O vocábulo “decepção” deriva-se do latim decepcione. Aurélio o define como 1. Malogro de uma esperança; desilusão, desengano, desapontamento. 2. Surpresa desagradável; desapontamento. 3. Contrariedade, desgosto.
A palavra “decepção” não aparece na Bíblia. No entanto, sua ideia está
presente em toda Escritura. O texto de 2Timóteo 4.16-18 é um dos
exemplos que passamos a considerar. Paulo diz: “Na minha primeira
defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto
não lhes seja posto em conta! Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de
forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente
cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do
leão. O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo
para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos.
Amém” (2Tm 4.16-18).
Por que nos decepcionamos tanto com as pessoas?
Basicamente porque o ser humano não é totalmente confiável. Por isso
você se decepciona com os outros; os outros se decepcionam com você e
você às vezes se decepciona consigo mesmo. Mas não é só. A decepção
acontece também porque somos carentes da atenção alheia. Somos seres
sociáveis por natureza. Não existimos para viver numa redoma ou ilha
deserta, isolados de todos e de tudo.
Ainda precisamos um do outro. E aí nos decepcionamos porque esperamos das pessoas mais do que elas podem nos oferecer.
A decepção é um fato. Uma realidade da qual não podemos fugir; porém, não precisamos conviver com ela.
O apóstolo Paulo era ser humano como qualquer um de nós. Tinha
sentimentos e por isso também se frustrava. Paulo disse: “Na minha
primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram”.
Paulo estava triste; muito triste. Sua experiência de abandono lembra um
pouco a história de Galileu.
O filósofo Bertrand Russell disse que se Isaac Newton tivesse enfrentado
um centésimo das dificuldades de Galileu, provavelmente não teria
escrito uma única linha. Galileu foi muito mais fustigado que Newton por
causa de sua coragem ao desafiar 1600 anos de crenças em falsas
teorias. O preço foi enfrentar sozinho a oposição dos seus
contemporâneos e uma pena de prisão domiciliar pelos tribunais
eclesiásticos.
Contudo, o que Paulo passou em sua vida supera em muito as lutas de
Galileu (Cf. 2Co 11.23-33). E o que Jesus passou? Não há palavras que
possam descrever com justiça os sofrimentos de nosso Senhor...
Como podemos vencer a decepção?
Ouso dizer que o único antídoto contra a decepção é o perdão. “Quem não
perdoa se mantém preso ao que o decepcionou”, disse alguém.
O ressentimento é um mal que mata aos poucos. Paulo sabia disso e por
isso tratou de se livrar da decepção que teve com seus amigos, dizendo:
“Que isto não lhes seja posto em conta!”. Para mim essa é uma das
declarações mais fantásticas da Bíblia. Quê revolução incomensurável
aconteceria em nossa vida se estivéssemos dispostos a fazer o mesmo! Se
não fôssemos tão arrogantes; tão cheios de si e duros de coração, nós
não nos decepcionaríamos com tanta frequência porque nos apressaríamos
logo em resolver nossos relacionamentos interpessoais malfadados.
“Que isto não lhes seja posto em conta!”. Ah! se fizéssemos como Paulo!
Geralmente os homens de coragem ficam sozinhos na defesa de suas
convicções. São deixados para trás quando mais precisam de apoio. Ficam
decepcionados porque contavam com aqueles que pareciam amigos de
verdade. Mas o que seria da humanidade se não fossem os homens e
mulheres que, desafiando o senso comum vigente, deram a cara à tapa por
um ideal, ainda que sozinhos?
Assim como Paulo, os discípulos de Jesus o abandonaram quando ele mais
precisou deles, a começar no Getsêmani. Não oraram com ele, não o
acompanharam de perto em seu julgamento e, salvo João, deixaram-no
sozinho na cruz. Ainda assim, ele os perdoou. Paulo sabia perdoar porque
aprendeu com o Mestre. E você?
Deus jamais decepciona
“Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças... e fui libertado da
boca do leão. O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me
levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos
séculos. Amém”. É possível perceber a euforia e entusiasmo do apóstolo
nessa declaração. E não é só. A declaração anterior, pedindo que Deus
não leve em conta o abandono de seus amigos, é entendida melhor agora, à
luz dessa declaração.
Paulo sabia que podia contar com Deus. Todos abandonaram o apóstolo,
menos o Senhor. Todos decepcionaram o servo do Senhor, porém, Deus
esteve ao lado dele, fazendo-o sentir sua presença de uma maneira
notável. Além disso, quando se compreende a direção de Deus na
adversidade, temos muito mais facilidade em perdoar. Foi assim com José
do Egito, Paulo, Jesus e tantos outros exemplos na Bíblia e fora dela.
Finalmente, o apóstolo tinha tanta confiança em Deus a ponto de afirmar
que não somente em sua primeira defesa, mas o que viesse daí por diante
estaria também sob os cuidados do Senhor. Do modo como Deus o
fortaleceu, Paulo se fortalece no Senhor para o presente e o futuro.
Reafirma no Senhor a certeza de que “nenhum ataque dos seus inimigos
subverterá sua fé ou sua coragem, ou leva-lo-á a cair em pecado
desastroso.”
Só se decepciona com Deus quem não conhece verdadeiramente a Deus.
Por Josivaldo de França Pereira ►
Fonte ► http://www.hospitaldalma.com