens e
mulheres, de diferentes ramos das forças armadas norte-americanas
fizeram uma dramática declaração ao mundo ― sinal de que estão
revoltados com o descaso e insensibilidade das autoridades
governamentais dos EUA que não prestam assistência psicológica devida a
seus companheiros; muitos, com problemas de ordem física e psíquica
decorrentes das atrocidades a que foram submetidos numa guerra insana e
injusta.
Cerca de 50
veteranos norte-americanos da guerra do Iraque e do Afeganistão, em maio
de 2012, numa manifestação em Chicago - Canadá, arrebanharam mais de
10.000 pessoas aos gritos de “Não à Guerra!!!”. Cada um dos veteranos
subiu ao palco para contar a história das atrocidades que foram
obrigados a cometer. Jogaram fora as medalhas recebidas por um falso
heroísmo, após darem seus comovedores testemunhos. Na ocasião, um dos
recrutas em lágrimas deu um depoimento contundente:
“Nós não
podemos mudar o passado, mas queremos que outras pessoas saibam que esta
guerra precisa ser parada. Nós temos uma guerra aqui mesmo para levar
estes políticos à justiça. Eles são criminosos de guerra. As forças
armadas mentem aos soldados e dão-lhes medicamentos que podem ser piores
que as drogas de rua, e dizem que matem quem virem. Muitos soldados têm
cometido suicídio porque nós temos uma consciência.” (Clique aqui para ler mais depoimentos)
“Um soldado
mata a sua mulher e se mata. Outro veterano de guerra se enforca,
desesperado. Um terceiro coloca a arma na cabeça e puxa o gatilho em um
posto de gasolina. Suicídios cometidos como os descritos acima, não
chocam mais a maioria das comunidades nem o Comando do Exército
norte-americano.”
“Os Homens e
mulheres, depois de estarem em uma guerra, têm as suas vidas alteradas
de uma maneira ou de outra. Alguns aprendem a lidar com seus pesadelos e
flashbacks sobre o que viram e fizeram quando estavam lá. Outros, no
entanto, não conseguem deixá-los para trás. Infelizmente para esses
homens e mulheres que não conseguem deixá-los para trás, o suicídio é
uma das maneiras que escolhem para lidar com a vida após a guerra”. (James Cogan ― ao World Socialist Web Site).
Parece-me que
ninguém, mesmo em guerra, pode matar impunemente. No fragor da luta no
campo de batalha, os soldados nem sequer imaginam o que acontecerá com
eles após a volta para casa. Na volta ao lar, o reconhecimento
representado pelos discursos solenes de elogios, a emoção pelo
recebimento das medalhas e seus efeitos, duram pouco, duram até o
aparecimento dos sintomas do stress pós-traumático de guerra − situação
em que os ex-combatentes são tomados pela forte percepção de que as suas
vidas se transformaram em um intolerável e pesado vácuo.
P.S.:
No vídeo
abaixo, o enorme peso de uma emoção que vai além das palavras, está
presente no depoimento de um veterano marcado na alma pela insana
guerra do Iraque:
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